Construir um novo estádio para o Coritiba e imitar Atlético. As duas ideias polêmicas são defendidas pelo médico Alceni Guerra, novo integrante do G5 do Coxa, o grupo que administra o clube.
ENQUETE: quem vai vencer o Atletiba?
A sinceridade pode assustar, principalmente ao classificar o arquirrival como modelo, mas Guerra se mostra firme ao defender seu projeto para o Alviverde. “Temos que evitar a queda [no Brasileirão] para depois imitar o que o Atlético fez, que foi construir o melhor estádio do Brasil. Eles têm um grande CT, um grande time e temos que correr atrás ou ficaremos eternamente em segundo, sujeitos a perder a nossa importância”, crava ele, ex-ministro e um dos políticos mais influentes do estado nos anos 90.
PERFIL: conheça a história de Alceni Guerra
Guerra chega ao Alto da Glória com a fama de agregador. O primeiro objetivo é usar de sua vasta experiência política para apaziguar os ânimos nos bastidores do clube. Ele foi Ministro da Saúde e Ministro da Criança no governo de Fernando Collor. Também cumpriu dois mandatos como deputado federal e um como prefeito de Pato Branco. “Vi a crise tremenda que o clube vive, com dois vices renunciando e dois afastados. O Coritiba precisava da minha ajuda”, diz ele, integrado oficialmente ao G5 em 1º de setembro.
Confira a entrevista exclusiva de Alceni Guerra à Gazeta do Povo.
Como surgiu o convite para compor o G5 do Coritiba?
O convite veio reiteradas vezes nos últimos meses, mas sempre aleguei que não podia aceitar porque pretendia fazer um doutorado em 2016 e precisaria de alguns meses na Europa. Mas nessas últimas semanas, vi essa crise tremenda, com dois vices renunciando e dois se licenciando, e percebi que o presidente [Rogério] Bacellar estava precisando de ajuda e me ofereci para acalmar o ambiente.
Vamos ver se conseguimos isso, primeiro evitando a queda. Segundo, sem dúvida, imitando o que o Atlético fez, que foi construir o melhor estádio do Brasil. Eles têm um grande CT, um grande time e temos que correr atrás ou ficaremos eternamente em segundo, sujeitos a perder a importância.
Você não teme que essas comparações com o rival possam lhe causar um mal-estar já neste começo de trabalho no clube?
Claro que temo, mas é a única maneira. Sou médico e a única maneira de tratar um problema, uma doença ou enfermidade, é fazer um diagnóstico perfeito. Quando expomos que estamos atrás do Atlético, dói para o torcedor no começo. Mas se não tivermos esse diagnóstico, não tem jeito de aplicar o remédio correto.
Qual é o seu grau de ‘fanatismo’ pelo Coritiba?
O Coritiba sempre foi uma das minhas paixões. No momento está em grandes dificuldades, tanto no futebol, quanto na questão material. O nosso estádio não se compara ao do nosso rival. Outros clubes como Grêmio, Inter, Palmeiras e Corinthians construíram verdadeiras obras primas. Não podemos ficar para trás.
A construção de um novo estádio, então, se torna um dos principais objetivos do Coritiba?
Sim. Com autorização do presidente, estamos procurando grandes coxas-brancas que têm interesse em ajudar, como grandes construtores, ex-presidentes, sócios e conselheiros. Primeiro, temos que fazer um planejamento. Olhar o nosso estádio, que tem sérios problemas de infraestrutura, pensar numa localização, que é um grande desafio. O Couto é cheio de problemas de mobilidade urbana, de acesso. Temos que ver tudo isso num momento em que temos algumas ajudas, como um prefeito coxa-branca, um governador que tem simpatia pelo futebol, temos gente do conselho ligada ao Ministério do Esporte. Precisamos traçar um planejamento nesse ano e executar a partir do ano que vem.
Vários projetos de estádio surgiram nos últimos anos, inclusive gerando chacota por parte dos torcedores rivais. O que fazer para que isso não se repita?
Temos hoje uma realidade crua e dolorosa. De repente, o nosso maior rival tem o melhor estádio do Brasil. Temos que ir atrás ou perdemos o bonde. Como fazer? Vamos pedir um tempo para desenvolver o projeto, para que não seja algo impossível de executar. Vamos ver para quem a gente pode pedir ajuda para arrolar esse projeto, construir e depois presentear aos sócios. Muitas vezes se tentou propor uma solução sem a profundidade de um planejamento. Vamos aprofundar e ver se não ficamos eternamente em segundo lugar. Hoje essa é a realidade.
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Primeiro é ficar na Série A. Se eu não pensasse nisso, estaria relevando a segundo plano o nosso bem mais importante, que é a torcida do Coritiba. Temos mais de 1 milhão de torcedores na grande Curitiba e precisamos cuidar disso. Primeiro, evitar a queda e depois reconstruir o time no ponto de vista patrimonial.
Temos que imitar quem tem sucesso. Palmeiras chegou aos 100 mil sócios, Internacional aos 122 mil, Grêmio mais de 100 mil, Flamengo quase isso. Temos que traçar metas. Temos hoje 25 mil. Vou propor no curto prazo 50 mil sócios, depois podemos ir a 60, 70 e ir subindo sempre para que possamos montar grandes times.
O senhor acredita que o Coritiba consegue se livrar do rebaixamento?
Temos um técnico especial. Tem histórico no Coritiba, completou 100 jogos e gosta muito do clube e da cidade. Ele resgatou a identidade do time com a torcida no momento em que promove jogadores das categorias de base. Jogadores que tem condição de tirar o time dessa situação. Ele garante que vamos sair. Estamos no caminho certo.
Como você vê o presidente Bacellar hoje?
Percebi ele altivo, com a cabeça erguida. Esta momentaneamente abatido pela perda significativa que ele teve [a mãe do presidente morreu no dia 2], mas está firme, mostrando uma liderança que precisamos ter. Ele está muito empenhado.
O senhor é tio do Ricardo Guerra, que deixou o clube após renunciar. Chegou a conversar com ele sobre o assunto, os porquês e sobre o trabalho em si?
Conversei com ele um tempo atrás. Eu disse que tinha sido convidado e tinha aceito. Depois não conversamos mais. É importante ouvir quem passou por ali para saber o que eles têm a dizer. Aliás, pedi ao clube para conversar com o André [Macias] e o Pierre [Boulos], já falei com o Pedroso e ainda quero falar com meu sobrinho para termos um bom diagnóstico da situação.
O que o Pedroso lhe disse?
Ele me incentivou muito. Deu muita força e se colocou à disposição para ajudar. Essa função de pacificador incluir ouvir todos os lados. São todos maduros e têm suas razões e motivos, queixas e elogios. Preciso pegar tudo isso para construir um bom ambiente.