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Luccas Claro é um dos atletas criados no Coritiba: clube aposta na base para recuperar as finanças | Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Luccas Claro é um dos atletas criados no Coritiba: clube aposta na base para recuperar as finanças| Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Clubes de "aluguel"

Além da nova determinação sobre os fundos, a Fifa prometeu vigilância e punição aos clubes de "aluguel", equipes sem expressão, controladas por empresários, que funcionam como entreposto para a negociação de atletas. A entidade está atenta às transferências que aparentem não possuir qualquer aspecto "esportivo".

O futebol brasileiro enfrenta tempos de grave crise financeira. Má gestão, salários e transferências de valores irreais, fuga de patrocinadores, entre outras causas, construíram um cenário de incertezas e arrocho geral.

Situação agravada por uma nova determinação da Fifa, revelada em setembro do ano passado. Na ocasião, a entidade anunciou a proibição de empresários e fundos de investimento possuírem direitos econômicos de jogadores.

Nos dias atuais, pelo menos 80% dos contratos no país possuem participação de terceiros. "É a decisão mais forte da Fifa desde o fim do passe em 2001. O impacto é fortíssimo", diz Eduardo Carlezzo, advogado especialista em Direito Esportivo.

Tal conjuntura forçou os clubes a buscarem novas alternativas. Desde aproveitar os últimos dias de entrada de capital de terceiros, passando por focar a injeção de recursos nas categorias de base e, principalmente, conter os gastos.

O Atlético aproveitou o final do ano passado para negociar ainda com os fundos de investimento. Vendeu parte dos direitos econômicos dos atacantes Douglas Coutinho (70%) e Marcelo (50%) para o Doyen Group, de Malta, e faturou cerca de R$ 28 milhões.

"Neste ano, com a mudança da regra pela Fifa, já vemos menos contratações com participação dos fundos. Esse dinheiro desapareceu, ninguém vai colocar dinheiro em jogador com tão pouco tempo para recuperar", analisa Carlezzo.

Sem jovens revelações para buscar socorro no mercado, Coritiba e Paraná adotaram estratégias conservadoras. "Nós estamos pensamos em várias opções para reverter a atual situação do futebol brasileiro e o momento do Coxa", afirma Ricardo Guerra, um dos vice-presidentes do clube.

O Alviverde baseia-se em três elementos para incrementar as receitas. O primeiro é a contenção de despesas. Da virada do ano para cá, o Coritiba liberou mais de um time inteiro, o que representou uma economia de aproximadamente R$ 1 milhão ao mês – só o salário de Alex, aposentado, era de R$ 350 mil.

Outro caminho para capitalizar é uma revisão geral dos planos de sócios, em busca de 40 mil fiéis torcedores. O quadro atual, de cerca de 20 mil, representou uma receita de mais de R$ 20 milhões em 2014.

O plano de recuperação é fechado com o foco voltado para as categorias de base. "O Coritiba precisa voltar a ser um clube formador. Ter boa parte de sua equipe formada por jogadores da casa. É o que vai nos sustentar no futuro", aponta Guerra.

Na Vila Capanema, o aperto é ainda maior. Caminhando para o oitavo ano na Segunda Divisão do Brasileiro, período em que virou rotina o atraso de salários no clube, o Paraná prega uma reformulação no futebol brasileiro para evitar uma falência geral.

"É preciso parar tudo e repensar. O que se paga hoje aos jogadores é uma exorbitância, algo fora da realidade. Sou favorável até que pense em uma intervenção nessa questão dos salários", afirma Rubens Bohlen, presidente paranista.

Enquanto isso, o Tricolor também decidiu apostar em um time mais econômico para a temporada. "Estamos com o grupo praticamente montado, dentro das nossas condições financeiras", aponta Bohlen.

O Paraná conta hoje com o suporte da Atletas Brasileiros S/A, grupo de investidores que detém direitos econômicos de diversos jogadores do clube – a empresa é a sócia majoritária. Parceria que, com a nova determinação da Fifa, deixará de existir no futuro.

"Precisamos fortalecer as categorias de base, uma saída para todos os clubes. Mas primeiro vamos ter cautela, sentir como o mercado vai reagir daqui para frente", comenta o presidente paranista.

Restrições da Fifa dividem opiniões de especialistas

Revelada em setembro do ano passado, a nova determinação da Fifa que barra a participação dos fundos de investimentos nos direitos econômicos de jogadores, divide opiniões. De certo, apenas que a medida deve revolucionar o futebol mundial.

"Acredito que no médio e longo prazo o efeito será positivo. Sem a interferência de nenhum outro terceiro na transferência, os clubes terão de aprender a gerir os seus recursos", afirma Eduardo Carlezzo, advogado especialista em Direito Esportivo.

Atualmente, há uma infinidade de fundos de investimentos atuando no mercado da bola. No Brasil, os mais conhecidos são o DIS (do supermercado Sonda), a Traffic e o banco BMG. Grupos que compram parte dos direitos de atletas e negociam com os clubes.

A atuação deles tem data para acabar – pelo menos, da forma como funciona nos dias de hoje. Os contratos firmados até 2014 valerão normalmente. Desde 1º de janeiro, entretanto, os fundos só podem participar de novos acertos com um ano de duração. E a partir de 1º de maio, estão fora da jogada.

Principal empresário brasileiro, Wagner Ribeiro vê um cenário negativo.

"Foi uma medida muito ruim para o futebol. Os clubes brasileiros vão competir com muito mais dificuldade com os estrangeiros", diz o agente.

Para Ribeiro, os fundos vão encontrar uma forma de seguir atuando, comprando clubes, por exemplo. "É o que deve ocorrer. Grupos e grandes empresários milionários vão ser donos de clubes, algo que já acontece bastante na Europa e que no Brasil ainda é visto com certa resistência. Mas é um caminho para a sobrevivência dos fundos", aponta. (AP)

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