Dirceu Krüger, 70 anos, ainda custa a acreditar.
Às vésperas da inauguração de sua estátua no Couto Pereira, o ídolo coxa-branca tem passado em frente à obra com frequência. Ele deixa seu escritório no estádio, onde trabalha como supervisor técnico das categorias de base, desce as escadas que dão para o estacionamento, e observa com ansiedade o local onde será homenageado – e imortalizado na história do clube – na próxima quarta-feira (24), às 19 horas. Nesta data, o Flecha Loira completará oficialmente 50 anos dentro do Coritiba.
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“Eu passo ali obrigado porque é meu caminho. Mas paro e fico imaginando como é que vai ser. Não vejo a hora de chegar quarta-feira”, revela Krüger, que em cinco décadas dentro do clube já exerceu praticamente todas as funções relacionadas ao futebol. Como atleta, entre 1966 e 1975, conquistou sete títulos estaduais e um Torneio do Povo.
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A imortalização em 200 kg de bronze só vai acontecer por causa da torcida – e boa parte dela sequer era nascida quando o ponta de lança voava em campo. O empresário Gabriel Zornig, 29, por exemplo, apenas ouviu seu pai contar sobre os feitos do ídolo. Isso não o impediu de ser um dos idealizadores da campanha que levantou aproximadamente de R$ 200 mil para transformar o sonho da estátua em realidade.
A maior parte do dinheiro (R$ 161 mil) foi arrecadada com um financiamento coletivo na internet. Havia oito opções de doações, entre R$ 20 e R$ 5 mil, e quem participasse recebia um prêmio de acordo com o nível da contribuição. O custo total do projeto foi de cerca de R$ 191 mil e o valor excedente será doado diretamente às categorias de base alviverdes.
“Me sinto lisonjeado. Já chorei o que tinha para chorar. Vamos ver seu vou aguentar”
“É um presentão, claro. Poucos jogadores são reconhecidos em estátua. Mas por tudo que o Krüger representa é difícil medir se vamos conseguir retribuir tudo que ele fez. Vamos tentar chegar perto”, promete Zornig.
“É um agradecimento por tudo que ele já fez, pelo que jogou, pelos jogadores que formou. Espero que a estátua represente um pouco do que ele representa para nós... Que os meninos da base vejam e queriam ser igual a ele”, espera a advogada Marianna Libano, 26, que participa da organização do grupo ‘Estátua Krüger’ desde o início.
O cerimonial da festa desta quarta prevê a entrega do novo patrimônio ao clube e uma breve homenagem. Além disso, a torcida organizada Império Alviverde fará um mini Green Hell e levará a bateria para animar o desvelar da escultura. A praça que faz parte do projeto, porém, estará pronta somente em abril.
Depois de muito esforço da torcida para atingir a meta – na primeira semana de janeiro somente 30% do montante tinha sido levantado –, Krüger promete tentar segurar o choro em um dos dias mais felizes de sua vida.
Tarefa que a lenda coxa-branca dificilmente vai conseguir cumprir. “Me sinto lisonjeado. Já chorei o que tinha para chorar. Vamos ver seu vou aguentar”, diz o Flecha, que considera o Couto Pereira sua segunda casa. “Agora vou estar lá dia e noite”, vibra.
Escultor fez estátuas de ídolos do Botafogo no Engenhão
O escultor carioca Edgar Duvivier tem experiência em fazer estátuas de jogadores de futebol. Entre suas obras, por exemplo, estão as imagens de Garricha, Jairzinho, Nilton Santos e Zagallo, todas localizadas no Estádio Engenhão, no Rio. Mesmo assim, o artista admite que não tem muita intimidade com o esporte.
Há dois anos, quando foi contatado pela primeira vez sobre a possibilidade de imortalizar Dirceu Krüger, porém, o nome não lhe era totalmente estranho.
“Uma vez, conversando com o Paulo César Vasconcellos [comentarista do SporTV], ele falou de uma dupla de jogadores que veio de Curitiba [Washington e Assis]. Mas disse que o melhor de todos mesmo era o Krüger”, conta Duvivier, pouco antes de soltar a estátua de 200 kg na base redonda de bronze com o nome do craque alviverde. Em cima do pedestal, a obra deve alcançar 1,85 metros de altura.
O escultor foi à internet para achar fotos de Krüger – a escolhida foi a comemoração clássica de um gol. Durante as buscas, também aprendeu sobre a relação de 50 anos do ex-jogador com o Coxa. “Fiz uma certa pesquisa. Ele tem um trabalho legal no clube, não só como jogador”, ressalta.
No trabalho de criação, Duvivier primeiro fez uma maquete de 30 cm, aprovada pelos torcedores que fizeram a encomenda. Alguns detalhes, como o número oito nas costas e o símbolo antigo do clube foram adicionados.
Depois, fez o molde de barro em tamanho real, preenchido com cera. O material é levado ao forno, em um processo chamado de cera perdida. Na sequência, uma liga de bronze substitui a cera. Uma semana depois, após esfriar, a estátua começa a aparecer após a quebra da ‘casca’ de barro. Por último, vem o trabalho de polimento e detalhes finais.
“Tenho certeza que o Krüger vai gostar do resultado. Uma homenagem em vida assim é muito especial”.