Pesos de Roth e Paixão ditam a ambição em 2014

Grife e gestão forte de vestiário dão o tom da era Celso Roth, que começa hoje, no Couto Pereira. Substituto do emergente Dado Cavalcanti, o experiente gaúcho de 56 anos é o ponto central de uma revolução no comando do futebol alviverde. Transformação que tem na origem os dois fatos mais marcantes do ano no Coritiba: a eliminação na semifinal do estadual e o vazamento da carta dos jogadores contra o presidente Vilson Ribeiro de Andrade.

A contratação de Roth começou a ganhar corpo na terça-feira passada, em um contato telefônico entre ele e Andrade. Àquela altura, dois outros treinadores dividiam a preferência do dirigente coxa-branca: Ney Franco e Vagner Mancini.

Primeiro técnico de Andrade no clube, em 2010, Ney tinha contra si o contrato vigente com o Vitória. A perda do título estadual para o Bahia custaria o seu emprego. O título, porém, manteria Ney fiel ao princípio de cumprir contratos até o fim. O Coritiba teria de esperar até a próxima semana e ainda correria o risco de ficar sem o treinador. A negociação morreu ali.

Mancini está desempregado. A seu favor, ter transformado um elenco atleticano no qual poucos confiavam em finalista da Copa do Brasil e terceiro colocado no Brasileiro do ano passado. Trabalho acima da expectativa, mas que não tirava totalmente dele o rótulo de emergente. O Coritiba buscava mais peso. O nome era Roth.

"Na casa do senhor, presidente? Aí eu vou ter de respeitá-lo", brincou Roth, ao ser chamado para um café na casa do dirigente, quinta pela manhã. "É exatamente o que eu quero", devolveu Andrade, no mesmo tom.

Jogando literalmente em casa, o dirigente convenceu o gaúcho a puxar um pouco para baixo a pedida salarial. A justificativa: exceto Luiz Felipe Scolari, Muricy Ramalho e Mano Menezes, ser técnico caro hoje, no Brasil, é sinônimo de desemprego. O pacote Celso Roth, com o auxiliar Beto Ferreira e o preparador físico Paulo Paixão, custará ao Coritiba R$ 300 mil por mês. É o dobro do custo de Dado Cavalcanti.

Para encurtar a diferença entre o acertado e os cerca de R$ 400 mil pedidos no fim do ano passado, Roth receberá premiações por objetivo. Cada fase vencida na Copa do Brasil e ficar na zona de Libertadores do Brasileiro representarão um bônus adicional. O dinheiro virá da própria premiação das competições, em uma lógica que vale também para o elenco.

Solidários a Roth na premiação, os jogadores entrarão, a partir de hoje, em um vestiário com mais currículo. Na avaliação da diretoria, o treinador e Paulo Paixão, preparador físico da seleção brasileira, passarão a mensagem clara de uma ambição maior do clube. Pelo seu passado – um campeão mundial de clubes, outro de seleções –, impõem um respeito natural. O mesmo vale para o gerente de futebol Anderson Barros.

O vazamento da carta dos jogadores, no fim de fevereiro, foi visto na alta direção como algo que poderia ser evitado. Uma melhor gestão de vestiário abafaria a carta e faria com que todo o problema fosse discutido internamente, sem desgaste para a imagem do Coritiba.

O mesmo peso para abafar eventuais crises deve servir também para atrair reforços. As prioridades do Coxa são um lateral-direito, um zagueiro, um primeiro volante e um atacante de referência. Dependendo da avaliação que Roth fizer do elenco, a lista vai aumentar. O clube tem consciência de que será mais caro se reforçar para este Brasileiro por causa do nível de exigência do novo comandante. Na mesma linha, a previsão é de atrair grandes jogadores com maior facilidade.

"É como o cara ir jogar no Flamengo: vai pelo nome. O jogador vê o Celso, o Paixão da seleção brasileira. Entende que é um clube que pode levá-lo mais alto", aposta Andrade.