Superar a desconfiança financeira e esportiva quanto à sua negociação será um desafio familiar para Gareth Bale. Na infância, em Gales, a facilidade com que ele driblava os meninos da escola fez seu professor criar uma versão alternativa do futebol. Um jogo em que Bale só poderia ficar em uma faixa restrita do campo e dar apenas toques com a perna direita. O próprio jogador reconhece que a aborrecedora experiência permitiu-lhe desenvolver habilidade nas duas pernas, um elemento vital de seu jogo junto com a velocidade inata. Aos 14 anos, ele corria os 100 metros rasos em 11,4 segundos.

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Aos 15 anos, já integrado ao Southampton, esteve a 90 minutos de ser dispensado. O chefe da academia do clube inglês viajou para assistir um jogo seu e decidir se valia a pena bancar a bolsa de estudos que manteria Bale no time.

"Havia dúvidas sobre ele entre os técnicos do Southampton. Estávamos indecisos quanto a dar-lhe a bolsa de estudos e viajei para um jogo em Norwich somente para tomar essa decisão. Foi sua estreia no sub-18 e ele nos convenceu de que merecia ficar", contou Malcom Elias à revista Four-Four-Two, em 2007.

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Dois anos depois, já no Tottenham, foi Harry Redknapp quem esteve a ponto de dispensá-lo. O péssimo rendimento fez Alex Ferguson, técnico do Manchester United, passar a mão no telefone e perguntar a Redknapp se ele estava maluco em manter um jogador que parecia amaldiçoado. O Birmingham chegou a formalizar uma proposta de 3 milhões de libras por ele, em janeiro de 2010.

Redknapp desistiu do negócio em cima da hora, mas ainda precisou esperar um semestre inteiro para ver Bale brilhar. Ainda na lateral-esquerda, o galês entrou no radar do futebol mundial ao marcar cinco gols no duelo com a Internazionale, pelo mata-mata da Liga dos Campeões 2010/2011. "Táxi para Maicon" foi o grito improvisado pela torcida do Tottenham para resumir a dificuldade do lateral brasileiro em acompanhar Bale.

A partir dali, Bale decolou. Com André Villas-Boas, fixou-se no meio de campo dos Spurs, aberto pela esquerda. Jogando nessa função, acabou eleito o melhor jogador da última Premier League e transformou-se em um Picasso aos olhos de Florentino Pérez. Para manter a evolução no Real terá, antes de mais nada, de esquecer que é o jogador mais caro da história.

"A maior dificuldade deverá ser a sobrevivência no mesmo time, no mesmo ataque que tem Cristiano Ronaldo. Quem terá prioridade? A ciumeira poderá ser um problema", diz Mauro Cézar Pereira, comentarista dos canais ESPN, que sugere um caminho: "Primeiro convencer Bale de que o português é o astro da companhia, não importa quanto ele custou. Será difícil, creio. Depois, definir uma faixa de campo para o galês e outra para Cristiano Ronaldo. Mas sempre deixando claro que a estrela número 1 é o gajo, Bale será a estrela 1 e meio…"

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