Futebol brasileiro precisa voltar a investir na base
Para que a situação do futebol nacional melhore, e por consequência os clubes europeus passem a olhar o Brasil como fonte de bons jogadores novamente, é preciso trabalhar com as categorias de base. Após a decepcionante campanha na Copa do Mundo, a CBF, em conjunto com o técnico Alexandre Gallo, prometeu dar mais atenção para a formação de atletas.
Mesmo entendendo que a nova safra de atletas tenha futuro, Arcuri mantém os pés no chão e espera que os jogadores evoluam da melhor maneira possível. "O Brasil sempre foi um grande revelador de jogadores e os europeus sempre se voltaram ao mercado brasileiro. Estamos passando por período de entressafra. Cada vez se revela menos porque o mercado europeu aprendeu a se antecipar, contratar os brasileiros cada vez mais cedo, já que é mais barato tirá-los daqui ainda quando jovens".
Acostumado a revelar grandes jogadores ao futebol mundial, o Brasil não teve o mesmo destaque na última janela de transferências internacionais. Se em outros mercados de transferências jogadores como Neymar e Lucas estrelavam a lista de principais contratações, atualmente os atletas que atuam em times nacionais não estiveram em evidência e as poucas vendas de clubes brasileiros para a Europa se resumiram em valores baixos e de atletas sem grande renome.
Por mais que a venda do zagueiro Dória, do Botafogo ao Olympique de Marselha, tenha sido a mais alta (R$ 30 milhões), a negociação que mais chamou a atenção foi a saída do lateral Douglas, do São Paulo, rumo ao Barcelona. O jogador, que foi contratado por R$ 12 milhões, era alvo constante de críticas da torcida são-paulina, mas mesmo assim se transferiu para uma das grandes equipes do futebol mundial.
Empresário de atletas como Jucilei e William José, Nick Arcuri acredita que os clubes da Europa passaram a olhar mais para o seu próprio continente. "Existe muita oferta dentro do próprio mercado europeu. Os clubes preferem correr menos risco. Hoje no Brasil são poucas as oportunidades de contratar jogadores e eles também priorizam o mercado europeu por causa da adaptação e dentro do Brasil também não está barato. O preço dos jogadores inflacionou muito nos últimos anos".
Já o também agente Fernando Garcia avalia que o problema está na formação dos atletas no Brasil. "As bases são menosprezadas. Os clubes gastam milhões investindo em categorias de base, mas não lançam jogador. O treinador no Brasil tem medo de escalar o jovem e prefere apostar em jogadores mais velhos, que não tem mercado. Tem que mudar a mentalidade", disse.
O suposto baixo nível do futebol nacional apresentado nos últimos anos fez com que os grandes clubes deixassem de olhar com mais atenção para o cenário nacional. Além dos já citados, contratações mais modestas como Anderson Talisca, que saiu do Bahia rumo ao Benfica, Guilherme, que foi à Udinese após acertar sua saída do Corinthians, e o jovem lateral Wendell, que após seis meses de destaque no Grêmio, foi vendido ao Bayer Leverkusen, marcaram a conexão Brasil-Europa nesta janela.
Titular do Corinthians após a saída de Paulo André, Cleber se destacou e foi vendido ao Hamburgo, da Alemanha, por 2 milhões de euros (R$ 6 milhões). Para Fernando Garcia que é agente do zagueiro, além de se destacar em campo, o jogador que pretende ir para a Europa deve apresentar bons números. "O que importa para os clubes da Europa na hora de contratar é o scout do jogador. Se ele acerta passes, faz desarmes, é isso que é mais importante. O próprio Cleber. Com ele em campo, o Corinthians jogou 18 vezes e tomou 7 gols. Sem ele, foram 6 em 4 jogos."
Mesmo assim, o último dia da janela de transferências ainda proporcionou algumas emoções a clubes brasileiros. Após perder Falcao García e James Rodríguez na mesma janela, o Monaco consultou o Cruzeiro e fez propostas por Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro, principais destaques do líder do Campeonato Brasileiro. Após as recusas, Garcia elogiou o diretor de futebol da equipe mineira, Alexandre Mattos. "O Alexandre sabe a hora certa de vender. Ele não pode se livrar de um jogador antes dele valorizar. Se o jogador dele vale 15, não pode vender por 5. Ele trabalha com responsabilidade."
Confira a lista com os principais jogadores que saíram do Brasil rumo à Europa nesta última janela:
Dória - Botafogo - Olympique de Marselha
Douglas - São Paulo - Barcelona
Cleber - Corinthians - Hamburgo
Abner - Coritiba - Real Madrid Castilla
Victor Andrade - Santos - Benfica
Bruno Peres - Santos - Torino
Wendell - Grêmio - Bayer Leverkusen
Guilherme - Corinthians - Udinese
Talisca - Bahia - Benfica
William Matheus - Palmeiras - Toulouse
Octávio - Botafogo - Fiorentina
Lee - Atlético-MG - Académica
Caio Rangel - Flamengo - Cagliari
Otávio - Internacional - Porto
Lucas Evangelista - São Paulo - Udinese
Alef - Ponte Preta - Olympique de Marselha
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