“O meu primeiro presente de Natal foi um par de chuteiras que meu pai me deu. Hoje revejo o passado, penso na minha história e percebo que realizei um sonho juvenil”, diz Carneiro Neto, 67 anos, 50 de jornalismo esportivo, completados em 2015, 30 deles na Gazeta do Povo.
Se o sonho não foi realizado nos gramados, o garoto nascido em Wenceslau Braz, no Norte do estado, atingiu a realização a partir de outra paixão: a comunicação. Desde criança era fissurado nas transmissões futebolísticas, revistas sobre o esporte e nas raras imagens das partidas exibidas no cinema.
Cinco décadas depois, a carreira de Antônio Carlos Carneiro Neto fala por si. No rádio começou como plantão, foi repórter, narrador, chefe, comentarista e diretor de vários prefixos. Além da Gazeta, escreveu para o Jornal do Estado, Diário de Notícias, Tribuna, Estado do Paraná e outros. Atuou em diversas emissoras de tevê. E ainda escreveu seis livros.
FOTOS: veja alguns momentos marcantes da carreira de Carneiro Neto
“Versatilidade é uma das minhas marcas, sou tipo Bombril, mil e uma utilidades. Sempre me considerei trabalhador, profissional, operário do jornalismo”, comenta ele, que arranjou espaço ainda para ser publicitário e formar-se em Direito.
Carneiro tem dificuldades para eleger as melhores passagens, os grandes jogos irradiados. “Sempre tratei todos os compromissos como algo único. Nunca perdi um gol na narração, não errava o nome dos jogadores, mesmo no Pinheirão à noite com neblina. Sempre empreguei seriedade máxima”, diz.
“As pessoas me encontram na rua e enxergam uma bola de futebol na minha cabeça. Querem saber a minha opinião sobre tudo, me chamam de professor”
Desde 2011, Carneiro não frequenta os estádios – viu ao vivo apenas duas partidas da Copa, na Baixada, como convidado. Também não aprecia mais o futebol como antigamente. “Acompanho pela tevê, principalmente Atlético, Coritiba e Paraná para escrever minhas colunas. E não perco a Liga dos Campeões. A fase das seleções está acabando, o futebol empobreceu e, como vemos, virou caso de polícia”.
Distante do rádio e da televisão, Carneiro promete não abandonar o texto. Considera as colunas da Gazeta seu “xodó”. Em três décadas de atividade, publicou cerca de 15 mil crônicas.
Carneiro acorda cedo todos os dias. Lê o jornal e seleciona algum assunto. E com chuva ou sol segue rumo ao Parque Barigui. Por lá, enquanto caminha, aproveita para refletir sobre a questão. Volta para casa, toma banho, senta diante do notebook (antes redigia em uma máquina Olivetti portátil) e em 30 minutos a coluna está pronta. “Todo mundo tem suas manias... E mando de uma vez, para não querer mudar alguma coisa a cada releitura.”
Ao longo do tempo, Carneiro foi criando um estilo próprio. Quando considera adequado, gosta de relacionar o tema com algum fato histórico, filme, livro etc – já foi chamado de “enciclopédico”. E, melhor ainda, tratar sempre com bom humor (criou os Efabulativos, passagens engraçadas do esporte) e marcar posição, algo que considera fundamental em qualquer abordagem.
“As pessoas me encontram na rua e enxergam uma bola de futebol na minha cabeça. Querem saber a minha opinião sobre tudo, me chamam de professor, e eu me esforço para responder. Sempre com isenção”, afirma.
Carneiro Neto escreve há 30 anos na Gazeta do Povo. Neste período, já foram cerca de 15 mil crônicas publicadas .
Mais livre do que na época de workaholic esportivo, o cronista ocupa os dias com o cinema – sua outra adoração, já chegou a ter em casa mais de mil títulos em VHS, DVD etc –, leitura e viagens ao lado da esposa Rejane, com quem é casado há 37 anos, sem filhos. Administra também um cartório em Ponta Grossa.
“Nunca perdi um gol na narração, não errava o nome dos jogadores –mesmo no Pinheirão à noite com neblina. Sempre tive seriedade, até em jogo de pelada”
Entre os benefícios do afastamento gradual dos estádios, um deles parece banal. Carneiro ganhou a chance de almoçar no domingo, como qualquer um. “Antes não tinha como. Era preciso chegar cedo ao estádio. Então eu fazia um breakfast reforçado e depois só jantava, tarde da noite. Hoje posso comer tranquilo, e é algo que eu gosto muito. E tomar meu uisquezinho também”.
Criador de diversos bordões, Carneiro recorre ao mais famoso deles para resumir os seus 50 anos de jornalismo. Um slogan que surgiu após um gol de Tião Abatiá, pelo Coritiba, em 1971, contra o Santos de Pelé. Impressionado pela reação da torcida no Couto Pereira, soltou: É disso que o povo gosta . “Eu criei de uma forma automática, foi algo que veio, sem pensar, da mesma forma que o ‘foi um privilégio ter estado com vocês’ . Se eu completei 50 anos como jornalista espor tivo, posso imaginar que é porque o povo gosta, não?”, finaliza.
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