Quando o goleiro paranaense Vagner Silva, de 29 anos, acertou sua transferência do Estoril, de Portugal, para o Royal Mouscron-Péruwelz, da Bélgica, no início de 2016, deixou toda a negociação contratual nas mãos da advogada curitibana Beatriz Toledo, de 28 anos.
Foi ela quem analisou a proposta e pediu, por exemplo, a inclusão de cláusulas que beneficiassem o arqueiro, como passagens aéreas extras para a família. Situação normal no meio do futebol, não fosse a relação entre os dois: casados há três anos.
“Em Portugal, cheguei a negociar salários, forma de pagamento. Sugeri também abrir uma empresa no Brasil para receber uma parte por lá e diminuir o imposto”, conta Beatriz, que cursou uma pós-graduação em Direito Internacional do Comércio, com módulo focado no esporte.
A relação entre Beatriz e Vagner ainda é rara no mundo da bola, mas não é única. No caso do atacante Edivaldo Bolívia, de 30 anos, nascido em Cuiabá e naturalizado boliviano, a esposa Cibele Duarte Hermoza, de 34, também tem papel fundamental na carreira do camisa 11 do Jorge Wilstermann. A curitibana é a responsável por administrar os ganhos do marido e fazer o dinheiro render.
“No meu casamento sou eu quem cuida das contas, verifico os investimentos, procuro imóveis para comprar e alugar. Vou atrás, trago os preços, contrato, tudo pronto para o Edivaldo. Dou meu parecer e, se ele concordar, assina”, conta a mãe de Alicia, de 8 anos, e Maitê, de 3.
Negociei salários, forma de pagamento. Sugeri também abrir uma empresa no Brasil para diminuir imposto
Para a psicóloga do esporte Camile Pasqualotto, mulher do treinador do Grêmio, Roger Machado, a influência cada vez maior das esposas deve se tornar uma tendência. Em 2008, ela produziu uma monografia na qual defende que ser esposa de jogador de futebol é uma profissão.
“Alguns jogadores faturam mais do que uma grande empresa e não têm estrutura para administrar contratos, a parte financeira”, observa. “A imagem que se têm de mulher de jogador é daquela que espera em casa com a janta pronta, cuidando dos filhos, ou que vive na academia e no shopping. Mas não, a mulher tem de estar preparada”, opina Camile, que também estudou administração e hoje tem sua própria empresa.
Além do foco na carreira dos maridos, as esposas também não fogem da rotina de cuidados com a casa e filhos. Neste caso, entender de futebol fica em segundo plano. “Eles [jogadores] precisam de paz. Sou eu quem cuida de todo o resto”, afirma Cibele, que já morou, além de Brasil e Bolívia, na Tailândia, Japão e Portugal.
“As pessoas não têm noção do quão estressante é a vida de atleta. Eu deixo ele focar em futebol e puxo as responsabilidades para mim. Como não estou trabalhando, o dinheiro dele também é meu. Temos de programar o futuro”, resume Beatriz, mãe da Isadora, de 1 ano.
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