Em meio às homenagens aos 71 mortos no acidente aéreo que vitimou o time da Chapecoense, uma menina chamava atenção por conduzir um cartaz em que pedia força aos quatro sobreviventes da tragédia. Em suas mãos, Clara Tomais, de 8 anos, carregava o nome de Hélio Zampier Neto, zagueiro da Chape e último sobrevivente a ser resgatado em Medellín.
A mãe de Clara, Gilvane Tomais garantiu que a ideia dos cartazes foi a própria Clara, que tinha com Neto uma amizade que começou a exatamente um ano atrás, no dia de aniversário dela. “Eles precisam de nós agora”, diz Clara.
Nesta quinta-feira (1) Clara completou 8 anos e, no ano passado, veio à Arena Condá assistir a um treino do time com a mãe. Chamou o nome do zagueiro Neto e pediu uma foto, já que estava fazendo aniversário. “Na hora ele a chamou e disse que tinha comprado uma boneca para uma criança que nunca tinha voltado para buscar. Disse que aquela Barbie era pra ser dela”.
Desde então, a família, que, nas palavras de Gilvane, vive a Chapecoense, tinha contato quase que diário com o zagueiro. “Ele chamava ela de lindona. Ela gritava da arquibancada e ele sabia que era ela”, conta.
No último jogo da Chapecoense na Arena Condá contra o San Lorenzo, que classificou o clube para a final da Sul-Americana, Neto deu à Clara uma camiseta da Chape com o nome dela e com o número quatro, que era usado por ele. “Ela dormiu abraçada com a camisa, de tão feliz que estava”, diz.
Quando souberam da tragédia, a família de Clara só soube ajoelhar e rezar pela saúde de todos. A cada confirmação e a cada aumento no número de mortos, o choro era inevitável. “Cada um era um filho, um irmão. A Chapecoense não era só um time. Era uma família”, conta Gilvane.
A notícia de que Neto estava vivo foi comemorada por Clara como se a Chape tivesse ficado campeã da Sul-Americana.
A menina faria uma festa de comemoração dez dias depois da data do seu aniversário para que os jogadores da equipe pudessem comparecer, no dia 11 de dezembro, após a finalização do Campeonato Brasileiro. “Eu vinha trazer os convites para todos eles irem na minha festa. Agora, a festa vai ser mais simples”, diz a pequena Clara.
Jogo mais difícil
A sorridente Clara se sente em casa da Arena Condá e encontrou paz na tragédia. “Eles fizeram a parte deles. Deus tinha um jogo muito difícil lá no céu, por isso levou os melhores jogadores, o melhor time. A Chape era o melhor time que ele poderia ter”, afirma a menina.
Sobre a expectativa da recuperação do amigo Neto, ela não tem dúvidas. “Ele me prometeu que me levaria no cinema quando voltasse, em comemoração ao meu aniversário. Ele não vai esquecer disso, ele vai ficar bem”, espera.
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