A Justiça norte-americana intimou o Citibank a prestar esclarecimentos diante dos indícios revelados pela investigação do FBI que apontam que o banco era usado pelo brasileiro J. Hawilla para distribuir milhões de dólares em propinas para dirigentes sul-americanos. A intimação não significa necessariamente que o banco será denunciado. Mas revela que as investigações sobre a corrupção no futebol foram ampliadas e entram em uma nova fase: a de traçar a rota do dinheiro.
Diversas instituições, como o HSBC e o Barclays, já admitiram que foram alvo de questionamentos por parte dos americanos. Outros, como o JPMorgan, foram citados no indiciamento de dirigentes, no dia 27 de maio de 2015.
Agora, porém, o Citibank admite que está sendo alvo de uma convocação oficial, a primeira de um banco desde que o caso eclodiu há nove meses. Em um comunicado a investidores emitido no fim de semana, o banco apontou que a intimação ocorre por conta de “relações bancárias e transações no Citibank associados com certos indivíduos e entidades identificadas como tendo tido envolvimento com uma conduta supostamente corrupta”.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, fontes próximas ao caso nos Estados Unidos indicaram que as investigações têm relação direta com os contratos da Conmebol para a Copa América. Dois pagamentos foram feitos pela conta da Traffic International no Delta National Bank & Trust Co. de Miami para o Citibank. Numa delas, em 17 de junho de 2013, US$ 5 milhões (aproximadamente R$ 20 milhões) foram depositados. No dia 11 de setembro de 2013, mais US$ 1,6 milhão (R$ 6,4 milhões), de uma conta no Bank Hapoalim de Zurique para o Citibank em Nova York.
De acordo com os americanos, o uso do Citibank não se limitou a essas transferências. A empresa Datisa, que tinha a Traffic como sócia, também usou a instituição para pagar propinas. “Os pagamentos de subornos foram então transferidos de contas bancárias na Suíça para contas controladas por dirigentes da Conmebol em todo o mundo, inclusive nos EUA”, diz o documento oficial do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Pela investigação americana, ao menos 11 dirigentes teriam recebido propinas especificamente da Datisa, entre eles os ex-presidentes da CBF, José Maria Marin e Ricardo Teixeira, e Marco Polo del Nero, presidente licenciado da entidade.
Segundo o relatório, “os dirigentes que pediram e/ou solicitaram propinas incluam Manuel Burga, Carlos Chavez, Luis Chiriboga, Marco Polo Del Nero, Eugenio Figueredo, Rafael Esquivel, Nicolas Leóz, Ricardo Teixeira, José Meiszner, Juan Napout e José Maria Marin”, entre outros.
Deles, Leóz, Figueredo e Napout chegaram a presidir a Conmebol. Carlos Chavez presidiu a Federação Boliviana; Manuel Burga, a peruana; Luis Chiriboga, a equatoriana; Rafael Esquivel, a venezuelana; e o argentino José Luis Meiszner foi secretário-geral da Conmebol.
O Citibank teria ainda sido usado para pagamentos de propinas da Traffic para Jack Warner, ex-vice-presidente da Fifa, além de Jeffrey Webb, outro ex-vice da Fifa.
Reforma da Fifa
Neste domingo, o novo presidente da Fifa, Gianni Infantino, garantiu que, em seu primeiro dia de trabalho, vai já se debruçar na reforma da entidade e em atender aos pedidos de cooperação com os Estados Unidos. Questionado se “mais dores” atingiriam a Fifa no futuro, respondeu: “Mais alegria virá”.
A urgência de Infantino em implementar reformas não ocorre por acaso. A Fifa havia sido alertada meses antes de sua eleição, ocorrida na sexta-feira, que corria o risco de ser considerada como uma “organização criminosa” pela Justiça americana caso não mudasse.
Isso implicaria que seus ativos seriam congelados e que empresas americanas - como a Coca-Cola ou Visa - estariam obrigadas a se desfazer de seus contratos com a entidade. Na prática, tal acusação encerraria as atividades da Fifa. Infantino, portanto, assume com a meta de mostrar que a Fifa também foi uma vítima de dirigentes corruptos.
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