Em julho 2013, Luana dos Anjos, 18 anos, foi ao médico com a mãe saber o que era a dor na perna que a incomodava. Após a consulta no Hospital Pequeno Príncipe, iria direto ao Couto Pereira encontrar o pai para torcer pelo Coritiba. Mas a consulta se transformou em internamento. Luana não só deixou de assistir àquela partida, como ficou distante do estádio alviverde por um ano, internada para tratamento de um câncer no fêmur.
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Leia a matéria completaEm abril de 2009, Fabiele Vitória Fortes, 14 anos, viu o ônibus do Corinthians passar a caminho da Arena para enfrentar o Atlético, pela Copa do Brasil, e pediu à mãe que a levasse ao jogo para torcer pelo Timão. A menina teve de se contentar com os gritos da torcida, que ouviu da casa de apoio do Pequeno Príncipe, vizinha à Baixada, para onde se mudou ao deixar a cidade de Sengés para o tratamento da síndrome de Ehlers-Danlos – patologia rara que atinge o tecido conjuntivo e deixa as articulações instáveis, facilmente dobráveis, além de atingir órgãos internos.
A dificuldade no tratamento das respectivas doenças não distanciou Luana e Fabiele do futebol. Pelo contrário. Foi o alento de ambas para aliviar o dia a dia no hospital.
A política da instituição médica é clara neste sentido. Vários jogadores, treinadores e delegações de times são convidados para visitar pacientes. Existe, inclusive, um grau elevado de interação – como entrevistas de personalidades dos gramados, feitas para um canal no Youtube, conduzidas por crianças em tratamento.
Em julho, por exemplo, o elenco do Atlético fez uma visita coletiva ao complexo.
“Esse contato da criança com o esporte mantém o lado mental saudável e quando ela perde o interesse por aquilo que gosta, como o futebol, é um sinal de que está se entregando e isso tem impacto no tratamento”, explica a psicóloga Rita Lous, que há 22 anos atende as crianças no hospital.
Se não fosse o futebol, admite Luana, o internamento seria bem mais difícil. “Era meu único lazer no hospital. Quando eu falava do Coxa, não pensava na doença”, revela a estudante, que ano que vem pretende prestar vestibular para Direito.
Quando deixou o hospital, em julho do ano passado, Luana fez questão de vestir a camisa do Coritiba. Dias antes, havia passado pela última seção de quimioterapia, justamente no dia em que o Brasil foi goleado por 7 a 1 pela Alemanha na Copa. “Nem liguei muito. Todo mundo estava triste, mas eu estava feliz por estar curada”, recorda.
A Copa, aliás, reservou outro momento especial. A convite da Unicef (o braço da Organização das Nações Unidas que cuida das crianças), Luana representou o Pequeno Príncipe em visita à delegação da Espanha no CT do Atlético durante o Mundial. Lá, conheceu o defensor Sérgio Ramos, do Real Madrid, e acabou dando entrevistas para jornais do mundo todo. “O Sérgio Ramos foi legal. Me deu um abraço e disse que eu ficaria bem”, lembra.
O primeiro jogo que Luana assistiu no Couto após a internação foi a derrota do Coxa por 1 a 0 para o Criciúma em outubro de 2014. E o resultado pouco importou. “Foi difícil voltar. Mas quando acabou o jogo, parecia que nada tinha acontecido, que eu não tinha passado por tudo aquilo”, comemora.
O sonho de finalmente ver o Corinthians em campo Fabiele realizou este ano, no empate por 1 a 1 com o Coritiba, no Couto, em julho. Antes, ela conheceu todo o elenco do Timão no hotel. “Ir ao estádio é melhor do que eu imaginava. Não sabia que era tão divertido”, afirma a menina, que em 2015 passou apenas dois meses em casa – o restante, internada.
Do Timão, a Fabiele tem tudo: camisa, bandeira, toalha, garrafa. Mas o que guarda com mais carinho é uma amizade especial que fez graças ao futebol: a do craque Ronaldo, justamente quem Fabiele queria ver jogando pelo Timão na Arena em 2009.
Em 2014, quando integrava o Comitê Organizador da Copa, Ronaldo aproveitou a vinda a Curitiba para visitar o Pequeno Príncipe e conheceu a corintiana mais fiel do hospital. “Foi o dia mais legal que passei no hospital”, afirma a menina. Mas o Fenômeno reservou uma surpresa a Fabiele.
Alguns meses depois, em uma visita particular à cidade, Ronaldo apareceu na recepção do hospital no fim de uma manhã sem avisar ninguém. O Fenômeno queria ver Fabiele. “Ele veio saber se eu estava bem. Disse que se eu seguisse o tratamento eu ficaria bem”, lembra a estudante.
Outro astro que Fabiele conheceu no hospital foi Pelé, que é garoto-propaganda do projeto Gols pela Vida, que busca ampliar a rede de apoiadores do Pequeno Príncipe. “O Pelé disse que não ia ficar braba comigo por ser corintiana porque ‘o Corinthians deu muitas alegrias para ele’”, conta ela. Quando jogava pelo Santos, o ex-jogador jamais perdeu para o rival alvinegro.
A mãe de Fabiele, a pedagoga Edicleia Aparecida Fortes, diz que no começo não gostava quando a filha pedia para brincar com uma bola e não com uma boneca. Mas hoje reconhece o bem que o futebol faz para a menina. “Ela acaba vendo o futebol como a própria vida dela: um dia ela ganha, outro dia ela perde”, resume.
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