Segundo reportagem do jornal "New York Times" publicada nesta segunda-feira (13), os jogadores da seleção de futebol de Serra Leoa têm sofrido com preconceito relacionado à epidemia de ebola.
Torcedores adversários têm provocado esses jogadores com gritos de "ebola", alguns oponentes hesitaram em dar as mãos ou a trocar camisas e avaliações médicas humilhantes viraram rotina.
Em Camarões, quando os jogadores de Serra Leoa chegaram ao hotel para se preparar para uma partida contra a seleção local no sábado (11), alguns hóspedes ficaram alarmados e a polícia foi chamada, disse um representante da seleção.
Depois disso, por recomendação de oficiais da saúde e do esporte de Camarões, os jogadores leoneses foram hospedados em um hotel recém-construído, onde permaneceram como os únicos ocupantes.
"Você se sente humilhado, como lixo, e você tem vontade de socar alguém", disse John Trye, goleiro, após ter ouvido gritos de "ebola" durante treinamento na última quinta-feira (9). "Ninguém quer ter ebola em seu país. A Serra Leoa está lutando contra isso. E eles [torcedores] jogam isso na sua cara. Não é justo", completou.
A crise do ebola que tem devastado a África Ocidental tem atingido particularmente a seleção leonesa. Em agosto, os jogadores foram barrados de jogar no país pela federação de futebol africana, transformando a seleção em um grupo itinerante, que tem lutado para se classificar para a Copa Africana de Nações de 2015, sediada no Marrocos.
Em julho, a seleção de Seychelles cancelou amistoso contra Serra Leoa de última hora, e apenas avisou o adversário quando os jogadores estavam prestes a pegar uma conexão de voo no Quênia.
Antes do confronto contra Camarões no sábado, os jogadores de Serra Leoa foram submetidos a medições de temperatura duas vezes ao dia, para verificar se poderiam ter contraído ebola -mesmo que nenhuma partida profissional tenha sido disputada no país desde julho, e independentemente do fato de que nenhum jogador da seleção tenha visitado o país desde o mesmo mês.Atletas que jogam por clubes europeus ou americanos foram submetidos quatro vezes no mesmo dia a avaliações médicas no Congo.
"Os jogadores entendem que os países precisam se proteger da disseminação do vírus", disse Kei Kamara, atacante leonês que ficou em seu clube nos Estados Unidos ao invés de viajar para Camarões. "Mas o que deprime é que somos tratados como se estivéssemos andando por aí com a doença".
No mês passado, antes de uma partida, jogadores da Costa do Marfim preferiram saudar os jogadores de Serra Leoa com cumprimentos de mão fechada ao invés de um aperto de mãos. "Apertar as mãos é sinal de respeito", lamentou o meia leonês Khalifa Jabbie.
A despeito do preconceito recorrente, alguns jogadores têm se engajado em campanhas de conscientização. Michael Lahoud, meio-campista, começou uma campanha das mídias sociais chamada #kickebolainthebutt (#dêumchutenotraseirodoebola, em tradução live). Kamara doou dinheiro para a instituição Médicos Sem Fronteiras, e forneceu comida para um hospital local para pacientes com ebola.
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