Bola reposta pelo goleiro. Praticamente de costas, o camisa 2 dava um tapa nela com o lado do pé, quase de calcanhar. A esfera executava um arco, um "autochapéu", e se oferecia mansa para a partida ao ataque. Os rubro-negros da antiga jamais se esquecerão desse lance, marca da passagem de Djalma Santos pelo Atlético.
O lateral-direito, bicampeão mundial com a seleção brasileira nas Copas de 1958 e 62, passou três anos na Baixada. Período iniciado em 1968, na disputa do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, certame equivalente na época ao Campeonato Brasileiro. A contratação de Djalma, já com 39 anos, era outro trunfo do então presidente Jofre Cabral e Silva. Do rebaixamento estadual em 1967 e a virada de mesa para manter o clube na elite o dirigente pretendia transformar o Rubro-Negro em uma máquina de jogar futebol.
Para tanto, Jofre trouxe ainda três outros atletas que fizeram ferver o mercado local o zagueiro e também bicampeão mundial Bellini, Sicupira e Nilson Borges, dois jogadores que entrariam para a história do Furacão. "Foi uma época muito boa. Um grande time, recheado de craques. E o Djalma era um companheiro maravilhoso", lembra Sicupira, maior artilheiro e bigode mais famoso de todos os tempos do Rubro-Negro.
O atual comentarista da Rádio Banda B conviveu de perto com a lenda do futebol mundial. "Nos víamos quase todos os dias. Além do contato no clube, éramos amigos", diz o ex-camisa 8. Para se ter uma ideia, na Copa de 58, Djalma Santos fez apenas um jogo, a decisão vencida diante da Suécia (5 a 2). Bastou para ser escolhido o melhor lateral do evento.
Junto com o lateral-esquerdo Julio e Nilson, a dupla virou sócia em uma lotérica no centro de Curitiba, localizada na João Negrão. "Ele tinha uma concessão por ter sido campeão do mundo e nós fizemos a sociedade. Era uma forma de encorpar os rendimentos", recorda Sicupira.
Com a bola nos pés, Djalma Santos sagrou-se campeão do Paranaense de 1970, quebrando um jejum de 12 anos sem títulos estaduais do Atlético. Acabou eleito o melhor lateral-direito da competição, sempre se destacando pelo vigor físico, apesar da idade avançada, e a elegância.
No ano seguinte, decidiu se aposentar. O adeus aconteceu no dia 21 de janeiro, na Vila Capanema, em um amistoso com o Grêmio, fechado em 0 a 0. Pra variar, em grande estilo. Ao sair do gramado, Djalma descalçou as chuteiras, sentado na pista do Durival Britto, e as entregou para Everaldo, adversário da tarde que havia sido campeão mundial com a seleção em 1970.
Chuteiras penduradas, Djalma Santos arriscou-se na carreira de treinador, dirigindo o próprio Atlético. Não teve o mesmo sucesso na Baixada e, no futuro, acabou abandonando a nova profissão.
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