Caio Junior, 51 anos, é uma das vítimas do trágico acidente aéreo que vitimou a delegação da Chapecoense. As autoridades colombianas confirmaram a morte de 76 pessoas na madrugada desta terça-feira (29), na cidade de La Unión, próximo a Medellín, na Colômbia. Em recente entrevista à Gazeta do Povo, publicada no dia 3 de novembro, ele comparou a Chape com o Paraná de 2006 e revelou o desejo de trabalhar novamente em Curitiba.
Luiz Carlos Saroli jogou nas divisões no Cascavel, mas iniciou sua carreira com o Grêmio, onde foi tricampeão gaúcho. Depois, foi jogar no Vitória de Guimarães e mais uma vez se sagrou campeão – Supertaça de Portugal de 1987 e 1988. Chegou a ser dirigente do Coritiba no início dos anos 2000, mas ganhou fama ao levar o Paraná à Libertadores de 2007, após campanha memorável no Brasileiro-2006.
Em 25 de junho deste ano, Caio Júnior assumiu o comando da Chapecoense após a saída de Guto Ferreira para o Bahia e fez história ao levar o time catarinense para a final da Copa Sul-Americana ao eliminar equipes como Independiente e San Lorenzo, da Argentina.
Índice da entrevista
Tem bastante. Comentei até com o Miranda [José Carlos, ex-presidente do Tricolor], que me mandou uma mensagem ontem [quarta]. É um clube considerado médio, esse é um ponto. Jogadores que não são tão conhecidos, mas de muita qualidade, e boas opções de banco de reservas. Temos lideranças positivas, assim como tínhamos naquela época. E pessoas sérias no comando, uma boa comissão técnica. A história é meio parecida, sim.
Primeiro, a organização. Eles são com uma empresa onde tudo funciona. Existe respeito com os funcionários, tudo pago rigorosamente em dia. Isso gera uma situação positiva com os jogadores, que querem ficar. Também há um bom trabalho de formação de equipe, repetindo o grupo. Grande parte do elenco jogou com o River [pela semifinal da Sul-Americana 2015]. E isso já deu bagagem para esse ano, quando eliminados Independiente e Junior Barranquilla. Tudo é fruto de uma sequência de trabalho.
As condições de trabalho também são muito boas. Não temos diferença nenhuma para outros clubes. Temos centro de treinamento e uma atmosfera muito boa.
Eles pagam o máximo que podem pagar. Não negociei meu salário e da minha comissão. O que eu estava com vontade era de trabalhar, tanto que não coloquei multa no contrato, que vai até dezembro. Queria vir, dar meu melhor. Tive ótimos contratos, graças a Deus, trabalhei mais de cinco anos no exterior. Isso me deu condição de escolher onde trabalhar.
Pelos números, sim. Mas é o que falo todo ano. Quando começa o Brasileiro, é muito difícil ter certeza que uma equipe grande não vai estar brigando contra o rebaixamento. Nesse ano o Inter, o São Paulo também ficou em baixo, tem muita gente precisando de pontos. Nos Estados Unidos não tem rebaixamento, na Colômbia, na Argentina, o rebaixamento é feito por uma média. Aqui não. Pode acontecer de uma temporada ruim. Acho muito injusto.
Como clube, a Chapecoense tem um potencial enorme. Pode investir em uma arena moderna, a região toda torce para o time. Um dos motivos da estabilidade é que não existe divisões políticas e existe um direcionamento.
Uma coisa diferente de tudo que já vivi. Na fase boa o carinho é normal em qualquer lugar. Só que ali na região é muito diferente. As pessoas são mais educadas, mais puras. Uma pureza que não se vê mais. Me identifiquei, até porque também sou do interior, nasci em Cascavel, onde morei até os 15 anos. A forma de eles falarem, um sotaque italiano do interior. Tenho muitos parentes pela região. Meu sobrenome é Saroli, por parte de pai, e Casagrande, por parte de mãe. Ganhou, aparece mais um primo na região (risos).
Mesmo quando tivemos derrotas seguidas, o ambiente continuou positivo. A atmosfera de incentivo é o tempo todo. Isso chama muito a atenção.
Minha opinião é que todos os clubes deveriam fazer esse investimento. É a evolução do futebol, custo de manutenção menor. O jogo fica mais rápido, exige muita qualidade e velocidade. Mas é óbvio que o Atlético leva vantagem. A prova é o aproveitamento em casa que é completamente diferente do fora de casa. Eu vi de dentro do campo essa diferença. Mas nossos jogadores gostaram muito. Só que é preciso ter a mesma qualidade dessa grama. Com esse nível, é muito interessante.
Tenho vontade. Estou longe de casa há dez anos. Sai do Paraná no final de 2006. Antes meus dois filhos estavam morando nos Estados Unidos, agora um deles está de volta a Curitiba. Se tivesse alguma coisa nos próximos anos seria muito bom. Houve três ou quatro situações, para o Atlético e para o Coritiba, e por alguns detalhes não deu certo. É uma possibilidade, está nos meus planos. Mas estou muito satisfeito aqui [em Chapecó].
Tem de ter capacidade para isso. O presidente [Sandro Pallaoro] é um empresário honesto, capaz, e que não precisa do clube para nada. Os dirigentes que estão lá também, o Maurinho e o Cadu, mais diretos do futebol, fazem um trabalho muito bom de captação. Além da avaliação técnica e física, avaliam muito o caráter do atleta, o que acaba sendo decisivo ao longo do tempo.
Também tem outra coisa: nada sai do orçamento. Aprendi isso no Japão e eles seguem a linha de que se não tem dinheiro, não paga bicho maior, não investe onde não pode. Com critério, existe o reconhecimento na hora certa. O salário cai dia 5 rigorosamente, os direitos de imagem no dia 28, e dia 11 vem a premiação do mês anterior. O jogador não se preocupa com nada além do campo. Para o treinador isso ajuda muito.
Sabia do cenário que existe, mas é diferente ver de longe do que estar convivendo lá dentro. As informações era ótimas. Dois anos e meio atrás, me convidaram para ser treinador, mas estava fechando com o Al-Shabab [dos Emirados Árabes]. Disse que na volta, se tivessem interesse, eu estaria aqui.
Não tem nada. Nem quero falar sobre isso.
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