A Gazeta do Povo traz um guia sobre o torneio Sul-Minas-Rio (ou Primeira Liga), competição que promete mudar o eixo da gestão no futebol nacional. Reflexo do 7 a 1 e da gestão imposta por federações estaduais, a liga com clubes do sul, Minas e Rio nasceu. Saiba como ela vai coexistir com os certames regionais e o peso dela na vida dos torcedores. São 11 tópicos para explicar a novidade no calendário esportivo de 2016.
Participantes
A primeira edição do torneio terá 12 times. São dois representantes de cada um dos cinco estados participantes, além de outros dois clubes definidos pelo ranking da CBF.
Atlético e Coritiba (PR), Grêmio e Internacional (RS), Cruzeiro e Atlético Mineiro (MG), Figueirense e Avaí (SC) e Flamengo e Fluminense (RJ) fazem parte da disputa. Como a versão 2015 do ranking será levada em conta, Chapecoense (SC) e América (MG) também vão jogar o novo campeonato.
Além deles, Paraná, Criciúma e Joinville também são membros fundadores da liga e podem disputar futuras edições.
Televisão
A liga ainda não tem uma emissora oficial. Há conversas com canais abertos (Globo e Record) e fechados (Esporte Interativo). O assunto deve ser longamente discutido, já que o objetivo é conseguir uma proposta financeira que agrade a todos os participantes. É possível ainda que não exista exclusividade, como adiantou o CEO da Primeira Liga, o ex-presidente do Atlético-MG Alexandre Kalil.
O efeito colateral imediato deve ser o enfraquecimento dos estaduais. O contrato de televisão do Paranaense, por exemplo, não foi renovado com a RPC até o momento. Sem os principais times utilizando força máxima, o valor pode cair bastante. Situações similares podem acontecer também em outros estados.
Arbitragem
A questão foi definida na última reunião de Kalil com o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. A liga vai utilizar a estrutura de arbitragem existente da própria CBF, assim a Copa do Nordeste e Copa Verde fazem e também ocorria na extinta Copa Sul-Minas.
Caso não houvesse acordo, o próprio Kalil aventou a possibilidade de escalar trios de arbitragem estrangeiros para melhorar o nível técnico da competição. A ideia surgiu da insatisfação dos clubes com o atual modelo, mas o principal empecilho seria o alto custo.
Fórmula de disputa
Foram cogitadas diversas fórmulas, mas todas foram descartadas por causa da mudança no número de participantes – a ideia inicial era ter entre oito e dez. Como agora são 12 clubes e apenas cinco datas disponíveis, o campeonato terá três grupos com quatro participantes cada.
Dentro de cada chave, turno único. Desta forma, cada da equipe terá três jogos no mínimo. Os melhores de cada grupo avançam à semifinal ao lado do melhor segundo colocado entre todas as chaves.
Semifinais e final terão jogo único. A decisão acontece no dia 30 de março. A rodada inicial será no dia 28 de janeiro. Acesso e rebaixamento ainda não foram definidos.
Federações
Apenas a Federação Catarinense de Futebol, do presidente Delfim Pádua Peixoto Filho, se mostrou decisivamente a favor da competição. O dirigente, inclusive, tem participado das reuniões quinzenais da liga. Segundo ele, o campeonato é bom para seus filiados e vai acontecer de qualquer maneira.
As outras federações, especialmente a do Rio de Janeiro, se posicionaram de forma contrária ao torneio. O presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Hélio Cury, chegou a cutucar Atlético e Coritiba pela intenção.
“Eles têm de analisar muito bem. No nosso entendimento, e do torcedor também, a grande disputa por título que temos é no Paranaense. Pelas circunstâncias, nossos clubes têm muita dificuldade em almejar algo maior no Brasileiro”, afirmou o dirigente, na reunião que definiu a fórmula do próximo estadual.
Impacto nos estaduais
Apesar de a cúpula da Primeira Liga afirmar que o torneio não quer impactar outras disputas, é certo que a criação da competição vai afetar os regionais de alguma forma.
Além de ser um concorrente direto por direitos de transmissão, a simples presença de um torneio paralelo com times do porte de Flamengo, Grêmio e Atlético-MG na mesma época dos estaduais diminui a importância destes certames, bem como o interesse do público.
“Ninguém quer matar ninguém. O que não aceito é presidente de federação bater no peito e dizer que não vai acontecer”, disse Kalil, em entrevista à Folha de S. Paulo, admitindo que as federações vão, sim, perder com a presença da Sul-Minas-Rio.
Outras ligas
Atualmente, o calendário do futebol brasileiro tem dois torneios regionais. Fundada pela primeira vez em 1976, mas retomada de vez em 2013, a Copa do Nordeste foi uma das inspirações para a volta da Sul-Minas. O torneio é campeão de público e garante um retorno financeiro maior do que os estaduais.
Já a Copa Verde, que estreou em 2014, tem menos apelo, mas mesmo assim consegue gerar mais interesse do que os regionais dos estados participantes (regiões Norte, Centro-Oeste – menos Goiás – e Espírito Santo, que fica no Sudeste. O Brasília, que venceu a última Copa Verde, por exemplo, chegou a ganhar destaque na Sul-Americana, quando eliminou o Goiás e endureceu a classificação do Atlético às quartas de final.
Justiça Desportiva
Assim como a arbitragem, a questão ganhou resposta na conversa da Primeira Liga com a CBF.
O torneio adotará o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para julgar casos de indisciplina e outras infrações. Apesar de a corte esportiva ter uma complexa estruturação, a competição precisaria criar um tribunal caso não tivesse se acertado com a CBF.
Apesar do ônus de deixar as questões esportivas nas mãos da entidade, a liga nunca teve a intenção de gastar dinheiro para investir nessa estrutura.
Excluídos
Ainda não houve anúncio oficial, mas Criciúma, Joinville, e Paraná devem ficar fora da primeira edição em detrimento de América-MG e Avaí. O ranking da CBF é o responsável por definir quem tem direito a participar, dentro das duas vagas que não estão relacionadas aos estados.
Teoricamente, se o Paraná ultrapassar Atlético ou Coritiba no ranking da CBF, teria direito a uma das vagas atreladas ao estado, por exemplo.
Dentro da liga, mas fora do torneio, os clubes ‘excluídos’ podem colher frutos caso o torneio se torne nacional no futuro.
Quem manda
Os próprios clubes mandam. São eles quem definiram o regulamento, bateram o martelo na fórmula de disputa e ainda buscam patrocínios para o campeonato ser rentável.
A CBF, contudo, ainda conseguiu interferir na dimensão da competição, tirando três datas para jogos, mas acabou dando sua bênção para a realização – muito por causa da ameaça dos clubes de levar o torneio adiante mesmo sem sua permissão.
Os times escolheram Alexandre Kalil para ser o CEO – diretor executivo – da liga. Sua tarefa principal é procurar investires para deixar a Primeira Liga viável e rentável aos seus participantes. Uma de suas principais tarefas é vender o naming rights da competição.
A dúvida
Embrião para uma liga nacional? A CBF não acredita, mas é possível que a organização dos clubes seja o primeiro passo para a construção de um novo Brasileiro, comandando pelos próprios participantes.
A intenção, inclusive, já foi deixada no ar por dirigentes da Primeira Liga, que tiveram conversas com os clubes paulistas. Nos moldes atuais, o campeonato o grupo já conta com 12 equipes da Série A.
No momento, não há nada certo, mas esta parece ser a maior oportunidade que o futebol nacional tem para mudar sua estrutura, baseada nos poderes da CBF e das federações.
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