Possibilidade de W.O, ambiente interno turbulento, atrasos salariais, drama dos funcionários, falta de planejamento e ausência da diretoria no dia a dia. Em meio às tratativas para renovar contrato com o Paraná, o meia Lúcio Flávio aborda temas polêmicos que assolaram o clube em 2014. O camisa 10 ainda defende que Ricardinho deve ter maior poder na montagem do elenco para 2015. Confira a entrevista com o recordista de partidas pelo clube na Vila Capanema:
Quais foram os momentos mais difíceis em 2014?
Tivemos eventos muito desgastantes. O primeiro foi a véspera do jogo contra o Atlético [segunda partida da semifinal do Paranaense]. Pelo fato de a diretoria ter prometido pagamentos e não ter cumprido, o elenco não queria concentrar. Outra situação foi a do jogo-treino com o Coritiba [em junho, na parada da Copa]. Novamente, havia sido prometido o salário e não foi cumprido [a atividade acabou cancelada]. A última delas foi nesta reta final de Série B, em que tínhamos quatro meses [de salários] atrasados e alguns jogadores bastante chateados. E, em meio a isso, ainda lutando contra o descenso.
O vice-presidente Celso Bittencourt revelou que o maior receio da diretoria na reta final da Série B era a possibilidade de um W.O. Esse medo era real?
De fato, até eu temia isto. Estávamos entrando no quinto mês de atraso. Então, foi levantado que, com a garantia de permanência, a diretoria poderia levantar uma verba [adiantamento de cota de tevê] para nos pagar. Trabalhamos em cima disso. Mas, depois do jogo do Icasa [o time venceu e garantiu a permanência], teve um intervalo de dez dias para o jogo contra o América-RN. O grupo acreditou que nesse período seria quitada uma parte da dívida. Se isto não tivesse ocorrido, não teríamos como reverter a possível situação [de W.O].
A falta de planejamento em algum momento complicou o ambiente nos vestiários?
Foi de três meses para cá que o grupo realmente se fechou para evitar o rebaixamento e honrar a camisa do Paraná. Chegamos a ter 44 jogadores em um vestiário. Isso é terrível para você segurar o ambiente porque, se desse total você tiver dez insatisfeitos, gera um problema muito grande. E isso acabou ocorrendo. Primeiro, pelo atraso salarial; depois, por alguém não ser relacionado; e também por terem atletas que não tinham a menor identificação com o clube.
O atraso salarial se estende também aos funcionários. Como foi esse drama?
É uma situação horrível. A gente sabia dos problemas e tentava ajudar, os funcionários vinham conversar conosco. Sempre que nós, atletas, nos pronunciamos sobre alguma situação, fizemos questão de citar os funcionários, porque é difícil você trabalhar em um ambiente em que as pessoas não têm motivação, não têm reconhecimento pelo serviço que realizam. Alguns jogadores com condições melhores ajudavam [financeiramente]. Também repassamos a eles partes de premiações.
Até que ponto a ausência de diretores no dia a dia atrapalhou o time?
Isso sempre atrapalha. Tem de existir esse elo, especialmente num clube com tantos problemas. Infelizmente, após a saída do Roque Júnior [em maio,] tivemos longo período com essa ausência. Depois, com a chegada do Marcus Vinícius [em setembro], melhorou.
Você defendeu nesta semana que o Ricardinho fosse um manager no clube, ganhando maior poder. Seria uma das condições para você renovar contrato?
Não. Falei apenas na forma de facilitar as coisas para o Paraná. As situações dos últimos anos não podem se repetir. Acho que o Ricardinho tem de ter liberdade para montar o elenco, até para não ter excesso de atletas. Se você contrata 45, tem de pagar 45. É uma saída para o clube, porque o Ricardinho gosta do Paraná e vai ajudar.
Seu contrato expira em dezembro. Como está o processo de renovação?
Tivemos uma conversa inicial hoje [ontem], conseguimos alinhar algumas coisas. Sexta-feira [amanhã] teremos outra reunião.
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