Entenda o caso
5. A fusão em 1971, o Ferroviário se funde com o Britânia e o Palestra Itália. Nasce o Colorado. Insatisfeitos, os engenheiros da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) contestam a fusão na Justiça em 1972. Mauro Nóbrega Pereira, conselheiro do Ferroviário e advogado, assume a defesa do clube na ação.
4. A posse em 1978, a Justiça reconhece a fusão e, em ato contínuo, a Rede ingressa com uma ação reivindicando a reintegração da posse do terreno onde fica o estádio.
3. A vitória em 2003, a Justiça Estadual do Paraná julga improcedente a ação da Rede, declarando que o Paraná Clube possuía o domínio e a posse sobre a área ocupada.
2. A reviravolta a RFFSA entra em liquidação e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decide via medida provisória integrar todo o patrimônio da Rede que chegou a ser uma das maiores empresas do Brasil com 100 mil funcionários à União. A decisão altera a competência para o julgamento da ação.
1. A derrota em março desde ano, a Justiça Federal decide que o estádio é patrimônio do governo federal e determina a desocupação do imóvel pelo Tricolor em no máximo 15 dias. O clube recorre. O recurso impetrado pelo Paraná será julgado no Tribunal Regional Federal (TRF), em Porto Alegre, que abriga os três estados do Sul. A parte que sair derrotada ainda pode recorrer no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.
O processo
Advogado torce pela morosidade do caso
Se, muitas vezes, o que o advogado Márcio Nóbrega Pereira quis foi agilizar o processo sobre a Vila Capanema, hoje torce pelo contrário. "A situação não é boa. Mas temos muitas esperanças. Tivemos uma decisão desfavorável e entramos com um recurso em Porto Alegre. Espero que não seja julgado logo. Torço pela criação do Tribunal Regional Federal aqui no Paraná. Com certeza [o caso] seria visto de forma diferente. O que são a Vila Capanema e o Paraná Clube lá em Porto Alegre?", comentou. Ainda assim, o advogado acredita que a solução dependeria de um esforço político, que nunca aconteceu.
Na efervescente Curitiba dos anos 70, um simpático Colorado surgia da fusão entre o popular Ferroviário e os tradicionais Palestra Itália e Britânia. O clube recém-criado ficou com a torcida do time da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e com uma herança maldita. Um fantasma transmitido ao descendente Paraná Clube e que há 40 anos tenta ser exorcizado em uma luta quase solitária.
Márcio ainda era um adolescente de 15 anos quando ouviu o pai, Mauro, contar que iria defender o clube preferido da família em um processo. Conselheiro do Ferroviário, o advogado foi aos tribunais contra a ação movida pelos engenheiros da Rede em 1972 contra a fusão e, depois, em uma discussão sobre a propriedade do terreno onde foi erguido o estádio Durival Britto. Começava, há quatro décadas, a ação judicial que chegou à terceira geração da família de advogados Nóbrega Pereira.
Deflagrada pela paixão ao clube, a defesa da lide consolidou-se como uma devoção. Uma entrega à margem dos departamentos jurídicos dos times e que se transformou no coração do escritório de advocacia situado na Praça Zacarias, no Centro de Curitiba. Era apenas uma sala à época. Hoje, ocupa quase um andar inteiro no mesmo edifício, onde estão as quatro mil páginas do processo que discute o destino da Vila Capanema.
"A responsabilidade é enorme de defender a alma do time. Sem um estádio, o time poderia nem existir. E se não fosse o nosso trabalho, o clube não teria mais a Vila Capanema", conta Marcio Nóbrega Pereira, que desde a formatura (em 1981) ajuda o pai na tentativa de manter a atual praça esportiva paranista nas mãos do clube. Mesmo a falta de reconhecimento de quem deveriam ser os maiores interessados.
"Depois que houve a fusão do Colorado com o Pinheiros [1989] e surgiu o Paraná, melhorou um pouco. Mas vários presidentes nem sequer telefonavam para saber como estava a ação", contou.
Processo conduzido e bancado exclusivamente pelo escritório. Um trabalho voluntário. "Chamamos de pro bono [expressão derivada do latim, que significa para o bem do povo]", explica, sem citar os valores despendidos.
Há algum tempo, uma estimativa foi feita por Bernardo Nóbrega Pereira, filho de Márcio, também advogado, e terceiro na família a focar suas energias no Durival Britto. Ao analisar a pasta com a etiqueta "Vila Capanema", onde estavam guardados recibos de custas, gastos com perícias, fotocópias e viagens para defender a causa em tribunais superiores, ele levou um susto.
Ao informar ao avô sobre o montante atualizado das despesas, ouviu uma lição pouco jurídica: "Isso se chama sigilo profissional. Quer dizer que sua avó nunca poderá saber desse valor", relembrou Márcio, que embarga um pouco a voz ao reconhecer que o pai, hoje com 85 anos, não deve assistir ao desfecho do processo.
A descoberta recente de um problema cardíaco fragilizou a saúde do patriarca dos juristas da família e diminuiu o ritmo de trabalho do Dr. Mauro, que ainda escreve suas ações caprichosamente em uma máquina de escrever Hamilton depois posteriormente digitadas pela secretária do escritório, Roseli, outra que virou paranista por conviver com o processo sobre a Vila há tantos anos.
No estádio, se a vitória jurídica vier, o filho Márcio espera um dia ver alguma homenagem ao pai, pela batalha de uma vida.
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