A Vila Capanema| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Entenda o caso

5. A fusão – em 1971, o Ferroviário se funde com o Britânia e o Palestra Itália. Nasce o Colorado. Insatisfeitos, os engenheiros da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) contestam a fusão na Justiça em 1972. Mauro Nóbrega Pereira, conselheiro do Ferroviário e advogado, assume a defesa do clube na ação.

4. A posse – em 1978, a Justiça reconhece a fusão e, em ato contínuo, a Rede ingressa com uma ação reivindicando a reintegração da posse do terreno onde fica o estádio.

3. A vitória – em 2003, a Justiça Estadual do Paraná julga improcedente a ação da Rede, declarando que o Paraná Clube possuía o domínio e a posse sobre a área ocupada.

2. A reviravolta – a RFFSA entra em liquidação e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decide via medida provisória integrar todo o patrimônio da Rede – que chegou a ser uma das maiores empresas do Brasil com 100 mil funcionários – à União. A decisão altera a competência para o julgamento da ação.

1. A derrota – em março desde ano, a Justiça Federal decide que o estádio é patrimônio do governo federal e determina a desocupação do imóvel pelo Tricolor em no máximo 15 dias. O clube recorre. O recurso impetrado pelo Paraná será julgado no Tribunal Regional Federal (TRF), em Porto Alegre, que abriga os três estados do Sul. A parte que sair derrotada ainda pode recorrer no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.

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O processo

Advogado torce pela morosidade do caso

Se, muitas vezes, o que o advogado Márcio Nóbrega Pereira quis foi agilizar o processo sobre a Vila Capanema, hoje torce pelo contrário. "A situação não é boa. Mas temos muitas esperanças. Tivemos uma decisão desfavorável e entramos com um recurso em Porto Alegre. Espero que não seja julgado logo. Torço pela criação do Tribunal Regional Federal aqui no Paraná. Com certeza [o caso] seria visto de forma diferente. O que são a Vila Capanema e o Paraná Clube lá em Porto Alegre?", comentou. Ainda assim, o advogado acredita que a solução dependeria de um esforço político, que nunca aconteceu.

O defensor da Vila: o advogado Mauro Nóbrega Pereira

Na efervescente Curitiba dos anos 70, um simpático Colorado surgia da fusão entre o popular Ferroviário e os tradicionais Palestra Itália e Britânia. O clube recém-criado ficou com a torcida do time da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e com uma herança maldita. Um fantasma transmitido ao descendente Paraná Clube e que há 40 anos tenta ser exorcizado em uma luta quase solitária.

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Márcio ainda era um adolescente de 15 anos quando ouviu o pai, Mauro, contar que iria defender o clube preferido da família em um processo. Conselheiro do Ferroviário, o advogado foi aos tribunais contra a ação movida pelos engenheiros da Rede em 1972 contra a fusão e, depois, em uma discussão sobre a propriedade do terreno onde foi erguido o estádio Durival Britto. Começava, há quatro décadas, a ação judicial que chegou à terceira geração da família de advogados Nóbrega Pereira.

Deflagrada pela paixão ao clube, a defesa da lide consolidou-se como uma devoção. Uma entrega à margem dos departamentos jurídicos dos times e que se transformou no coração do escritório de advocacia situado na Praça Zacarias, no Centro de Curitiba. Era apenas uma sala à época. Hoje, ocupa quase um andar inteiro no mesmo edifício, onde estão as quatro mil páginas do processo que discute o destino da Vila Capanema.

"A responsabilidade é enorme de defender a alma do time. Sem um estádio, o time poderia nem existir. E se não fosse o nosso trabalho, o clube não teria mais a Vila Capanema", conta Marcio Nóbrega Pereira, que desde a formatura (em 1981) ajuda o pai na tentativa de manter a atual praça esportiva paranista nas mãos do clube. Mesmo a falta de reconhecimento de quem deveriam ser os maiores interessados.

"Depois que houve a fusão do Colorado com o Pinheiros [1989] e surgiu o Paraná, melhorou um pouco. Mas vários presidentes nem sequer telefonavam para saber como estava a ação", contou.

Processo conduzido e bancado exclusivamente pelo escritório. Um trabalho voluntário. "Chamamos de pro bono [expressão derivada do latim, que significa ‘para o bem do povo’]", explica, sem citar os valores despendidos.

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Há algum tempo, uma estimativa foi feita por Bernardo Nóbrega Pereira, filho de Márcio, também advogado, e terceiro na família a focar suas energias no Durival Britto. Ao analisar a pasta com a etiqueta "Vila Capanema", onde estavam guardados recibos de custas, gastos com perícias, fotocópias e viagens para defender a causa em tribunais superiores, ele levou um susto.

Ao informar ao avô sobre o montante atualizado das despesas, ouviu uma lição pouco jurídica: "Isso se chama sigilo profissional. Quer dizer que sua avó nunca poderá saber desse valor", relembrou Márcio, que embarga um pouco a voz ao reconhecer que o pai, hoje com 85 anos, não deve assistir ao desfecho do processo.

A descoberta recente de um problema cardíaco fragilizou a saúde do patriarca dos juristas da família e diminuiu o ritmo de trabalho do Dr. Mauro, que ainda escreve suas ações caprichosamente em uma máquina de escrever Hamilton – depois posteriormente digitadas pela secretária do escritório, Roseli, outra que virou paranista por conviver com o processo sobre a Vila há tantos anos.

No estádio, se a vitória jurídica vier, o filho Márcio espera um dia ver alguma homenagem ao pai, pela batalha de uma vida.