Ex-sócio cobra R$ 11 milhões
Dois anos após o término da parceria com o Paraná, Renê Bernardi, sócio da Base, ainda espera ser ressarcido pelo clube. O ex-administrador do Ninho da Gralha afirma ter investido R$ 12 milhões na área de 241 mil m² e calcula em R$ 11 milhões o valor que tem a receber do Tricolor. Até hoje, porém, embolsou R$ 600 mil da negociação do meia-atacante Kelvin para o Porto.
"Está tudo exatamente igual ao dia que eu saí de lá. O clube não tem dinheiro. O Paraná questiona alguma coisa. Mas eu não ganhei nada. Quando você está pondo dinheiro fica tudo fácil, para receber a coisa complica", diz Bernardi, que é membro do Conselho Deliberativo do clube.
A abertura do clube para empresários, segundo Bernardi, comprometeu o Ninho da Gralha. "Sem dinheiro, os empresários tomaram conta. E os jogadores revelados nunca tiveram espaço. Os meninos foram todos queimados", comenta.
Fracassado o projeto de base, o Tricolor aposta atualmente em outra alternativa de redenção financeira. Em março de 2013 fechou parceria com a Atletas Brasileiros S/A. A empresa de capital aberto detém parte dos direitos econômicos de uma série de atletas do Paraná e os disponibiliza em forma de ações na Bolsa de Valores. O clube é o acionista majoritário da sociedade anônima, com 72%.
Projeto elaborado para ser a salvação financeira do Paraná, com a revelação de jogadores, em cinco anos e meio de atividade o Ninho da Gralha tem sido fonte apenas de problemas. Estrutura básica carente, aproveitamento pífio dos garotos no time principal, ausência de títulos e penúria financeira são as marcas da sede tricolor em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba.
Veja o que aconteceu com as principais revelações com passagem pelo Ninho da Gralha
Atualmente, membros das comissões técnicas reclamam do atraso de dois meses de salários afirmam ter recebido somente os vencimentos de janeiro. A impontualidade nos pagamentos fez ainda os jogadores do sub-20 suspenderem os treinos sob protesto recentemente. Já faltou gás e o jeito foi tomar banho gelado. Há ainda transtornos recorrentes com a água do local, para hidratação, lavar roupa e fazer gelo. Dos seis campos disponíveis, só um deles apresenta gramado em condições satisfatórias para preparação e realização de partidas.
Precariedade que não é de agora. Há dois anos, a dificuldade era a escassez de refeições, que repercutia no baixo desempenho escolar e rendimento ruim dentro de campo. Desacertos nos salários e na ajuda de custo dos atletas encorpavam a crise de então.
Na ocasião, o Paraná e a Base (sigla para Bom Atleta Sociedade Empresarial) discutiam o rompimento da parceria fechada em 2008 para tocar o centro de treinamento. Previsto para durar 12 anos, o acordo foi desfeito em março de 2012.
Diante deste cenário, pedidos de demissão e abandono de jovens promessas são rotina. A reportagem ouviu três ex-funcionários que deixaram o Ninho entre o fim do ano passado e o início de 2014, todos com as mesmas lamentações.
"A cada três meses eu recebia um salário. Não aguentei mais e resolvi sair. Ouvi ainda que seria mais fácil eu procurar a Justiça do que receber o que me devem. Fico com pena dos meninos que estão lá sonhando em jogar futebol", comenta um dos ex-funcionários. Os três pretendem mesmo acionar a Justiça e, por causa disso, preferem não se identificar.
A disputa judicial arma uma "bomba relógio" que o Paraná já viu explodir diversas vezes. Entre as dívidas que atormentam o clube há anos estão as decorrentes de ações trabalhistas, que já consumiram cerca de R$ 5 milhões. Parte do montante utilizado para solucionar tais pendências saiu do leilão da sede do Tarumã, que rendeu R$ 30 milhões.
"Temos dificuldades financeiras, mas a diretoria tem trabalhado para colocar a coisa em ordem o quanto antes. Houve uma melhora significativa no centro de treinamento desde que eu assumi, em julho do ano passado", declara Mauro Marturelli, coordenador-geral da base.
O dirigente aponta o fracasso na Série B do ano passado como um complicador para o futuro próximo do Ninho: "O projeto era subir para a Primeira Divisão e, consequentemente, ter um respaldo financeiro maior. Infelizmente, o clube não conseguiu e as dificuldades são maiores". Segundo Marturelli, o salário dos funcionários administrativos está em dia.
Com o término da parceria com a Base em 2012, o Paraná enxugou a operação do CT. Hoje treinam em Quatro Barras aproximadamente 80 jogadores, das equipes sub-15, sub-18 e sub-20. O custo operacional atinge em torno de R$ 100 mil mensais.
"Nós sabemos da importância das categorias de base para o clube e estamos tratando com carinho desse setor", diz Giovani Linke, superintendente geral do Tricolor.