Casa do Paraná e mais tradicional praça esportiva de Curitiba, a Vila Capanema completa aniversário de 70 anos, nesta segunda-feira (23), com relevância que extrapola os limites do esporte.
Além de hospedar os jogos do Tricolor, que ainda tenta entrar em acordo com a União após perder a propriedade na Justiça (leia mais aqui), o estádio que hospedou jogos da Copa do Mundo de 1950 representa um oásis de atividade em um ponto do bairro Rebouças assinalado pela ausência de empreendimentos comerciais e pelo estigma da violência urbana.
“Este estádio é a única coisa que dá vida para a região”, comenta o profissional autônomo Nelson Luiz Szesepanski, que desde 1970 mora em frente ao Durival Britto e Silva, nome de batismo do estádio. Naquele ano, Szesepanksi se mudou com a família para a casa na Rua Sérgio Venci, que fazia parte da vila onde viviam os trabalhadores da Rede Ferroviária.
“Aqui era tudo mato, não tinha asfalto, nem o viaduto Colorado. Era pacato. E o estádio já estava aí. A gente sempre torceu, primeiro para o Ferroviário, em seguida para o Colorado e por fim para o Paraná”, prossegue, citando os clubes que utilizaram o espaço antes de darem origem ao Tricolor, em 1989.
Irmão da madrasta de Szesepanski, o advogado aposentado Luiz Ferreira de Souza, 83 anos, alterna seus dias entre a residência onde vive no Água Verde e a casa da irmã em frente à Vila. “O estádio aqui vale muito para nós. Os demais projetos da região não evoluem. Até um posto de gasolina fechou, a padaria da esquina também”, lamenta o paranista.
“O seu fim ia acabar com todo o movimento, porque é a única coisa que resiste na região. Gostaríamos que os governantes dessem ênfase para esse lugar e tomassem uma providência quanto ao Rio Belém”, prossegue, sobre o rio que corta o bairro.
A importância da praça esportiva é ainda maior para Luiz Carlos Santos, 57 anos, que vive em uma propriedade vizinha à Vila e que se transforma em estacionamento nos dias de partidas. “Sem o estádio, acabaria toda a região. O Paraná nasceu na Vila, é o coração do clube”, afirma Santos que, apesar de coxa-branca, diz nutrir carinho pelo rival.
“Vim para esta casa em 1992, quando não tinha nada aqui exceto o estádio e os trilhos de trem. Tenho carinho pelo Paraná, até porque dependo do clube para sobreviver. Torço para subir este ano. Vai acontecer, é um time grande”, completa.
Se para quem vive no entorno da Vila ela é símbolo e centro nervoso da região, para um dos maiores ídolos da torcida paranista, o ex-atacante Saulo de Freitas, o local é sinônimo de reverência. “O sentimento que tenho é de gratidão. De ter jogado na Vila nos anos 90, na fase áurea do Paraná, quando os torcedores vieram juntos e me abraçaram com o maior carinho”, conta o Tigre da Vila.
“Seria muito decepcionante perder um patrimônio onde o clube teve muitas glórias. O Paraná só vai se salvar se os torcedores se conscientizarem de que não é um empresário milionário quem vai salvar o clube, mas sim se começarmos por alcançar dez mil sócios em dia”, prega.
Paraná tenta acordo para manter estádio
Após ter decretada em 2016 a derrota jurídica para a União na disputa pelo terreno da Vila Capanema, o Paraná segue com esperanças de efetuar um acordo político para manter a praça esportiva. A posse da Vila para a União foi garantida pelo Tribunal Regional Federal de Porto Alegre (TRF-4) em março de 2016.
A área onde está o Durival Britto pertencia à Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA). O Ferroviário, um dos clubes que deu origem ao Tricolor, era formado por funcionários da empresa estatal. No entanto, em 2007, a RFFSA foi extinta e seu espólio transferido para a União. Há 45 anos, desde que o Ferroviário se juntou ao Britânia para formar o Colorado, a ação sobre quem é o dono do imóvel corria na Justiça.
Agora, mesmo juridicamente vitoriosa, a União acena para um acordo. Em troca da permanência do Paraná na propriedade, o governo federal aceitaria receber outro terreno de posse do Tricolor, na forma de permuta. O clube ofereceu duas parcelas de dois patrimônios diferentes em troca do estádio: a frente da Vila Olímpica do Boqueirão, onde ficam as piscinas, e uma parte da sede social da Kennedy, ainda não especificada.
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