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Miguel Quiroga, piloto do avião que levava a delegação da Chapecoense a Medellín. | Reprodução Facebook/
Miguel Quiroga, piloto do avião que levava a delegação da Chapecoense a Medellín.| Foto: Reprodução Facebook/

O avião da Lamia, que caiu na Colômbia na madrugada de terça-feira e deixou 71 mortos, entre eles grande parte da delegação da Chapecoense, não respeitou o plano de se reabastecer de combustível em Bogotá no caminho entre Santa Cruz de la Sierra a Medellín, informou nesta quarta-feira uma fonte da companhia. Nesta quarta-feira (30), o jornal El Colombiano publicou o diálogo entre a aeronave e a torre de comando, em que o piloto confirma que a aeronave tinha problema de combustível e pede prioridade para pousar.

“O avião deveria ter reabastecido em Bogotá”, mas seguiu até Medellín, afirmou ao jornal Página Siete Gustavo Vargas, representante da companhia aérea.

OUÇA O DIÁLOGO ENTRE O PILOTO E A TORRE:

Já o filho do copiloto Ovar Goytia, Burno Goytia, disse ao site boliviano El Deber que o avião deveria ter descido na cidade de Cobija, no norte da Bolívia para reabastecer a caminho de Medellín. No entanto, um voo da companhia BoA (Boliviana de Aviación) atrasou 50 minutos ao sair do Brasil, o que só liberou a pista de Cobija de noite. Como o aeroporto do interior boliviano não tinha iluminação na pista, o comandante da aeronave que transportava a Chapecoense teria optado por ir direto a Colômbia.

Com isso, a principal hipótese da causa do acidente seria a falta de combustível. “O piloto é quem toma a decisão de não pousar, porque pensou que tinha combustível suficiente”, afirma Vargas.

O funcionário da Lamia confirmou que havia possibilidade de abastecer em Cobija, mas logo se falou da opção de Bogotá para reabastecer.

Uma investigação está em andamento pelas autoridades colombianas, com a ajuda de técnico da Direção Geral de Aeronáutica Civil da Bolívia. “Temos que investigar o motivo do piloto ter decidido ir direto a Medellín”, explicou Vargas.

Diálogo

Nesta quarta-feira, o jornal El Colombiano publicou o diálogo entre o piloto do avião, o boliviano Miguel Quiroga e a torre de comando do aeroporto. Nas mensagens, piloto afirma ter emergência para pousar por falta de combustível.

Aos dois minutos de gravação, o piloto solicita prioridade para aterrissar.

- Piloto: “Em aproximação, solicitamos prioridade para aproximação. Temos um problema de combustível”.

13 segundos depois, a torre de comando responde:

Torre: - Entendo que você solicita prioridade para aterrissagem por problema de combustível? Correto?

Piloto: - Afirmativo.

Torre: - Ok, então darei indicações para proceder a localização e efetuar a aproximação em 7 minutos.

Passados 4 minutos e 14 segundos do início da gravação, o piloto boliviano pede de novo orientação para se aproximar.

A controladora de voo responde: “Atenção, tenho uma aeronave abaixo da sua que está tentando a aproximação e também está fazendo uma revisão da pista. Quanto tempo tem para seguir em aproximação?

O piloto responde: - Tenho emergência de combustível. Por isso peço imediato curso final”.

30 segundos depois, o piloto intervém: “Solicito aterrissagem imediata”.

Nos 17 minutos seguintes, a controladora desvia um avião da Lan Colômbia que estava se aproximando da pista e se comunica novamente com o voo da Lamia:

Torre: - Pode efetuar agora a viagem pela direita para iniciar o pouso. Os trânsitos estão a uma milha abaixo de você.

Piloto: - Tráfego [outro avião] à vista (...) solicitamos ser incorporados de uma vez ao localizador.

Torre: - Capitão, você tem dois um zero, preciso baixar de nível. Teria que virar á direita para iniciar o pouso.

Piloto: - Negativo. Estamos iniciando já o pouso.

A controladora de novo interrompe a comunicação e desvia o voo 9771 da Aviança em 16 segundos. Em seguida, dá indicações ao voo da Lan, desvia outro avião da Avianca (9356) e retoma o contato com o avião da Lamia.

Torre: - Há tráfego à sua frente, 18 mil pés.

Piloto: - Está identificado e acima de nós. Estamos em curso final.

Torre: - A aeronave está com 18 mil pés, capitão. O trânsito agora está abandonado pela esquerda, tem um tráfego que já deixou livre dezoito quinhentos”.

Piloto: - ...estamos com um oito mil.

Aos 6 minutos e 58 segundos de gravação, a controladora aérea dá instruções completas ao piloto boliviano. “Atenção. Continue a aproximação, pista úmida. Informe se for requerer algum serviço de terra”. O piloto confirma.

Dois minutos e quatro segundos depois, o piloto boliviano abre comunicação:

Piloto: - Avião está em falha total, elétrica total e sem combustível.

Seis segundo depois, a controladora responde: “pista livre e operável, chuva, bombeiros alertados”.

Piloto: - Indicações, indicações para a pista.

Torre: - O sinal do radar se perdeu, não tenho, notifique rumo agora.

Piloto: - Rumo três seis zero.

Torre: (com voz quebrada): - Com rumo... Vire para esquerda zero um zero, proceder o localizador de bordo Rionegro, uma milha adiante. No momento você se encontra...correto à esquerda com rumo três cinco zero.

Piloto: - Esquerda três cinco zero.

Torre: - Você está a 0,1 milha da borda Rionegro. Não tenho a altitude.

Piloto: - 9 mil pés, indicações, precisamos de indicações.

Torre: - Você está a 8,2 milhas da pista [voz quebrada]. Qua altitude está agora?

O piloto não responde mais.

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