O avião da Lamia, que caiu na Colômbia na madrugada de terça-feira e deixou 71 mortos, entre eles grande parte da delegação da Chapecoense, não respeitou o plano de se reabastecer de combustível em Bogotá no caminho entre Santa Cruz de la Sierra a Medellín, informou nesta quarta-feira uma fonte da companhia. Nesta quarta-feira (30), o jornal El Colombiano publicou o diálogo entre a aeronave e a torre de comando, em que o piloto confirma que a aeronave tinha problema de combustível e pede prioridade para pousar.
“O avião deveria ter reabastecido em Bogotá”, mas seguiu até Medellín, afirmou ao jornal Página Siete Gustavo Vargas, representante da companhia aérea.
OUÇA O DIÁLOGO ENTRE O PILOTO E A TORRE:
Já o filho do copiloto Ovar Goytia, Burno Goytia, disse ao site boliviano El Deber que o avião deveria ter descido na cidade de Cobija, no norte da Bolívia para reabastecer a caminho de Medellín. No entanto, um voo da companhia BoA (Boliviana de Aviación) atrasou 50 minutos ao sair do Brasil, o que só liberou a pista de Cobija de noite. Como o aeroporto do interior boliviano não tinha iluminação na pista, o comandante da aeronave que transportava a Chapecoense teria optado por ir direto a Colômbia.
Com isso, a principal hipótese da causa do acidente seria a falta de combustível. “O piloto é quem toma a decisão de não pousar, porque pensou que tinha combustível suficiente”, afirma Vargas.
O funcionário da Lamia confirmou que havia possibilidade de abastecer em Cobija, mas logo se falou da opção de Bogotá para reabastecer.
Uma investigação está em andamento pelas autoridades colombianas, com a ajuda de técnico da Direção Geral de Aeronáutica Civil da Bolívia. “Temos que investigar o motivo do piloto ter decidido ir direto a Medellín”, explicou Vargas.
Diálogo
Nesta quarta-feira, o jornal El Colombiano publicou o diálogo entre o piloto do avião, o boliviano Miguel Quiroga e a torre de comando do aeroporto. Nas mensagens, piloto afirma ter emergência para pousar por falta de combustível.
Aos dois minutos de gravação, o piloto solicita prioridade para aterrissar.
- Piloto: “Em aproximação, solicitamos prioridade para aproximação. Temos um problema de combustível”.
13 segundos depois, a torre de comando responde:
Torre: - Entendo que você solicita prioridade para aterrissagem por problema de combustível? Correto?
Piloto: - Afirmativo.
Torre: - Ok, então darei indicações para proceder a localização e efetuar a aproximação em 7 minutos.
Passados 4 minutos e 14 segundos do início da gravação, o piloto boliviano pede de novo orientação para se aproximar.
A controladora de voo responde: “Atenção, tenho uma aeronave abaixo da sua que está tentando a aproximação e também está fazendo uma revisão da pista. Quanto tempo tem para seguir em aproximação?
O piloto responde: - Tenho emergência de combustível. Por isso peço imediato curso final”.
30 segundos depois, o piloto intervém: “Solicito aterrissagem imediata”.
Nos 17 minutos seguintes, a controladora desvia um avião da Lan Colômbia que estava se aproximando da pista e se comunica novamente com o voo da Lamia:
Torre: - Pode efetuar agora a viagem pela direita para iniciar o pouso. Os trânsitos estão a uma milha abaixo de você.
Piloto: - Tráfego [outro avião] à vista (...) solicitamos ser incorporados de uma vez ao localizador.
Torre: - Capitão, você tem dois um zero, preciso baixar de nível. Teria que virar á direita para iniciar o pouso.
Piloto: - Negativo. Estamos iniciando já o pouso.
A controladora de novo interrompe a comunicação e desvia o voo 9771 da Aviança em 16 segundos. Em seguida, dá indicações ao voo da Lan, desvia outro avião da Avianca (9356) e retoma o contato com o avião da Lamia.
Torre: - Há tráfego à sua frente, 18 mil pés.
Piloto: - Está identificado e acima de nós. Estamos em curso final.
Torre: - A aeronave está com 18 mil pés, capitão. O trânsito agora está abandonado pela esquerda, tem um tráfego que já deixou livre dezoito quinhentos”.
Piloto: - ...estamos com um oito mil.
Aos 6 minutos e 58 segundos de gravação, a controladora aérea dá instruções completas ao piloto boliviano. “Atenção. Continue a aproximação, pista úmida. Informe se for requerer algum serviço de terra”. O piloto confirma.
Dois minutos e quatro segundos depois, o piloto boliviano abre comunicação:
Piloto: - Avião está em falha total, elétrica total e sem combustível.
Seis segundo depois, a controladora responde: “pista livre e operável, chuva, bombeiros alertados”.
Piloto: - Indicações, indicações para a pista.
Torre: - O sinal do radar se perdeu, não tenho, notifique rumo agora.
Piloto: - Rumo três seis zero.
Torre: (com voz quebrada): - Com rumo... Vire para esquerda zero um zero, proceder o localizador de bordo Rionegro, uma milha adiante. No momento você se encontra...correto à esquerda com rumo três cinco zero.
Piloto: - Esquerda três cinco zero.
Torre: - Você está a 0,1 milha da borda Rionegro. Não tenho a altitude.
Piloto: - 9 mil pés, indicações, precisamos de indicações.
Torre: - Você está a 8,2 milhas da pista [voz quebrada]. Qua altitude está agora?
O piloto não responde mais.