Além do aspecto físico, não dá para comparar Pelé e seus herdeiros -- a ideia não é essa. A única aproximação possível é olhar o que os filhos Joshua e Edinho, além do neto Octávio, fazem com o legado do Rei do Futebol. Aí, dá jogo.
Octávio Felinto Neto acabou de se profissionalizar no Guarani, de Divinópolis (MG), da primeira divisão mineira. Ele chegou a ficar no banco na terceira rodada, contra o Cruzeiro, mas ainda não jogou nenhuma vez. Está no começo mesmo. Mora no alojamento do clube, no estádio Waldemar Teixeira de Faria, em uma vida solitária e sem luxo. O nome do avô abre portas, mas não garante o colete de titular.
O atacante começou a chamar a atenção no sub-13 do Paraná, ao fazer um gol que caiu na rede. Literalmente. Pelo YouTube, dá para ver o chapéu no goleiro e o toque de cabeça. Depois de uma rápida passagem pelo Atlético, o gol abriu portas no futebol paulista. Passou pelo São Paulo, Osasco, Santos e Independente, de Limeira (SP), sem se destacar na multidão. Parece que se encontrou em Minas Gerais: “Não esperava ser profissional aos 16 anos. É sensacional”, comemora.
Uma informação no parágrafo anterior é importante: a mudança para Curitiba logo que sua mãe faleceu. Ele é filho de Sandra Regina Arantes do Nascimento Felinto, reconhecida como filha de Pelé em 1996, depois de uma longa e dramática batalha na Justiça. Pelé só reconheceu a filha depois dos exames de DNA. Dez anos depois, em 2006, Sandra faleceu vítima de câncer de mama, aos 42 anos.
Octávio não guarda mágoas, mas, na prática, a relação com Pelé não existe. Ele traz na memória um encontro de 2009, o único. “Durou uns cinco minutos, no hall do hotel”, contou.
Em 2011, outros cinco minutos de papo pelo telefone. Recebeu a bênção e ouviu que não deveria desistir de seus sonhos. Hoje seus principais contatos são a tia-avó Lúcia e a dona Celeste, bisavó, mãe de Pelé. “Sei que ele tem os afazeres dele. Fico feliz com esse DNA. Mesmo não estando presente, ele ajuda”, disse o Pelezinho. Ops, Pelezinho não! “Tenho de me destacar por mim, e não pelo que meu avô fez. Minha mãe sempre dizia para me chamarem de Octávio”, destaca.
Fera no SMS
O relato de Joshua Seixas Arantes do Nascimento, filho de Pelé, também é de ausência do pai. Mas com menos dramaticidade. Ele mora com a tia Maria Lúcia, e os encontros são raros por causa da agenda do pai. “A gente não se fala todo dia, meu pai viaja muito. Nosso contato principal é pelo telefone”, lamenta o jogador do sub-20 do Santos. “Ele aprendeu a trocar mensagens SMS. Está bem mais fácil falar com ele. O próximo passo é a usar o WhatsApp”, conta o atacante de 18 anos sobre o aplicativo para conversas instantâneas.
Joshua é filho de Pelé com Assíria, casamento que durou 14 anos. Irmão gêmeo de Celeste, ele morou nos Estados Unidos por três anos, mas decidiu voltar ao Brasil para ser jogador. Lamenta ter saído antes do crescimento recente do futebol por lá, mas acha que fez a escolha certa.
Seu sonho é ser jogador profissional. Simples assim, algo que parece estar na próxima esquina. Ou nem tanto. Até hoje, fez três jogos no Santos, dois pelo sub-17 e um pelo sub-20, mas ainda não conseguiu ser titular. “Ele chegou em 2013 longe do nível dos outros jogadores. Está melhorando bastante, mas ainda não está no mesmo patamar do restante do grupo”, afirma Emerson Ballio, auxiliar técnico da sub-20. “Ele é muito veloz. Ainda estamos procurando uma posição na qual ele se encaixe melhor.”
Outro fator que limitou seu desenvolvimento foram as seguidas contusões. Ele perdeu a Copa São Paulo de Futebol Júnior, por exemplo, por causa de uma lesão. Hoje, faz exercícios de pilates que, segundo ele, estão corrigindo o problema. “Meu pai fala que atravessava o campo em 11 segundos. Eu herdei um pouquinho dessa velocidade”, diz. “A principal diferença é a inteligência na hora de jogar. Ele lia a jogada, dois, três segundos antes e tinha mais habilidade e a técnica dele era um pouquinho melhor.”
A cada duas respostas, Joshua fala na importância de concluir os estudos. Ele cursa o primeiro semestre de Educação Física em Santos e pretende se especializar em Fisiologia. Acha que a vida de jogador é curta. Não tem vergonha de usar os óculos de aros grossos e pretos fora dos treinos, remédio para corrigir miopia e astigmatismo. Essa é outra herança do Rei, que tinha entre 2 e 2,5 graus. Humilde e educado, o filho do Rei sai do CT a pé, de chinelo e sem carrão.
Auxiliar técnico
No dia 12 de março, Edson Cholbi do Nascimento, o Edinho, filho mais velho de Pelé, foi efetivado no cargo de auxiliar técnico do Santos, ao lado de Serginho Chulapa. Os dois estão juntos com o técnico Marcelo Fernandes. Ao saber da efetivação, durante um evento no Museu Pelé, o pai ficou surpreso. “Ah, colocaram o Edinho, grava essa aí, pra depois não dizer que não é verdade. Ele foi jogador do Santos e agora é uma responsabilidade muito grande”, afirmou Pelé.
O cargo é uma grande notícia para o ex-goleiro que suportou a pressão de ser comparado ao pai e teve boa passagem pelo Santos, sobretudo entre 1994 e 1998. Mas Edinho não quis comentar a efetivação. Desde maio do ano passado, quando foi condenado a 33 anos de reclusão, em regime fechado, pelo crime de lavagem de dinheiro procedente do tráfico de entorpecentes, o ex-jogador evita a imprensa.
O advogado Eugenio Malavasi, que passou a defender o ex-atleta depois da segunda prisão, no ano passado, entrou com um pedido de habeas corpus pedindo a “reforma da sentença condenatória”, ou seja, a revisão total da condenação. Na prática, para o advogado, Edinho não praticou nenhum dos crimes. Ele aguarda a análise do recurso e, enquanto isso, Edinho pode trabalhar normalmente.
Por questões judiciais, não pode acompanhar a equipe nos jogos fora de São Paulo. Não foi a Londrina (PR), por exemplo, no jogo da ida da Copa do Brasil. “O recurso é totalmente lícito”, disse o advogado. Familiares afirmam que Edinho só foi preso por ser filho de Pelé. Não existe um prazo definido para o julgamento do recurso de reforma da sentença.
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