Com o início de 2016, os colunistas da Gazeta do Povo Adriano Ribeiro, Carneiro Neto, Edson Militão e Luiz Augusto Xavier analisam as expectativas para Atlético , Coritiba e Paraná em 2016, além do futebol do interior, e oferecem uma perspectiva sobre o que pode acontecer com a recém criada Primeira Liga. Confira a opinião dos quatro:
Quais as perspectivas para o Atlético em 2016, principalmente pensando que o clube precisa encerrar o jejum de títulos que vem desde 2009, como admitiu o goleiro Weverton?
Adriano Ribeiro
“O diferencial do Atlético em relação a 2015 tem de ser o Estadual. Com o time principal em campo, é obrigação ser campeão. O jejum de seis anos é incômodo para o clube. Os reforços confirmados e próximos de serem confirmados, como Vinícius (meia), Paulo André (zagueiro) e Pará (lateral-esquerdo), são bons nomes. Para pensar em briga na parte de cima no Brasileiro, porém, é preciso mais. Gosto do estilo do Cristovão Borges. É preciso ter paciência com ele. É natural o time oscilar em alguns momentos da temporada.”
Carneiro Neto
“A expectativa da torcida é de que as promessas de campanha sejam cumpridas. Que o Atlético forme um time forte e competitivo, coisa que não conseguiu após a última eleição. Seis anos de jejum é muito tempo para uma torcida que tem sido fiel, que acompanha o time até mesmo fora da Arena, em estádios não tão confortáveis quanto o seu. Mesmo assim, o torcedor não recebeu qualquer retribuição. O clube, principalmente seu departamento de futebol, precisa de competência na contratação de reforços, na sua avaliação. Precisa trazer qualidade, não somente encher a prateleira, isso não vai resolver.”
Cinco motivos para acreditar e um para desconfiar do Atlético em 2016
Leia a matéria completaEdson Militão
“Cristóvão Borges conhece o grupo, sabe quem está e não está aí para ajudar então deve se beneficiar de uma continuidade. Que seja ele a sugerir contratações, esse também é o papel do treinador, não deve ficar só com o presidente, com o diretor de futebol. Segundo, o Atlético deve lutar pelo título paranaense. Resgatar o grito de ‘é campeão’ que não tem mais conseguido, nem em torneios amistosos. Acho que além disso, o clube precisa buscar disputar a Libertadores em 2017, mais do que qualquer outra coisa, é focar em voltar a principal competição internacional na próxima temporada.”
Luiz Augusto Xavier
“Dessa vez pelo menos tem a expectativa que possa brigar pelo título, porque a proposta do novo presidente é essa. Para nossos clubes, o único título viável é o paranaense e o Atlético desprezou o Estadual nos últimos anos. Brigar por uma Copa do Brasil ou por um Brasileirão é um sonho esporádico, enquanto não conseguirmos ser grandes. Pela primeira vez nos últimos anos ouvimos o discurso de que o Estadual interessa e que o time vai brigar pelo título, o que é bom sinal.”
O que dá para esperar do Coritiba, que vem seguidamente lutando contra o rebaixamento no Brasileirão e deixou escapar os últimos estaduais que disputou?
Adriano Ribeiro
“Ao contrário do Atlético, o Coxa não pode dar importância ao Estadual. É preciso focar totalmente na preparação para o Campeonato Brasileiro, onde o time se limitou a brigar para não cair nos últimos anos. Depois de tanto tempo batendo na trave, será difícil escapar de novo. Por isso, é preciso se planejar e se reforçar muito. O meio de campo e o ataque são os setores mais frágeis. A contratação do Ceará [lateral-direito] foi ótima. Já trazer o segundo goleiro reserva do Cruzeiro... Não dá para entender. Não vejo também muito retorno na permanência no Kléber Gladiador. Enfim, há muito trabalho a ser feito no Alto da Glória.”
Carneiro Neto
“O Coritiba segue o caminho do Atlético. Precisa de mais eficácia no trabalho do futebol. Tenho observado muito o intercâmbio com o Cruzeiro, até pela origem do diretor de futebol Valdir Barbosa. Isso não é bom na minha visão, o clube tem que pensar grande, abrir mais o leque. O Coxa errou demais, contratou em excesso e mal. Tem que fazer contratações cirúrgicas, porque o time segue sendo fraco tecnicamente.”
Cinco motivos para acreditar e um para desconfiar do Coritiba em 2016
Leia a matéria completaEdson Militão
“O Coritiba tem que começar a pensar já por cima. Passadas as tempestades que o clube enfrentou, porque o presidente Bacellar acabou metido em enrascadas por não ter experiência com o futebol, com o presidente agora com um pouco mais de cancha, o Coxa deve investir pesado na base e só contratar jogadores experientes de muito bom nível, para compor a espinha dorsal da equipe. O Evangelino [da Costa Neves, ex-presidente alviverde] sempre investiu nessa espinha, embora em outros tempos, mas a comparação é valida. Qualquer grande time começa com um goleiro, um xerifão na zaga, um craque no meio de campo e um camisa nove, aquele que resolve. São quatro jogadores de categoria, o resto você preenche com bons jogadores e com guris da base. O Coritiba perdeu essa identidade, o resto é consequência.”
Luiz Augusto Xavier
“O Coritiba pagou pelo noviciado da diretoria. São pessoas que não tinham prática nenhuma e isso resultou em uma série de bobagens. Acredito que com dirigentes agora mais maduros e com a proposta de gestão mais profissional, dá para equilibrar um pouco as coisas e deixar a situação ruim de lado. O Estadual passa a ser importante nas pretensões do clube mas a prioridade é evitar o vexame de brigar pelo rebaixamento pelo quarto ano consecutivo.”
O Paraná iniciou mais uma reformulação. Apesar dos poucos destaques que teve em 2015, grande parte destes jogadores já foram ou vão embora. Dá para esperar que o Tricolor supere suas dificuldades, principalmente financeiras, e acabe conquistando enfim seu objetivo, o acesso?
Adriano Ribeiro
“Com mais uma debandada de fim ano, é muito difícil projetar um time-base do Paraná. As indicações do [superindente de futebol] Vavá não deram certo em 2015 e os nomes que chegaram até agora para 2016 não animam muito. As dificuldades financeiras não vão sumir de uma hora para outra. Ou seja, é irresponsável pensar em acesso. Só para o torcedor mais fanático mesmo. Como alento, há a vinda do Claudinei Oliveira. É mais técnico do que todos que passaram pelo clube no ano passado.”
Carneiro Neto
“A imagem do Paraná no fim de ano foi o de um embrulho de presente de natal. Você só sabe o que tem dentro quando abre. O torcedor vai ter que esperar para abrir a caixa. O clube ainda não sabe, ou ainda não definiu, como irá encontrar recursos financeiros, quais parceiros serão mantidos, quais novos surgirão e como vai levantar os fundo necessários para passar o ano.”
Cinco motivos para acreditar e um para desconfiar do Paraná em 2016
Leia a matéria completaEdson Militão
“O Paraná precisa de um projeto profissional, algo que não vi nas últimas diretorias. Precisa de um projeto que não seja ilusório, mas ambicioso. Uma coisa é você iludir o torcedor, trazer investidor, parceiro, mas sem ambição. Não pode ser o Vavá, o Werner, não serve, é bobagem. Esse tipo de pensamento, de investidor ‘pequeno’, não adianta mais. O buraco do Paraná é muito grande e para sair precisa de poder de investimento e ambição. Isso é mais importante que montar um grande time, disputar o título paranaense e chegar a Série A em um ano para depois ter que vender as calças para cobrir o rombo. Pode não ganhar nada, não brigar para subir, mas se ganhar em estrutura está bom.”
Luiz Augusto Xavier
“Acho que o Paraná vai penar mais um pouco. Tinha razões para ter otimismo, imaginava que o time teria um base razoável de 2015 e que pudesse partir daí para construir um time, e não começando do quase zero, como tem sido o perfil do clube. Mas tudo indica que será mais um ano parecido com os últimos. O time foi desmontado, vai precisar montar um novo, com orçamento baixo no Estadual, e terá que ser remontado outro time para o Brasileiro. Com pouco dinheiro, vai repetir a mesma proposta dos anos anteriores e assim fica difícil ter sucesso.”
Dá para se ter uma ideia da força do futebol do interior, que já começou a se movimentar para o Estadual? O que esperar do Londrina agora na Série B?
Adriano Ribeiro
“A conquista de Londrina e Operário nos últimos anos é um grande motivador para os outros times, mas a verdadeira ameaça ao Trio de Ferro será o Tubarão. O LEC tem obrigação de ser o mais forte do interior no Estadual. Agora é uma equipe da Série B do Brasileiro, mudou de status e precisa fazer jus a isso. O Sérgio Malucelli [gestor do clube] não gosta de fracassos, cobra publicamente os atletas e vai reforçar o time.”
Carneiro Neto
“Apesar das dificuldades, da falta de calendário, das impossibilidades financeiras, estou otimista com o interior. Com o Londrina na Série B, o Operário motivado por ser campeão, o Maringá deve vir melhor, ganhou a vaga na Série D. Aliás, me pareceu absurda essa vaga do Maringá, que disputou um campeonato com equipes de menor expressão enquanto o Operário vai ter que ser campeão ou vice paranaense para estar novamente na quarta divisão. Achei muito complicado o critério da Federação Paranaense de Futebol [FPF], é absolutamente injusto. Isso de lado, minha expectativa para o futebol do interior é muito boa.”
Edson Militão
“O título do Operário e a ascensão do Tubarão vão motivar ainda mais o interior. Pessoalmente ficaria muito feliz se o Cascavel, o Foz, o Maringá e o Rio Branco, que são times de quatro cidades muito importantes, se inspirassem no Londrina e montassem modelos bons para gerenciar o futebol. Neste sentido, Londrina e Operário são modelos para os outros. Com um futebol motivado e com parcerias interessantes, o Paraná supera Santa Catarina rápido em número de clubes na primeira e segunda divisões nacionais.”
Luiz Augusto Xavier
“O futebol do interior está fortalecido, cresceu muito nestes anos. O acesso do Tubarão à Série B vai deixar o time mais forte. A torcida, que estava afastada, hoje reassumiu a identidade, o time volta a ter o apoio popular e vai dar trabalho, porque agora o clube tem orçamento, tem condições de assumir compromissos e manter jogadores, pode solidificar uma base sem a necessidade de liberar ninguém para manter o caixa em dia. O Operário é outro que tentou manter jogadores, teve uma dificuldade com a saída do [Itamar] Schülle, mas a boa campanha no Paranaense deste ano dá um know-how para o time fazer um bom começo de temporada.”
Nos últimos tempos temos visto muita controvérsia envolvendo a Primeira Liga, seu calendário e seus dirigentes? Dá para dizer que vai dar certo?
Adriano Ribeiro
“Torço para que dê certo. É importante a realização já em 2016, mesmo que com poucas datas. São jogos mais atrativos, trarão mais renda e, principalmente, um ganho técnico para as equipes. Os Estaduais só iludem boa parte dos times e prejudicam o trabalho para as competições que realmente interessam. A Primeira Liga é uma boa alternativa. Espero que ganhe mais espaço nos próximos anos. O risco são os dirigentes. O ego de cada um, a briga pelo poder e pelos holofotes... Isso pode acabar com o campeonato.”
Carneiro Neto
“A ideia é boa, mas começa mal, por todos os desconsertos e desencontros vistos. Estão perdendo uma ótima oportunidade de dar o pontapé inicial da criação de uma verdadeira liga de clubes no Brasil, algo que seria a melhor alternativa diante do caos que se instalou na CBF. Pelo jeito, os presidentes dos clubes estão com dificuldades para encontrar inspiração e inteligência para aproveitar isso.”
Edson Militão
“Para dar liga, com o perdão do trocadilho, o diálogo entre os clubes tem que ser profissional, e não apaixonado como está sendo. Sem picuinhas, como a do [Alexandre] Kalil [ex-presidente do Atlético-MG], que saiu porque o presidente do Cruzeiro foi mantido na presidência da liga, e este já tinha arrumado encrenca com o Petraglia, enfim, tem que ser estabelecido um diálogo profissional. A Primeira Liga é um bom ensaio, neste ano, mas é em 2017 que pode acontecer a grande virada do futebol brasileiro, diminuindo, com esse enfrentamento, o poder da CBF. Esse ano é um preparo, para se concretizar em 2017.”
Luiz Augusto Xavier
“Eu sou cético, tenho uma desconfiança em relação a isso. Atropelaram muito as coisas. Tivessem planejado e acertado para começar em 2017, já com um lastro, com as coisas bem fincadas no chão, solidificadas, seria melhor. Assim, no atropelo, ainda mais batendo de frente com o calendário, acho difícil ter sucesso.”
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