Será o segundo ano do Pérolas Negras na Copinha. Contudo, os 25 jogadores haitianos relacionados para o torneio já enfrentaram muito mais do que Goiás, jogo de estreia nesta quarta-feira (4), às 16 horas, Nacional e o piauiense Cori-Sabbá, adversários da fase de grupos. Eles partem numa trajetória que pode mudar os rumos políticos do esporte.
A Academia de Futebol Pérolas Negras surgiu como um projeto de desenvolvimento esportivo entre Porto Príncipe e o Rio de Janeiro, por meio da Viva Rio, organização sem fins lucrativos com forte atuação no Haiti. O clube foi fundado após um terremoto devastar o país, em 2010, e deixar milhares de pessoas desabrigadas.
O time foi, aos poucos, saindo do Haiti para disputar campeonatos pelo mundo até chegar 2016 e tudo mudar ainda mais. O Pérolas veio para disputar a Copinha a convite da Federação Paulista de Futebol e chegou às vésperas da competição. Em três jogos, lotou o estádio Rua Javari, casa do Juventus. Foram três derrotas apertadas: para os anfitriões (2 a 1), América Mineiro (2 a 1) e São Caetano (2 a 0).
Chegaram e ficaram. A partir de fevereiro de 2016, o Pérolas passou a treinar no Rio de Janeiro, em Paty dos Alferes, e a disputar competições pelo país. “Passamos a mostrar como o Haiti não é fonte de ameaça, e sim fonte de talentos”, alega Rubem César Fernandes, antropólogo, escritor e diretor-executivo da Viva Rio.
A equipe tem conquistado resultados expressivos e pleiteou, em setembro, o direito de disputar o Campeonato Carioca da Série C. A CBF homologou o clube a partir dos vistos humanitários de seus jogadores, que não são mais considerados estrangeiros no país. “O exemplo do Brasil pode modificar a situação dos refugiados no mundo. Eles passam a ser enxergados de outra forma. Cria-se uma janela que pode diminuir a postura negativa e defensiva em relação aos refugiados”, define.
Para a Copinha, o objetivo é passar a primeira fase. “Certamente, vamos melhorar a performance da primeira Copinha. E, em breve, veremos essa equipe ainda mais protagonista”, completa Fernandes.
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