Além dos desdobramentos políticos e econômicos, o Brexit (Britain + exit), termo dado à saída dos britânicos da União Europeia, também terá grande influência no futebol. Análises dos elencos de times das duas primeiras divisões da Inglaterra e da Escócia apontaram que 332 jogadores não cumpririam os requisitos para solicitação da permissão de trabalho. Mais de 100 atletas da Premier League – o campeonato nacional mais valioso – serão afetados. O Arsenal, Watford e Manchester United lideram a lista, com 13.
Toda a imprensa europeia repercutiu a decisão popular nesta sexta-feira (24) com o impacto global no campo futebolístico/mercadológico.
O impacto é geral no Velho Mundo. Os jornais espanhóis, AS e Marca,por exemplo, já citam que Gareth Bale, jogador galês do Real Madrid, passará a ocupar uma vaga de ‘estrangeiro’ no plantel merengue, quando esses lugares já estão ocupados por James Rodríguez (Colômbia), Casemiro e Danilo (Brasil).
Atualmente, jogadores que detém passaporte europeu têm autorização para jogarem no Reino Unido; aqueles que não possuem devem ser aprovados nos critérios do Home Office (departamento britânico responsável pela autorização e emissão da permissão de trabalho).
As regras são rígidas (veja).
Até a atual temporada, os atletas que não possuem um passaporte europeu deveriam ter jogado 75% dos jogos por sua seleção nacional ao longo dos últimos dois anos, sendo essa regra válida somente para as 70 melhores nações do ranking da Fifa.
Apelações judiciais eram permitidas no caso de bons jogadores cujos países figuravam abaixo da 70ª colocação no ranking e atletas que não foram convocados por estarem machucados.
Apesar dos efeitos deste referendo não serem imediatos –fala-se num período de transição de dois anos –, é fácil antever o impacto no cenário esportivo.
Em janeiro, Karren Brady, vice-presidente do West Ham, numa carta dirigida aos presidentes dos clubes profissionais britânicos chamou a atenção de que uma saída da UE poderia “ter consequências devastadoras”.
A conta pode sari ainda pior: apenas 23 dos 180 jogadores europeus não-britânicos que jogam a Championship têm direito pelas novas regras à permissão de trabalho – e a maioria deles são da Irlanda ou da Commonwealth (associação de 53 estados soberanos, sendo em sua maioria ex-colônias britânicas, com exceção de Moçambique e Ruanda) e possuem passaportes do Reino Unido.
A lista de jogadores que perdem o direito de jogar no Reino Unido incluem duas grandes estrelas dessa temporada da Premier League: N’Golo Kante, jogador do Leicester City, e Dimitri Payet, do West Ham. Ambos marcaram gols pela seleção francesa na Eurocopa.
Diante da decisão popular, o governo pode criar um sistema de cotas similar a que o ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, sugeriu em 2008. Segundo a ideia de Blatter, os times deveriam seguir a regra de “6+5”, ou seja, ter seis jogadores no time titular que sejam do mesmo país do clube e somente cinco estrangeiros. O ex-presidente afirmava que isso faria com que os clubes locais criassem laços mais fortes com as seleções nacionais.
Outra opção levantada é a da realização de acordos bilaterais como o que existe entre Argentina e Brasil, que facilitariam que jogadores de outras nações jogassem no Reino Unido.
Há quem defenda, no entanto, que o Brexit pode ajudar o futebol britânico.
Gordon Taylor, presidente da Associação de Futebolistas Profissionais no Reino Unido, defende que a saída pode favorecer o florescimento de talentos ingleses nos principais emblemas e assim aumentar a qualidade da seleção.
A Premier League, torneio mais midiático do mundo, pagará o preço nos direitos de transmissão, especula-se. O preço da libra também deverá sofrer alterações – só esta sexta-feira já caiu 5% face ao euro – pelo que clubes ingleses terão de gastar mais dinheiro para contratar jogadores a clubes da UE.
Os critérios
1) O jogador de um país que está entre os 10 primeiros colocados no ranking da Fifa precisará ter jogado 30% dos jogos em sua seleção nacional nos últimos dois anos (a contar do dia em que solicitou a permissão de trabalho)
2) O jogador de uma nação que esteja entre a 11ª e a 20ª posição no ranking deverá ter jogado 45% dos jogos internacionais
3) A porcentagem sobe para 60% quando o jogador for de países que estão entre a 21ª e a 30ª colocação e para 75% entre o 31º e 50º colocado
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