O Comitê de Ética da Fifa divulgou nesta terça-feira (30) o relatório final do caso ISL apontando que os brasileiros Ricardo Teixeira e João Havelange e o paraguaio Nicolás Leoz receberam propinas.
O relatório, assinado pelo alemão Hans-Joachim Eckert, uma espécie de juiz do comitê, revela ainda que Havelange renunciou no dia 18 de abril ao cargo de presidente de honra da Fifa. Ou seja, 12 dias antes da divulgação do resultado da investigação interna.
O documento isenta o atual presidente da entidade, Joseph Blatter, de responsabilidade no caso.
Na conclusão, divulgada no site da Fifa, Eckert mantém a informação de que os cartolas receberam subornos da empresa de marketing ISL, entre 1992 e 2000, mas argumenta que, na época do episódio, não havia código de conduta dentro da Fifa. O primeiro código, explica, é de 2004, depois do escândalo. Por isso, e porque os dirigentes já não estão mais em atividade, ele diz que qualquer punição não teria efeito neste momento.
No relatório, Eckert escreveu que Havelange e Teixeira agiram com uma "conduta moralmente e eticamente reprovável", mas enfatizou que aceitar propina não era considerado um crime na Suíça na época do ocorrido. Ao mesmo tempo, pontuou: "Entretanto, é claro que, como dirigentes de futebol, não deveriam ter aceitado qualquer dinheiro de suborno, e deveriam ter de devolvê-lo desde que estivesse em conexão com a exploração de direitos de mídia".
Conforme o jornal Folha de S.Paulo informou no dia 24, Leoz sabia que seria citado neste documento, o que o levou a anunciar na terça-feira passada a renúncia aos cargos de presidente da Conmebol e de membro do comitê executivo da Fifa. A renúncia de Havelange só foi revelada no documento divulgado hoje pela entidade que comanda o futebol no mundo.
A falida ISL, empresa de marketing esportivo parceira da Fifa nos anos 90, foi investigada pela Justiça suíça por ter pago propina a dirigentes em troca de facilidades na obtenção de contratos. Em julho do ano passado, foi divulgado que Havelange, então presidente honorário da Fifa, e Teixeira, ex-mandatário da CBF, receberam R$ 45 milhões em subornos. Eles nunca comentaram o caso. Teixeira havia renunciado a seus cargos na CBF e na Fifa quatro meses antes.
A Fifa criou em 2012 um comitê de ética e anunciou a abertura de uma investigação interna sobre o caso. Nomeou o americano Michael J. Garcia como chefe da apuração. Ele entregou seu relatório final ao juiz Hans-Joachim Eckert no dia 18 de março. Ao livrar Blatter, o juiz argumenta que não há elementos mostrando que o atual presidente foi responsável ou esteve ligado aos pagamentos feitos aos três outros envolvidos.
Agora oficialmente fora da Fifa, Havelange já havia renunciado, em dezembro de 2011, ao posto de membro do Comitê Olímpico Internacional (COI), do qual fez parte por 48 anos. Na época, ele alegou problemas de saúde, mas a decisão teve claro caráter político, pois ocorreu dias antes de a entidade olímpica definir se iria suspendê-lo por causa das denúncias de corrupção durante a investigação sobre o caso ISL.