Trancado desde 30 de maio de 2007 (2.397 dias), o Pinheirão entra em 2014 sem projeto. Novo dono do terreno há um ano e meio, o empresário João Destro já escutou todo o tipo de proposta, mas não sabe o que fazer com o estádio que chegou a ser cogitado como sede paranaense na Copa do Mundo.
"Não tem nada no momento. Tenho feito alguns estudos, mas ainda não defini qual o futuro do Pinheirão praça que comportaria um público de 35 mil espectadores. Certamente, não quero fazer algo que agrida a região. E não será shopping. Vai ser alguma coisa que orgulhe a cidade", diz Destro.
Um condomínio residencial ou uma arena para shows são os prováveis empreendimentos para ocupar o lugar no bairro Tarumã. E até mesmo uma nova praça esportiva não pode ser descartada.
Gigante no setor atacadista, o gaúcho radicado em Cascavel arrematou o terreno por R$ 57,5 milhões em leilão judicial realizado em junho de 2012. Na ocasião, aos risos, declarou ter comprado "por impulso".
Hoje, afirma "não ter sido bem assim" e não tem dúvidas que de que fez um bom negócio, apesar da incerteza sobre a sequência. "Foi uma ótima compra. Não temos pressa para resolver o que faremos", comenta Destro.
Apenas em outubro deste ano o empresário livrou-se de todas as pendências do Pinheirão: dívidas da Federação Paranaense de Futebol (FPF) com a Receita Federal, INSS e o Atlético, entre outros credores. Hoje, com toda a documentação regularizada, não há nada que impeça a venda do maior símbolo da era Onaireves Moura [presidente da FPF entre 1985 e 2007] no comando do futebol no Paraná.
Também em 2013 a área de 124 mil metros quadrados o mais famoso cemitério esportivo do país foi toda cercada com placas de "propriedade particular". Ao mesmo tempo, ganhou vigilância profissional durante as 24 horas por dia, sempre perseguida por três vira-latas.
A segurança decretou o fim do palacete marginal que o Pinheirão havia se transformado, ao ser praticamente abandonado pela administração Hélio Cury na FPF assim que foi lacrado pela Justiça, em maio de 2007. A entidade alegava não ter dinheiro para a manutenção. Assim, dependentes químicos, mendigos, vândalos e ladrões frequentaram e se hospedaram lá por anos.
O impacto do descaso permanece. A Gazeta do Povo teve acesso ao imóvel durante uma tarde. Pelos corredores e salões o cenário é de destruição total. Há lixo despejado por toda a parte e montanhas de fezes de pombo, cachorro e até humanas. "Não há motivo para mantermos limpo o local por enquanto, diante da indefinição. E sujeira é fácil de tirar", afirma Destro.
No antigo salão nobre, há pilhas de documentos (súmulas, registros de jogadores etc) deixados para trás. Recentemente, a entidade se mudou do endereço vizinho ao estádio, na Avenida Victor Ferreira do Amaral. O Museu do Futebol, inaugurado em 2006 com o nome do ex-presidente do Coritiba, Evangelino Neves, está trancado, com alguns objetos mofando no interior. O gramado tem sido aparado constantemente, mas não há a menor condição de receber sequer uma pelada. Sobraram as traves, a coruja e os Quero-Queros. Nas arquibancadas cresce mato e até árvores e em alguns setores o concreto cedeu. "Nossos engenheiros analisaram e disseram que a concretagem é boa. Dá para recuperar", declara o empresário.
Enquanto isso, parte do espaço vai sendo utilizado como sempre foi. Há um parque de diversões em atividade. Na sexta-feira, é o dia de um encontro de motoqueiros. E, no sábado, é a vez de uma já tradicional feira de automóveis.