Perguntamos aos candidatos à prefeitura de Curitiba se eles acreditam que a reforma da Arena da Bai xada para a Copa do Mundo de 2014 trouxe benefícios à cidade e o como atuariam para resolver a questão da dívida do estádio.
Ney Leprevost (PSD) não respondeu às questões. Justificou, no entanto, que não tratará de assuntos relacionados a futebol para não “tensionar ainda mais o clima eleitoral já pesado devido à troca da acusações entre meus concorrentes”.
A prefeitura acertou ou errou ao ajudar na reforma do estádio para a Copa? Na sua visão, a obra rendeu frutos à cidade?
Independente de ter acertado ou errado, tomou a decisão de ajudar e deve cumprir o acordo.
Foi firmado um acordo tripartite (Estado, Município e governo federal) na gestão anterior a minha para trazer a Copa do Mundo a Curitiba. Mesmo assim, a Prefeitura cumpriu com as obrigações assumidas; os jogos entre as seleções ocorreram e a cidade apareceu para o mundo em mídia espontânea, inclusive sendo considerada como uma das melhores sedes da competição.
Graças ao evento mundial, a cidade foi beneficiada com recursos do PAC da Copa – governo federal, que auxiliaram a Prefeitura a realizar grandes intervenções de infraestrutura urbana, como a revitalização da Avenida das Torres, Avenida Marechal Floriano, reforma da rodoferroviária e assim por diante. Lembrando que a definição das obras que seriam executadas também ocorreu em outra gestão.
Ressalta-se que diante de grande desafio, Curitiba foi a única cidade-sede a cumprir com todos os compromissos assumidos para a Copa. Com a Arena do Atlético Paranaense, Curitiba ganhou mais um espaço multieventos que trouxe dividendos ao município. Eventos de porte - como a realização de uma das maiores etapas mundiais do Ultimate Fightinhg Championship (UFC) e grandes shows musicais -– trazem turistas, movimentam toda a área turística (hotelaria, restaurantes, bares, espaços culturais) e a economia da cidade gerando ISS (Imposto Sobre Serviços).
Acertou. Se não fosse a reforma do estádio e a realização da Copa em Curitiba, não teríamos uma série de benfeitorias na cidade, como a reurbanização da Avenida das Torres e a ampliação do aeroporto.
Quem deve responder essa pergunta é o Gustavo Fruet! Vamos honrar os contratos e respeitar decisões do Tribunal de Justiça e Tribunal de Contas.
Uma vez que Curitiba aceitou sediar a Copa, a prefeitura tinha que estar apoiando o evento, fazer a sua parte, mas deveria ter se beneficiado mais com o evento. Quem errou ao chamar a Copa para cá foi o Brasil, que não tinha condições no país de sediar o evento. Não veio no melhor momento e não deixou nenhum grande benefício. O dinheiro que veio para a Copa não gerou nenhum resultado positivo. Fizeram uma reforma na Avenida das Torres para fluir melhor, e o que aconteceu? Nada, hoje ela não flui do mesmo jeito, nem mesmo com aquela grande ponte estaiada. Foi dinheiro aplicado em projetos mal planejados e mal executados.
Em princípio não houve erro. Haverá erro se a prefeitura não cobrar o que é devido a ela pela reforma do estádio. Em relação a render frutos, como qualquer obra, certamente rendeu. Mas a questão é: para quem rendeu? A reforma do estádio rendeu frutos do ponto de vista privado, assim como renderia um show dos Rolling Stones ou uma noite de UFC.
Existem diversas questões básicas que estão sob responsabilidade da prefeitura e que não contam com ajuda tão generosa como a que foi disponibilizada na reforma da Arena da Baixada. Nós do PSOL defendemos que o dinheiro público precisa ser investido naquilo que é de interesse da população, num contexto em que carecemos de coisas essenciais como moradia e saneamento básico nos bairros da periferia.
Considero um erro grave da prefeitura e do governo do estado, porque embora a Copa do Mundo tenha gerado algum benefício momentâneo à economia de nossa cidade, o resultado final desse investimento foi vantajoso somente aos empresários. Nem mesmo o torcedor atleticano pode se sentir seguro com a herança desse patrimônio, se observarmos as movimentações para que os bens sejam retirados do clube e transferidos à Fundação do Clube Atlético Paranaense — controlada por Petraglia e seu grupo.
É urgente a avaliação de todo o prejuízo que tivemos com esse megaevento, desde a falta de garantias na recuperação do dinheiro público até a exploração dos funcionários contratados por empresas terceirizadas. O processo de reforma foi interrompido por greves em função dos atrasos dos salários e na época o próprio Ministério Público do Trabalho havia entrado com ação pedindo paralisação das obras, denunciando as centenas de irregularidades que colocavam em risco a saúde e a vida dos trabalhadores.
Em caso de vitória na eleição, como pretende atuar nessa questão? Considera fazer um novo acordo com governo e clube, situação que é pretendida pelo próprio Atlético?
Entendo que o prefeito que assumir deve cumprir o acordo, pois a obra foi feita com o aval da prefeitura, não com o prefeito.
Nossa gestão cumpriu, de forma responsável, os compromissos assumidos pela gestão anterior para a realização da Copa em Curitiba, inclusive emitindo as cotas de potencial construtivo previstas nos dois contratos de financiamento firmados para a reforma e ampliação da Arena.
O não cumprimento do acordo por parte dos demais interessados já é objeto de discussão judicial. Em uma das ações o Município cobra do Estado o pagamento do valor pendente de R$ 15,6 milhões, referentes ao convênio assinado para viabilizar os jogos da Copa do Mundo 2014 na cidade. As ações permanecem tramitando em primeira instância.
Vamos vender o potencial construtivo a que o Atlético tem direito no acordo tripartite e corrigir uma injustiça: oferecer potencial construtivo também a Coritiba e Paraná Clube para que eles possam reformar seus estádios, porque isso é um direito de todos os clubes da capital.
Tenho que analisar, caso seja eleito, o que poderá ser feito. Se é que poderá ser feita alguma coisa.
Podemos até avaliar a possibilidade de novo acordo, mas a matéria está judicializada e a decisão, seja ela qual for, terá que ser cumprida.
Não buscaria um novo acordo. Simplesmente cobraria o que é devido à Prefeitura pela sociedade de propósito específico formada para administrar a arena.
Poucos foram os acordos cumpridos pelo clube e a prefeitura - nem mesmo se tem acesso ao prédio anexo ao estádio que deveria ser usado pelo município conforme estava previsto na idealização do projeto. O ressarcimento pelas desapropriações feitas para a obra da Arena também é outra promessa que não foi cumprida e o custo da execução superou demais a previsão inicial (o orçamento inicial era de R$ 184,5 milhões, mas acabou custando R$ 265 milhões, aproximadamente 42% a mais).
Por isso insistimos na devolução do nosso dinheiro e a apuração de todas as irregularidades que constam desde o início dessa história. Só aceitamos negociações capazes de priorizar o respeito ao nosso povo e aos trabalhadores envolvidos em todo esse processo.