Desde 2010, o futebol amador de Curitiba ganhou uma alternativa “pirata” à tradicional Suburbana. Menos competitivo, sem ligação com a Federação Paranaense de Futebol (FPF) e mantendo o caráter mais informal das “peladas”, o torneio Amigos da Bola vem conquistando os boleiros de final de semana — assim como uma turma de ex-jogadores profissionais. (veja fotos da disputa)
A ideia surgiu a partir de um grupo de amigos cujo time passava os anos atrás de adversários para disputar amistosos. Com o passar do tempo, eles criaram uma agenda de oponentes. “Primeiramente, surgiu a ideia de organizar um calendário de partidas amistosas que preenchesse o ano inteiro”, conta o advogado Wanderson Marconi, defensor do time Povo da Bola e idealizador da competição.
“Com base nesta organização, de fazer o controle de resultados e pontuação de cada time, surgiu o campeonato”, prossegue. A edição inaugural contou com sete participantes. A temporada deste ano, por sua vez, tem 16.
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E a concorrência de equipes querendo participar cresce a cada ano. “Para 2016, tivemos 18 times novos querendo entrar, mas só pudemos absorver dois deles, que preencheram as vagas de dois desistentes”, explica Marconi.
O custo para integrar o Amigos da Bola não é baixo: R$ 13 mil de inscrição por time. Valor que cobre o custeio do aluguel de campos, arbitragem, além de toda a parte administrativa da competição — quem tem site oficial de dar inveja a muito clube profissional. Arrecadação que, segundo Marconi, não gera lucro para a organização.
“Neste ano, tivemos jogos no Santa Quitéria, Capão Raso, Trieste, Iguaçu, Flamenguinho, Combate Barreirinha. Pagamos aluguel e todos os demais custos são do campeonato”, conta ele, citando as casas de uma série de equipes tradicionais da Suburbana.
Para manter a natureza essencialmente amadora, o Amigos da Bola permite somente três jogadores federados por equipe. Além disso, as regras são mais maleáveis: não há limite para substituições em um jogo e um atleta que foi substituído durante a partida pode retornar para campo novamente no mesmo jogo. Já a idade dos participantes varia dos 18 aos 60 anos.
Para manter o clima amigável, o aspecto disciplinar é bastante rígido. “Até para não deixar se criar um clima de animosidade”, explica Marconi. “É um local para exercitar um hobby. Qualquer jogador que tiver atitude antidesportiva é impedido de voltar a jogar. Essa organização acaba filtrando os times”, complementa. Os cartões tomados ao longo do campeonato são revertidos em multas que viram doações para instituições beneficentes.
“Vira-casacas”
O clima mais ameno do Amigos da Bola tem feito a cabeça de uma série de ex-jogadores da Suburbana. “Isto tem acontecido porque é muito mais tranquilo e gostoso de jogar aqui. O futebol é mais leve e não tem aquela pressão que há em clubes da Suburbana, onde a maior parte dos atletas recebe para jogar”, explica Marconi.
Vale lembrar que a Suburbana é o campeonato amador mais tradicional da cidade, completando 76 anos ininterruptos de disputa em 2016. A disputa é organizada pela Federação Paranaense de Futebol (FPF) e conta com 12 clubes em sua Série A.
Máquina
Uma equipe tem destoado nos últimos anos de disputa do Amigos da Bola: o Operário Ahú. Fazem parte dela ex-atletas como o goleiro Neneca (ex-Paraná); os zagueiro Flávio (ex-Coritiba) e Luciano Simm (ex-Paraná); o lateral esquerdo Lino (ex-Porto-POR); o meia Castorzinho (ex-Coritiba); além dos atacantes Renaldo (ex-Trio de Ferro) e Cristiano (ex-Paraná e JMalucelli).
“Já tem três anos que jogo o campeonato. Comecei brincando todo sábado e aí peguei amor pelo time”, conta Renaldo. “É diferente porque não tem muito jogador da Suburbana. Tem menos qualidade, mas mesmo assim é competitivo. A gente tem um time de veteranos e os outros têm muito jovens. Então a intensidade é grande para nós”, prossegue.
O ex-jogador conta que, como não tem família em Curitiba — os familiares vivem em Brasília — a equipe do Operário Ahú supriu esta lacuna. “Tinha jogado com poucos destes jogadores, mas formamos uma amizade legal. A gente não treina, só joga. E depois tem o churrasco, o almoço. Mas nosso time leva a coisa a sério. A gente ainda dá um caldo”, brinca, sobre o time que enfrentará o Master Urca na final deste ano.
A disparidade da equipe de ex-profissionais em relação às outras, entretanto, chamou a atenção da organização. “A forma como eles montaram o time acabou destoando e isso fica visível na classificação. Estamos tendo discussões para equilibrar mais a disputa”, explica Marconi.
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