A presença da seleção brasileira em São Paulo para o jogo de terça-feira (28) contra o Paraguai, no Itaquerão, tem dupla serventia para os planos da CBF. Ajuda a resgatar a ligação da equipe com uma cidade cujo público é normalmente muito crítico e a estreitar laços políticos com Corinthians e São Paulo, embora exista risco de a relação com os clubes esfriar após manobra do comando da entidade que, ao alterar o estatuto, fortaleceu as federações e tirou poder das agremiações.
Fazer agrados às federações, aliás, é prática comum na CBF desde as administrações anteriores, pois garante votos nas eleições da entidade. São usados artifícios como mesada, convites a dirigentes de federação para chefiar delegações e levar a seleção aos Estados. No caso de São Paulo, de onde saiu o atual presidente da CBF, Marco Polo del Nero, não havia essa necessidade, pois o atual presidente, Reinaldo Carneiro Bastos, é aliado de primeira hora. Mas jogar na cidade é importante. Ainda mais com a seleção em boa fase.
O dilema, desta vez, foi não melindrar os clubes. A CBF e o São Paulo chegaram a conversar sobre a possibilidade de levar a partida com o Paraguai ao Morumbi, porém prevaleceu na escolha a estrutura mais moderna do Itaquerão. Para compensar, o treino aberto à torcida, no último sábado, foi no estádio são-paulino. O clube também recebeu a seleção brasileira para um treino no CT da Barra Funda na última terça, dia do embarque para Montevidéu.
Del Nero fez mais: colocou o presidente são-paulino, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, como o chefe da delegação nestas duas rodadas das Eliminatórias, com jogos contra Uruguai e Paraguai. “Eu já tinha intenção de convidá-lo há tempos, mas por questão de agenda não era possível ele aceitar. Agora deu”, justificou o presidente da CBF por ocasião da escolha.
Leco ficou satisfeito com a deferência e também pela CBF ter incluído o São Paulo em sua programação paulistana. “Será uma honra receber a seleção em nosso CT. Fico feliz em ser o chefe da delegação”, disse.
Agrado
Já a estratégia de levar a seleção brasileira às bases dos aliados dirigentes de federações levou a equipe, nessas Eliminatórias, a jogar em Fortaleza, Salvador, Recife, Manaus, Natal e Belo Horizonte. O roteiro incluiu novas arenas e principalmente estádios que tiveram pouca utilização depois da Copa do Mundo.
A passagem da seleção por diferentes estados do Nordeste também teve a inclusão de dirigentes locais como chefes da delegação. O presidente da Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol, José Vanildo da Silva, por exemplo, comandou a comitiva brasileira que foi a Mérida em outubro passado, quando a seleção enfrentou a Venezuela pelas Eliminatórias. Dias antes, o Brasil havia jogado com a Bolívia, em Natal.
Assim, Del Nero obtém apoio incondicional dos presidentes de federações. As 27 entidades, aliás, ficaram mais robustas politicamente esta semana. Pelo novo estatuto da CBF, terão peso três nas votações (como a para presidente na eleição de 2019, por exemplo, que deverá ter Del Nero como candidato à reeleição). Ou seja, terão 81 votos. Como os clubes da Série A terão peso dois e os da B peso um poderão somar, desde que se unam totalmente, apenas 60 votos.
O tour da seleção pelo Brasil afora vai continuar. Mesmo porque até o técnico Tite deseja, por questões técnica e para aproximar a equipe da torcida, visitar vários Estados. “Para mim, tem de jogar em São Paulo, Rio, Porto Alegre e Paraná”, afirmou no ano passado.
A próxima escala, aliás, poderá ser no Rio, em agosto. Desde que o imbróglio envolvendo o Maracanã tenha sido resolvido e a seleção possa usar o estádio para o jogo contra o Equador.
Uma das exigências da CBF para escolher a sede dos jogos, apurou o Estado, é não ter de gastar dinheiro para deixar os estádios com condições, para que isso não vire uma prerrogativa para outras cidades pedirem para a mesma regalia. Essa estratégia dificulta a realização de uma partida em Cuiabá, onde a arena não tem condições plenas de uso.