Com a prisão de mais três integrantes da torcida Ultras, do Atlético, semana passada, a Delegacia Móvel de Atendimento a Futebol e Eventos (Demafe), da Polícia Civil, voltou ao centro das atenções. O delegado titular da unidade, Clóvis Galvão, admite frustração pelo pouco tempo que os torcedores envolvidos em brigas costumam ficar presos e pede mudanças na Legislação.
Galvão se mostrou surpreso com a reação dos presos da Operação Coringa semana passada, que debocharam da prisão e reforçaram o discurso de ódio contra os integrantes da Fanáticos, organizada que também é do Atlético. “Eles são fora da casinha”, disse.
Confira a entrevista.
Como o senhor vê as declarações dos presos de que as mortes vão continuar na briga entre Ultras e Fanáticos?
Eu fico triste. Futebol tem que ser encarado como uma diversão, sem violência. Com essas declarações, esses caras mostram que não são torcedores. São bandidos e precisam ser retirados de circulação.
Mas esse tipo de declaração é normal?
Não. Eles estão “fora da casinha”. O cara estar preso, assumir a culpa, ainda provocar dizendo que a prisão não vai resultar em nada, que eles vão continuar fazendo baderna, matando. O que é isso? Vai servir de prova para pegarem uma condenação maior por tentativa de homicídio.
“Levantar três horas da madrugada e meter o pé em barraco para pegar malfeitor e depois o cara fica na rua gozando da tua cara... Isso frustra”
Como explicar que os envolvidos na selvageria do Couto Pereira, em 2009, de Joinville, em 2013, e no assassinato do torcedor paranista Diego Conciero,em 2012, estejam soltos?
Quem faz as leis são os deputados. Quem elege os deputados é povo. Se estão soltos é porque a legislação favorece. Não é problema do juiz, nem do delegado, nem da Polícia Militar, que cumprem as leis. O problema é a sociedade que faz leis que permitem isso.
Existe o sentimento de impunidade?
Aqui na Demafe o couro come. Os caras aprontam, nós vamos para cima e colocamos na cadeia. Esse sentimento de impunidade no Paraná, com a delegacia especializada, acabou. Agora, se depois ele é solto, claro que há frustração com todo o trabalho feito.
O senhor fica frustrado?
É claro. Você está pensando que levantar três horas da madrugada e meter o pé em barraco direto para pegar malfeitor e depois o cara fica na rua gozando da tua cara, você vai ficar bonzinho? Isso frustra. Mas é a Legislação, vai fazer o quê? Ela tem de ser modificada urgentemente.
Ainda acredita que o fim das organizadas não resolve ?
Extinguir instituições não é o caminho. Não é todo torcedor de organizada que é vagabundo e violento. 90%, 95% deles não trazem problemas. Agora meia dúzia apronta e temos de retirá-los de circulação.
É a favor de torcida única?
Isso é bobagem. Você não pode proibir o torcedor de ir ao campo torcer pelo seu clube.Tem que fazer segurança preventiva e ostensiva.
E a questão da cerveja nos estádios?
Sou totalmente contra. Nós, o Ministério Público e a Polícia Militar fizemos com que os vereadores enxergassem que estavam na contramão da história. Tanto que retiraram o projeto [que liberava a cerveja]. Agora o que se pretende é a proibição da vendas ao redor do estádio. Seria o ideal? Seria. Mas não sei se isso passa porque vai prejudicar os direitos dos comerciantes.
Mas a maioria das brigas não é fora do estádio?
Fora e dentro. Dentro o couro come também. Não tendo a bebida, evita a provocação de tumulto. Eu tenho estatísticas, não falo aleatoriamente.
O senhor é a favor da presença só de seguranças particulares no estádio?
Sim. Para que polícia em estádio que pertence a uma empresa privada, que mantém seus ricos e bem remunerados jogadores de futebol?
Mas em Joinville, em 2013, só havia agentes privados...
Não. Joinville não tinha nem segurança privada, nem pública, nem nada. Joinville foi brincadeira!
Quais são os próximos passos da Demafe?
O meu pessoal acabou de chegar de Recife, do caso de torcedores do Sport que armaram confusão no Couto. Nós estamos trabalhando também na investigação da pedrada e da bomba no último Atletiba. Confusão é o que mais tem.
WhatsApp
Deixe sua opinião