O confronto é duro, contra o tradicional Santa Cruz, um dos grandes clubes da Série C.
Mas para quem sequer tinha divisão dois anos atrás, o Operário Ferroviário segue apostando alto em sua própria revolução. E com algumas ‘cartas na manga’, agora está a apenas dois jogos da Série B 2019.
Salários em dia, com teto de R$ 12 mil, planejamento série e ambiente familiar são alguns dos segredos da história campanha do Fantasma – confira a primeira parte da matéria aqui.
O duelo pela vaga inicia neste domingo (19), às 17h, no Arruda, em Recife. A decisão será apenas no dia 26 de agosto, às 15h, no Germano Krüger, em Ponta Grossa.
Confira abaixo, em detalhes, três motivos que empurram o time de Vila Oficinas rumo ao sonho da Série B:
Tudo em dia
Entre os boleiros, o Operário já tem sua própria fama. Muito boa, por sinal: o clube é conhecido por pagar rigorosamente em dia.
“Independente da situação, quando fomos campeões ou quando caímos, nos momentos bons ou ruins, sempre cumpriram a palavra”, atesta o lateral-esquerdo Peixoto, 34 anos.
A palavra do jogador, um dos quatro remanescentes da façanha de 2015 (o zagueiro Sosa, o volante Chicão e o lateral-direito Danilo Báia são os outros campeões paranaenses do atual grupo) é resultado de um esforço que às vezes supera até o bom senso.
“Começo a pagar minha folha dia 1º. Pago os funcionários, depois a base, a comissão técnica. E dia 15 é sagrado. Tenha ou não [dinheiro no caixa], os jogadores recebem dia 15”, garante o presidente do Conselho Gestor, José Álvaro Góes Filho.
Dono do grupo Gmad, um dos maiores do Brasil no ramo de produtos para marcenaria, o dirigente é o principal mecenas do Fantasma. Apaixonado por futebol — e torcedor do rival ponta-grossense Guarani na infância — foi convencido a ajudar o Operário, uma forma de retribuir à cidade.
Quando a situação aperta, ele simplesmente resolve. “Tem mês que você tem de tirar 50 contos do bolso para pagar as contas… Está ficando creditado. Se voltar voltou. Se não voltar foi”, brinca, sem revelar a quantia própria já investida no clube.
Neste ano, o custo mensal do futebol é de R$ 550 mil — 36% maior do que na campanha da Série D. Só com a folha de pagamento do elenco e da comissão, o clube gasta R$ 300 mil mensais, com teto salarial de R$ 12 mil.
“Mesmo competindo com equipes que pagam mais, ser bom pagador torna mais fácil trazer jogadores. A fama corre”, frisa Gersinho.
Outro ponto crucial para a estruturação do clube é o pool de empresários que contribui mensalmente com R$ 2 mil para manter as coisas funcionando. Atualmente, são mais de 50 empresas parceiras, o que representa renda garantida de R$ 100 mil.
O restante do orçamento é composto por (muitos) patrocínios de camisa — quase todos oriundos dos mesmos empresários apoiadores — e da crescente receita de sócio-torcedor.
Zebra planejada
Estar na disputa por uma vaga à Série B do Brasileirão, com dois acessos consecutivos, não era o objetivo do Operário em 2018.
Como qualquer time que sobe de uma divisão inferior, o mais prudente seria focar todos os esforços para evitar o rebaixamento. E foi exatamente isso que os jogadores ouviram antes da estreia contra o Volta Redonda, no dia 15 de abril, no Germano Krüger.
“Nossa ideia inicial era se manter e quem sabe no ano que vem, como mais experiência, alcançar coisas maiores.”, admite o técnico Gerson Gusmão.
“Já o presidente sempre falou que subiríamos, que tinha essa confiança. Como empresário, ele tem que ter mesmo”, completa o comandante.
O Fantasma acabou derrotando o Voltaço por 1 a 0 no primeiro jogo do campeonato. E no fim do primeiro turno, logo após ser goleado por 4 a 0 pelo Cuiabá, assumiu de vez a condição de zebra. Foram sete pontos em três confrontos diretos.
“Foi aí que tive certeza que estávamos fortalecidos para buscar a classificação [às quartas de final]”, argumenta Gersinho.
Em casa, o clube acabou com a invencibilidade do Botafogo-SP, vice-líder do Grupo B. Depois, como forasteiro, arrancou um empate do Bragantino. Por último, recebeu o Luverdense e triunfou por 3 a 2, mesmo estando duas vezes atrás no placar.
A verdade é que os resultados não vieram ao acaso. Um planejamento bem feito fez toda a diferença, rotina que não deve mudar daqui pra frente.
“Subindo ou não, na primeira semana que encerramos o ciclo da Série C cada diretor vai apresentar a programação de 2019. Já vamos ter denominada a pré-temporada, quando começa, quando termina, quem sai, quem fica”, promete Góes, que também garante gramado novo no estádio, investimento de R$ 600 mil.
Ao todo, hoje o Operário conta com sete pilares administrativos. As diretorias vão de logística e marketing até financeiro e loja oficial do clube. Todos trabalhando de graça.
“A estrutura do clube mudou muito. Hoje temos total condições, pela nossa organização, de estar na Serie B”, avalia o atacante prata da casa Lucas Batatinha, 28 anos, há duas décadas frequentador do Germano Krüger.
“O Operário está ficando grande”, vaticina o avante.
Família
“O Operário é uma família”. A frase, batida no mundo da bola, faz todo sentido para explicar o momento do Fantasma.
O ambiente caseiro é evidente assim que você pisa do estádio e contribui diretamente para a adaptação de novos contratados. Os atletas passam de colegas de trabalho a amigos, com direito a encontros semanais envolvendo as famílias.
“Temos jogadores com bastante tempo de casa, que sabem como o clube funciona. Isso ajuda a entrosar quem chega mais acanhado. Já botamos um apelido e isso aproxima. Ele vai precisar da gente e vice-versa, destaca o volante e capitão Chicão, 32 anos.
Outro detalhe é que a cidade de 340 mil habitantes realmente abraçou o time. O número de sócios, que beirava os 400 quatro anos atrás, aumentou 92% e hoje bate a casa dos 5 mil.
E a casa cheia, com festa alvinegra, reforça o desempenho em campo. A última derrota no Germano Krüger aconteceu no segundo jogo da final da Série D de 2017, contra o Globo-RN, quando a equipe entrou relaxada após golear por 5 a 0 na ida.
“O calor da torcida transcende os corredores, as arquibancadas, e chega pra gente no campo”, concorda Gersinho, que compara Ponta Grossa com a catarinense Chapecó e a ascensão meteórica da Chapecoense.
“Não lembro de viver um período tão bom quanto esse. É fantástico. Me belisco pra saber se tá acontecendo mesmo”, vibra o torcedor Jean Martins, 43 anos, que comanda um programa sobre o Operário no Facebook todas as segundas-feiras.
Martins foi um dos que criticou a diretoria durante as crises, mas se arrependeu e agora confia que os melhores dias do Fantasma ainda estão por vir.
O pensamento da diretoria é ambicioso, mas quem duvida dessa família?
“Não entro pra brincar nem em pelada… Se subirmos para a B, já falei pra eles, nosso o céu é o limite. Vamos brigar para estarmos na Série A”, planeja José Álvaro.
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