Sam Arday é um dos poucos homens com uma medalha olímpica e um título mundial no currículo. Mas desde que comandou a seleção de Gana nas conquistas do bronze nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, e do Mundial Sub-17, em 1995 - batendo o Brasil na final -, ouve a mesma história: seu país só tem sucesso nas categorias de base porque usa jogadores com idade acima do permitido.
A acusação não é totalmente incorreta, ele admite, mas mesmo assim incomoda. Porque na maioria dos casos não se trata de má fé, mas de um problema muito mais grave que extrapola competições esportivas e afeta todo o continente.
"Nossa obrigação é conferir a documentação dos garotos para nos certificar de que eles estão na idade permitida. Só que às vezes o menino foi registrado pelos pais mais tarde, então legalmente é mais novo do que realmente é. Não é só em Gana que isso acontece, acho que é assim em todos os países de terceiro mundo", disse o técnico, que hoje comanda uma academia de futebol ligada ao clube holandês Feyenoord.
Tal como no Brasil, em Gana muitos pais deixam de registrar seus filhos logo que nascem por falta de informação ou pela dificuldade de chegarem ao posto mais próximo. O diretor do escritório de registros de nascimentos e mortes de Gana, Stephen Amoah, conversou com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM e do Esporte Espetacular na capital Acra e explicou a dificuldade de se fazer um controle de nascimentos no país.
"Para cobrir toda a população precisaríamos de uns 4 mil ou 5 mil postos de registro, mas hoje não temos nem mil. Calculo que sejam menos de 350. Dois terços deles ficam concentrados no sul de Gana, que é mais desenvolvido, enquanto o centro-norte tem apenas um terço. Estamos fazendo um grande esforço para incentivar as pessoas a registrarem seus filhos, mas muitos só nos procuram depois de um ano", explicou Amoah.
Segundo ele, a situação já melhorou bastante. Hoje cerca de 51% dos ganenses tiram a certidão com menos de um ano de idade, um percentual muito maior do que os 17% do início dos anos 90. Amoah trabalha agora para conquistar os outros 49% que, em geral, são registrados quando têm de um a cinco anos. Um dos grandes problemas é que muitos partos são feitos em áreas remotas, dentro de casa, o que atrapalha o controle.
"Treinamos voluntários em diversas comunidades para registrarmos as crianças e de tempos em tempos colhemos as informações. Além disso, temos escritórios ao lado dos postos de vacinação. Assim, quando os pais levam o filho para ser imunizado, normalmente com seis semanas de vida, nós aproveitamos para registrá-lo", detalhou.
O esforço de Amoah passa por questões muito mais importantes que o futebol. Sem estatísticas de natalidade confiáveis fica difícil também controlar desde a alfabetização da população até um sistema de previdência. Segundo dados de 2009, Gana tem 24 milhões de habitantes, sendo 8,9 milhões na faixa de zero a 14 anos.
"Se o pai chega com uma criança mais velha aqui, sem nenhum tipo de documento, fica difícil saber a idade correta dela. Por isso tirar uma certidão com até um ano de idade é de graça. Cobramos uma pequena multa (o equivalente a R$3) para evitar que as pessoas deixem para fazer isso depois. Também tentamos mostrar a importância de uma certidão para que o cidadão tenha seus direitos".
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