O corte da seleção uma semana antes da estréia do Mundial de 70, quando o grupo já estava há um mês se preparando no México, não tirou o mérito do ponta-direita Rogério na conquista. Se o estiramento no músculo posterior da coxa direita o tirou do esquadrão do tri (abrindo espaço para a convocação do novato Emerson Leão, que a pedido do titular Félix e do reserva Ado compôs o trio de goleiros), o parceirismo o manteve no elenco.
Com apenas 21 anos e a convite do técnico Zagalo, Rogério virou olheiro da seleção. Ao lado do atual técnico e então preparador físico do Brasil Carlos Alberto Parreira, Rogério foi responsável por avaliar e entregar relatórios sobre os adversários, o que teve um certo preço. "Daquele Mundial, eu e o Parreira vimos o Brasil apenas na final. Em todas as outras partidas estávamos de olho nos adversários", explica.
Todo o material era coletado de forma rudimentar. No lugar do arsenal tecnológico disponível paras as comissões técnicas atuais, a dupla de 70 usava apenas blocos de papel, binóculos e câmeras fotográficas. Após a apresentação da maneira dos times jogarem, comissão técnica e jogadores decidiam a tática a cada partida. "Todo mundo fala que quem mandava naquele time eram os jogadores. Mas na verdade o grande mérito era do Zagalo, pois o princípio básico de quem é chefe é saber ouvir quem executa", considera Rogério.
Em casa, Rogério, ainda guarda recordações dos tempos de espionagem. Entre elas, slides da partida Peru 3 x 2 Bulgária, pelas oitavas-de-final. Nas quartas, o Brasil venceu aos peruanos, dirigidos pelo brasileiro Didi, por 4 a 2.
De todas as jogadas avaliadas, Rogério guarda duas em especial. Sem fotos, apenas na lembrança. Ambas da Itália, adversária abatida na final por 4 a 1.
A primeira é o esquema para aniquilar a principal jogada do ataque italiano. Conforme ele e Parreira haviam verificado na semifinal contra a Alemanha, quando o meia Boninsegna recebia a bola na intermediária, a dupla de ataque formada por Mazzola e Riva corria em X. Assim, puxavam a marcação e o próprio Boninsegna ficava livre para avançar ou chutar a gol. "O Clodoaldo ficou responsável por marcar o Boninsegna para que isso não acontecesse", aponta.
No último gol, de Carlos Alberto Torres, méritos também aos espiões. Perguntado se a história de que Pelé teria desenhado num guardanapo a jogada do quarto gol da final, Rogério não confirma, mas também não considera nenhum absurdo.
Nas anotações entregues a Zagalo, Rogério e Parreira reforçavam o fato da Azzurra atuar com um líbero atrás da dupla de zaga. Dessa forma, um homem do Brasil sobrava no ataque. Como a preocupação dos italianos era excessivamente com o quinteto Gérson, Rivellino, Pelé, Tostão e Jairzinho e o lateral esquerdo Everaldo raramente avançava, esse homem a mais era o lateral direito Carlos Alberto Torres.
"Bastava o time puxar a marcação para o meio que o Carlos Alberto sobrava", relata Rogério. Dito e feito. Jairzinho puxou o zagueiro Fachetti para o miolo e dois homens foram em Pelé, que antes deles chegarem rolou a bola para o canhão cruzado do Capitão. Nos anos da Guerra Fria, a espionagem também fazia diferença para o Brasil.
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