Piloto nega racismo em brincadeiras com adversário inglês
Felipe Massa sorriu apenas em um momento durante a entrevista após o segundo treino livre. Quando perguntado sobre as brincadeiras na internet para alguém tirar Lewis Hamilton da prova, como o "Bate nele, Rubinho" ou um joguinho espanhol em que é possível atirar pregos no pneu da McLaren número 22.
"Na Inglaterra não aconteceu nada contra mim, não?", disse, com um bom humor que falta à imprensa inglesa. Jor-nalistas britânicos têm chamado as brincadeiras de racistas. Massa discorda.
"Não tem nada a ver com racismo. Tem a ver com a torcida das pessoas. Quanta gente não fica em casa sem fazer nada, só pensando no que in-ventar. No futebol é o que mais acontece. Vamos secar tal jogador, tal time. Faz parte do esporte", rebateu.
Ontem, o brasileiro fechou os treinos livres com o segundo melhor tempo (1min12s305), atrás apenas de Fernando Alon-so (1min12s296), da Renault. Hamilton foi o quarto (1min 12s495).
Nosso carro estava extremamente rápido, apesar do clima frio, o que deixou a pista bem escorregadia", afirmou o in-glês, confiante em um bom lu-gar no grid.
Nelsinho Piquet, da Renault, foi uma das surpresas do dia, fazendo o oitavo tempo. Rubens Barrichello, da Honda, foi apenas o 16°. (LMJ)
Difícil subir a Rua Manoel Teffé, no Jardim Satélite, ao lado do Autódromo de Interlagos, sem notar o cartaz em tamanho natural de Ayrton Senna, vestido com macacão da Williams. Inevitável parar, tirar a máquina do bolso e registrar a cena em local tão improvável. É a senha para Dona Judith se aproximar e puxar conversa. "Pode tirar foto com o nosso campeão. Faz falta até hoje. Quando morreu, todo mundo no bairro ficou triste, como se fosse da família", conta, enquanto puxa os netos para enfeitar a foto do visitante.
Moradora do Jardim Satélite há 23 anos, ela aproveita o GP para reforçar o orçamento. Aluga os quartos da sua casa, localizada perto do fim da reta oposta. A diária sai por R$ 50 e os lugares são concorridos. Há reservas desde o ano passado.
"Tem gente de Curitiba, Rio Grande do Sul, Santa Catarina. Com o Massa brigando pelo título, é uma esperança a mais de ganhar dinheiro. É ótimo para nós", conta Marcelo Aparecido Ferreira, filho de Dona Judith, que também vende lanche e bebidas.
O comércio provisório é comum por toda a vizinhança. Raro encontrar uma casa do bairro de vielas estreitas, nessa época excepcionalmente superprotegido pela polícia, em que não se lucre com o GP. Além da hospedagem mais próxima do autódromo e barata do que em qualquer hotel, os moradores transformam suas garagens em estacionamentos e lanchonetes, cuja especialidade é cerveja e espetinho.
Quem tem vista para o autódromo transforma seu imóvel em camarote improvisado. Um lugar nas lajes vizinhas a Interlagos chega a valer R$ 80, com tratamento vip que inclui cerveja, uísque e lanche tudo cobrado à parte.
A reportagem tentou subir na laje de uma farmácia que oferece "camarote" com vista privilegiada para o "S" do Senna e a reta oposta. Após muita negociação, os funcionários disseram que a visita só seria permitida com a chegada do dono do imóvel, no fim do dia.
Alguns metros adiante, o piso superior de uma imobiliária também dá vista exclusiva da pista. "Mas aqui é familiar. Sou tio do Rubinho", disse o dono do local, também sem permitir o acesso da reportagem. Amanhã, até um andaime de 10 metros servirá de arquibancada para os mais corajosos.
Pelas calçadas, ambulantes vendem de tudo. Os itens mais procurados são bonés e camisetas da Ferrari (a R$ 10 e R$ 30, respectivamente) e, claro, ingressos. Ontem à tarde, um grupo negociava bilhetes vip em um portão de entrada. "Mil reais cada um", disse uma senhora de mais de 50 anos. "Mil e quinhentos pelos dois", retrucava o comprador.
Nos pontos de táxi, a disputa é para conseguir boas corridas, que chegam até a R$ 500 (São Paulo-Jundiaí). Para fidelizar o cliente, uma pergunta logo após o passageiro falar o seu destino mostra que o lucro e a diversão vão muito além de Interlagos: "Quer conhecer alguma garota?"