Diário de Interlagos
Nicolas França, enviado especial
Mutirão
Em todos os cantos do Autódromo José Carlos Pace, em Interlagos, havia gente trabalhando ontem. Desde o lado de fora. Sobre as bilheterias, painéis com os preços eram instalados. Na pista, funcionários cuidavam do gramado e das caixas de brita. Olhando para a arquibancada, se viam as últimas soldas sendo feitas. Na sala de imprensa, técnicos testavam as televisões instaladas para auxiliar os jornalistas na cobertura. Mas ao cair da noite ainda havia trabalho a ser feito. Hoje é o prazo final para os retoques antes de o local receber o público para os treinos livres de sexta-feira. Quem está na lida garante que "dá tempo tranquilamente".
Tem ingresso?
É só parar por um instante próximo às bilheterias para ser atacado por uma espécie de praga comum nos grandes eventos brasileiros: os cambistas. Eles logo encostam, oferecendo, sabe se lá de onde, ingressos mais baratos do que os vendidos pela organização.
Dia curitibano
Completamente instável, o clima de ontem em São Paulo lembrou muito o de Curitiba. Fez frio nas primeiras horas da manhã. Em seguida, o sol forte aumentou a temperatura. No fim do dia baixou uma névoa, trazendo frio. Até começar a chuva fina no início da noite.
São Paulo - Mesmo a maior cidade do país pode ter sua rotina alterada por um evento de grandes proporções. É o que sempre acontece na capital paulista às vésperas do GP do Brasil, cujo público estimado é de 150 mil pessoas durante o fim de semana 80 mil somente no domingo. Taxistas, donos de restaurantes, vendedores ambulantes, até os cambistas que insistem em aparecer... Todos se animam a tirar um dinheirinho extra. Sem falar nos avisos de alterações no trânsito e no itinerário de alguns ônibus. Até para quem não acompanha, a Fórmula 1 acaba virando assunto.
Para os forasteiros também. Ao desembarcar no aeroporto de Congonhas ontem, por exemplo, os passageiros davam de cara com um piloto de F1 desejando boas-vindas. Na verdade, um ator inteiramente caracterizado, com direito a macacão vermelho, balaclava e capacete.
Ao dar de cara com ele, um amigo chegou a comentar com o outro, mostrando estar um pouco por fora dos últimos acontecimentos na categoria: "Ah, tem corrida domingo, né? A gente bem que podia ir lá dar uma força para o Felipe Massa."
Ele não errou completamente ao lembrar do piloto. Se não vai poder dirigir sua Ferrari em Interlagos por recomendação médica, o brasileiro não deixou de ser assunto nos bastidores. Pelo contrário. Em um almoço com jornalistas, disse ser impossível o espanhol Fernando Alonso, futuro companheiro de equipe, não saber da armação da Renault que lhe deu a vitória no GP de Cingapura do ano passado. A escuderia italiana se apressou a distribuir no autódromo um comunicado minimizando as declarações (leia matéria abaixo).
Foi o ponto mais quente de um dia que teve a maioria dos pilotos chegando a São Paulo. O alemão Sebastian Vettel desembarcou se dizendo confiante em continuar brigando pelo título, mesmo 16 pontos atrás do inglês Jenson Button e a dois do brasileiro Rubens Barrichello. Seu companheiro na Red Bull, o australiano Mark Webber, aproveitou para visitar um projeto social que ensina boxe a crianças. Já Fernando Alonso visitou a escola Oscar Romero, na periferia da capital. Poucos deram as caras em Interlagos.
A movimentação nos boxes era dos mecânicos, terminando a montagem dos equipamentos e começando a preparação dos carros. Ao redor, um mutirão de funcionários dava os últimos retoques no autódromo. Na sala de imprensa, dotada de 308 lugares, por ora não passou de 30 o número de pessoas trabalhando.
Panorama que mudará amanhã, quando os carros vão para a pista e o público para a arquibancada. É o que esperam ansiosamente todo ano taxistas, empresários, ambulantes, cambistas...
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