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Ronaldão, Romário e Dunga (atual treinador da seleção) com a taça da Copa de 1994 | Daniel Garcia / AFP
Ronaldão, Romário e Dunga (atual treinador da seleção) com a taça da Copa de 1994| Foto: Daniel Garcia / AFP

O ano de 1994 não se apresentava como um dos mais felizes para o país. Até a metade do ano, os brasileiros ainda sofriam os efeitos perversos da alta inflação e o choque pela morte do principal ídolo esportivo do país: o piloto Ayrton Senna, vítima de acidente fatal no GP de San Marino em 1º de maio. Mas a panorama mudou em julho. Ao lado da queda significativa do índice inflacionário com o Plano Real, o país mudou seu astral com a concretização de um sonho coletivo tão desejado e adiado sucessivamente desde 1974. Em 17 de julho de 1994, 24 anos depois da festa pelo título de 70, o Brasil passou a ser, de fato e de direito, o país do futebol com a vitória sobre a Itália na final da Copa do Mundo disputada nos Estados Unidos.

O caminho até a comemoração dos brasileiros no estádio Rose Bowl e espalhados por todo o mundo não foi tranquilo. Comandada por Carlos Alberto Parreira, com o apoio de Zagallo, a seleção sofreu nas Eliminatórias. Pela primeira vez, o time foi derrotado na competição - 2 a 0 para a Bolívia, na altitude de La Paz - e se viu realmente ameaçado de não disputar o Mundial. Após conquistar cinco pontos nos quatro primeiros jogos (disputados fora de casa), a equipe reagiu em território brasileiro, vencendo Equador (2 a 0), goleando Bolívia (6 a 0) e Venezuela (4 a 0) e superando o Uruguai no jogo decisivo. Uma derrota no Maracanã tiraria o Brasil do Mundial nos EUA. Mas com uma atuação histórica de Romário - até então afastado do time e convocado para o jogo somente pelo fato de Muller não poder atuar -, o Brasil ganhou por 2 a 0 e assegurou o passaporte para a Copa.

No Mundial, o talento do atacante foi fundamental para o time ultrapassar os obstáculos. Após vencer Rússia (2 a 0) e Camarões (3 a 0), o Brasil garantiu o primeiro lugar no Grupo B ao empatar com a Suécia por 1 a 1. Em um jogo em que esteve em desvantagem e contou com uma jogada individual de Romário para não ser derrotado.

Os Estados Unidos foram o primeiro adversário da fase eliminatória. Para o jogo contra os donos da casa, no dia da Independência americana (4 de julho), Parreira alterou o time, tirando Raí, até então o capitão do time, para a entrada de Mazinho. Com um meio-campo com três volantes (Dunga, Mauro Silva e Mazinho) e com Zinho sem grande inspiração, o time contou com a eficiência da defesa, com Aldair e Márcio Santos em grande fase, e com o talento da dupla Bebeto-Romário para chegar às quartas-de-final. Com um homem a menos desde os 43 minutos do primeiro tempo - Leonardo foi expulso após aplicar uma violenta cotovelada em Tab Ramos -, o Brasil venceu a retranca dos EUA com uma arrancada de Romário e um passe na medida para Bebeto completar. "Eu te amo", declarou o camisa 7 na comemoração do gol marcado aos 27 da etapa final.

O rival nas quartas-de-final foi a Holanda. Após um primeiro tempo sem gols, Romário e Bebeto colocaram o Brasil com dois gols de vantagem com 18 minutos do segundo período. Mas os holandeses chegaram ao empate aos 31. Coube ao lateral Branco, que esteve seriamente ameaçado de não disputar o Mundial por lesão, garantir a classificação com uma bomba em cobrança de falta.

Na semifinal, a Suécia voltou a ficar no caminho do Brasil. E Romário, do alto de seus 1,68m, subiu no meio dos zagueiros suecos e acertou uma bela cabeçada para baixo aos 35 minutos do segundo tempo, levando o Brasil para a final depois de 24 anos.

Como em 70, no México, a taça seria disputada contra a Itália. Novamente em um país da América do Norte. Com a camisa amarela, não estavam Pelé, Tostão, Jairzinho, Rivelino, Gérson e cia. Mas a equipe, considerada por grande parte dos analistas como a menos brilhante das cinco brasileiras que conquistaram o título mundial, conseguiu realizar o objetivo de recolocar o país no topo do futebol internacional. Com muito sofrimento. Após 180 minutos de decisão, a bola não entrou. Algo único na história das Copas. A definição do primeiro tetracampeão ficou para os pênaltis - até então inédita em Mundiais.

Baresi e Márcio Santos erraram as duas primeiras cobranças. A Itália chegou a estar em vantagem de 2 a 1, mas o Brasil virou para 3 a 2 com os acertos de Branco e Dunga e defesa de Taffarel na cobrança de Massaro. O último cobrador italiano na primeira série era Roberto Baggio, o principal responsável pela Azzurra ter chegado à final - fez cinco dos últimos seis gols do time até a final.

Mas diante da pressão de não poder falhar, do cansaço acumulado com o jogo disputado sob o forte sol do início de uma tarde de verão na Califórnia e os efeitos de uma lesão muscular mal curada na coxa, o camisa 10 italiano sucumbiu. A bola por cima do travessão foi a senha para o Brasil explodir em festa, soltando o grito de campeão que ficou preso nas cinco Copas anteriores.

Se não tinha o brilho da seleção de 82, a equipe de 94 entrou para a história ao realizar o sonho do brasileiro de poder voltar a ser intitular "campeão mundial de futebol".

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