Entenda o caso
O Colorado entrou em campo no dia 30 de novembro de 1980 precisando fazer cinco gols de diferença para superar o Cascavel no critério de saldo de gols e assim se sagrar campeão no quadrangular final que ainda envolvia Londrina e Pinheiros, estes sem chances de título na última rodada.A partida foi encerrada pelo árbitro Tito Rodrigues no início do segundo tempo após o Cascavel ficar com seis jogadores em campo, sendo duas expulsões e três lesões, consideradas simulação por alguns, depois das duas substituições previstas no regulamento da época serem feitas.Pelo regulamento, o Cascavel seria derrotado por 1 a 0 ou por 2 a 0, caso o Tribunal mantivesse o placar do gramado. O TJD chamou para depor os envolvidos para descobrir se houve ou não o cai-cai premeditado por parte do Time da Cobra.No dia 12 de dezembro de 1980, o presidente da FPF, Motta Ribeiro, decretou que as duas equipes dividiriam o título. Na época o Paranaense valia duas vagas para a Taça de Ouro, a primeira divisão do Campeonato Brasileiro. O Cascavel acabou perdendo a vaga, sendo indicados Colorado e Pinheiros para representar o estado.
A Cobra disputou a Taça de Prata, equivalente à Segunda Divisão Nacional, ao lado de Coritiba e Grêmio Maringá.
Corria a tarde do dia 30 de novembro de 1980, um domingo. Na Vila Capanema, com apenas 9.340 pagantes, Colorado e Cascavel fizeram uma inédita e exótica final de Campeonato Paranaense que nunca acabou. O árbitro Tito Rodrigues encerrou a partida porque a Cobra ficou sem o número mínimo de sete jogadores. Fato que completa 30 anos nesta terça-feira (30) e ainda suscita polêmica além de macular a história do futebol local.
O Boca-Negra apelido do time da casa precisava vencer por cinco gols de diferença para reverter o saldo do adversário, que liderava o quadrangular final, mas o jogo foi interrompido com o placar de 2 a 0 o suficiente para o time do interior dar a volta olímpica. Os donos da casa, diante do fato insólito, também vestiram a faixa e festejaram. Apenas no dia 12 de dezembro a Federação Paranaense de Futebol (FPF) decidiu dividir o título entre as duas equipes, fato inédito e único até hoje no cenário local. O que perdura também é a controvérsia sobre a intenção do "cai-cai".
O roteiro do duelo não deixa dúvida apesar da falta de unanimidade sobre o caso.
Precisando da vitória, o Colorado partiu para cima e abriu o placar aos 5 minutos com Jorge Nobre, após cruzamento do ponteiro Buião. No lance (mostrado na foto ao lado), os cascavelenses reclamam até hoje de choque irregular de Nobre sobre o goleiro Zico. "O clima estava tenso quando percebemos aquela pressão do juiz para cima da gente. O primeiro gol foi irregular. Reclamamos todos e o juiz expulsou o Marcos", conta o ex-ponta-esquerda cascavelense Sérgio Ramos, que hoje trabalha como corretor de imóveis.
Era apenas o primeiro ato de uma revolta interiorana.
Com 23 minutos, o Colorado ampliou a vantagem para 2 a 0 novamente com Jorge Nobre. Aos 38 minutos, atrás no marcador, o técnico do Cascavel, Borba Filho, fez a primeira das então duas substituições regulamentares, ao tirar Paulinho e colocar Maurinho.
Poucos minutos depois, começou uma confusão em campo e Maurinho e Borba Filho foram expulsos. "O Colorado fez um gol impedido. Era complicado. Teve uma altura naquele campeonato que comecei a treinar com dois a menos, pois sempre davam jeito de expulsar dois nossos. Naquele jogo, a gente não conseguia chegar que o auxiliar levantava a bandeira. Fui expulso e depois fiquei dando instrução no meio do povo", reclama Borba, tido como mentor da farsa, algo que nega com veemência.
Sérgio Ramos foi sacado ainda no primeiro tempo para a entrada de Dudu. O substituto não voltou para a segunda etapa, assim como Nelo, ambos vetados pelo médico Antônio Komatsu. Com sete do Cascavel em campo, no primeiro lance após o intervalo o goleiro Zico chutou a bola e caiu no chão sentindo uma duvidosa contusão.
"A gente realizou um campeonato bom, mas não tinha saldo. Tínhamos de golear, mas quando estava 2 a 0, veio o cai-cai", recorda Caxias, zagueiro reserva do Colorado na ocasião.
O árbitro encerrou a partida e o campo foi invadido por torcedores do Colorado, comemorando o título totalmente sub judice.
"Fui eu quem fiz as faixas. Entrei junto com o Enzo Scaletti, o presidente, e erguemos a taça. Teve festa na Vila com direito a charanga nas quatro pontas do estádio", lembra Renato Trombini, que era o presidente do Conselho Deliberativo e vice-presidente de futebol do tricolor curitibano (um dos embriões do Paraná, ao lado do Pinheiros).
"Teve volta olímpica, faixa e tudo mais... Não lembro se me pagaram os prêmios, mas a faixa eu tenho até hoje e está pendurada na parede da minha casa em Curitiba", diz Ary Marques, lateral-direito do Colorado, que atualmente é técnico do Cuiabá."Depois da final a gente ficou chateado por causa das trapalhadas da arbitragem. Tivemos jogador expulso e prefiro não ficar julgando esses grandes erros", afirma Paulinho Cascavel, hoje empresário do comércio e da construção. A saída dos cascavelenses da Vila foi cercada de tensão. "Saímos enfrentando um corredor humano, com direito a pé do ouvido, mas a gente comemorou como campeão", conta Ramos.
O impasse seguiu por 12 dias. Pelo regulamento, a partida teria como resultado 1 a 0 para o Colorado, ou 2 a 0 caso o Tribunal de Justiça Desportiva mantivesse o placar. Ambas as hipóteses dariam o título ao Cascavel.
Na semana seguinte, o presidente da FPF, Luiz Gonzaga de Motta Ribeiro, afirmou que o título deveria ir para o Colorado, mas que lavava as mãos quanto ao regulamento. No dia 12 de dezembro, a Federação decidiu considerar as duas equipes campeãs e, como havia passado o prazo de indicar os participantes do Brasileiro de 1981, o Cascavel ficou sem a vaga na Taça de Ouro, sendo o Paraná representado por Colorado e Pinheiros.
A decisão não foi bem recebida em nenhum dos dois lados. "Isso foi para fazer uma média com a capital", contesta Ramos. "Desagradou, pois o Colorado foi o mais prejudicado. Nós faríamos os gols necessários", rebate Trombini.
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