Principais conquistas: Salto Triplo:

1975 - Ouro no Pan da Cidade do México, com 17,89m

1976 - Bronze nas Olimpíadas de Montreal, com 16,90m

1977 - Ouro na Copa do Mundo de Dusseldorf, com 16,68m

1979 - Ouro no Pan de Porto Rico, com 17,27m

1980 - Bronze nas Olimpíadas de Moscou, com 17,22m

1981 - Ouro na Copa do Mundo de Roma, com 17,37mSalto em distância:

1975 - Ouro no Pan da Cidade do México, com 8,16m

1979 - Ouro no Pan de Porto Rico, com 8,18m

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Uma batida de pé direito no chão e a frase em voz alta: "Hoje, um novo recorde mundial". Assim, começava o ritual de um dos maiores nomes do esporte brasileiro rumo a mais uma conquista nas pistas de atletismo de todo o mundo. Seu nome? João Carlos de Oliveira, recordista mundial do salto triplo (1975) e bicampeão pan-americano do salto em distância (1975/79). Mas pode chamá-lo também de João do Pulo.

Há dez anos, o Brasil perdia um de seus representantes mais ilustres para uma cirrose hepática, um dia após o ídolo completar 45 anos de idade. Quase meio século vivido com muitas vitórias e um carisma, que o deixou conhecido como o "atleta da alma", como conta seu técnico Pedro Henrique de Toledo, o Pedrão, convidado pelo próprio João para treiná-lo quando tinha 19 anos, dois antes de bater o recorde mundial do salto triplo que colocaria seu nome na história.

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"Devo a minha vida ao João. Foi um presente ter trabalhado com ele. Fiquei imortalizado porque fui seu técnico. Ele foi um grande campeão não apenas na parte física, mas na alma. Deveria ser copiado como exemplo de bondade, humildade. Costumo dizer que é sempre assim: os mais espetaculares não criam problemas, estão sempre acessíveis. Ao contrário dos pernas de pau, que, não sei porque, são os mais metidos", disse Pedrão, que também treinou o triplista Jadel Gregório nas Olimpíadas de Pequim. Jadel bateu o recorde sul-americano mais antigo do salto triplo, que pertencia a João, 32 anos depois, no GP Brasil de 2007. Procurado para dar seu depoimento sobre João do Pulo, Jadel Gregório não foi encontrado.

Primeiro negro a competir pelo clube Pinheiros, o menino de Pindamonhangaba (São Paulo) foi frentista de posto de gasolina e soldado do exército (chegou à patente de sargento em 14 anos como militar) antes de iniciar sua carreira nas pistas. Logo depois, aos 17 anos, começou a brigar por um lugar na equipe brasileira inscrita no Sul-Americano Juvenil, no Paraguai. E conseguiu mais do que isso. Deixou Assunção com a medalha de ouro e um convite para treinar no São Paulo para, em seguida, ir para o Pinheiros pelas mãos de Pedrão.

Em 1973, João começou a escrever seu nome na história. Com 19 anos, o paulista bateu o recorde mundial júnior do salto triplo no Sul-Americano, com a marca de 14,75m. Dois anos depois, o melhor momento de sua carreira. O ano de 1975 ficou marcado para João como a "época dourada". Os Jogos Pan-Americanos da Cidade do México consagraram o atleta com duas medalhas de ouro, uma no salto triplo e salto em distância, sendo esta última com direito a recorde mundial de 17,89m, 45cm a mais que o antigo detentor, o soviético Viktor Saneyev. Esta marca foi superada apenas uma década depois pelo americano Willie Banks, que saltou 18,29m, em Indianápolis.

O ano de 1975 foi tão importante para João, que seu sobrenome foi deixado de lado e todos passaram a o conhecê-lo como João do Pulo, como conta seu técnico, Pedrão.

"Saímos do Brasil com uma grande expectativa de um bom resultado, porque ele já havia feitos grandes saltos aqui. Então, quando chegamos ao México, toda a imprensa brasileira estava ao nosso redor. Na Vila Olímpica, o nome dele era chamado a todo momento. Aí, um repórter de uma revista daqui perguntou para um dos atletas: 'Você viu o João Carlos?' e ele respondeu 'João Carlos? Ah, o João do Pulo'. Assim que nasceu o apelido", contou o ex-treinador, que também acompanhou seu atleta na conquista do bicampeonato pan-americano no salto triplo e no salto em distância em Porto Rico (1979).

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Infelizmente, João não teve a mesma sorte em Olimpíadas. Sorte, sim, porque talento havia de sobra. Se em Montreal (1976), o bronze teve um gosto de quero mais, em Moscou o paladar ficou muito mais amargo. João poderiam ter garantido o ouro com um salto acima de 18m, e o fez, segundo Pedrão, mas os fiscais soviéticos anularam nove de suas 11 tentativas. Assim, dois atletas da casa, Jaak Uudmae e Viktor Saneyev, subiram nos lugares mais altos do pódio. O fato até hoje entristece Pedrão.

"Foi um roubo. Ele foi lesado em Moscou. Aquele salto era recorde mundial. Depois, alguns fiscais, que não eram russos, reconheceram oficialmente o que fizeram. Eu pude ver isso acontecer, mas o João, não, coitado, já estava quase morrendo. Ele merecia ter esse prêmio de volta. Mas isso não teria acontecido se as autoridades brasileiras tivessem pressionado, assim como o fizeram, justamente, com o caso do padre com Vanderlei Cordeiro de Lima. Mas com o João sempre foi assim", afirmou, confirmando a frustração pela perda do ouro e do recorde em Moscou.

Na época, o treinador estoniano Harry Seinberg chegou a confessar, em conversas informais, que as marcas de João do Pulo haviam sido alteradas para favorecer os atletas da casa, mas ele não confirmou à história à Federação de Atletismo e ao Comitê Olímpico Internacional. Apenas em 2000, o jornal australiano Sydney Morning Herald publicou uma reportagem afirmando que os saltos anulados faziam parte de uma operação soviética para dar o tetracampeonato olímpico a Saneyev.

O episódio marcou o momento em que começou o calvário de João do Pulo. Em 22 de dezembro de 1981, pouco depois de conquistar o ouro na Copa do Mundo de Roma, o atleta sofreu um acidente de carro em São Paulo. Com 27 anos, o campeão pan-americano sofreu traumatismo craniano, graves problemas pulmonares, sangramento abdominal, fratura exposta da tíbia, do perôneo e outras escoriações na perna direita, que o levaram a amputa-la oito meses depois. Uma prótese permitia que ele andasse com muletas, mas o tirou das pistas, definitivamente.

Vivendo da pensão do exército, João decidiu entrar para a política, sendo eleito deputado estadual em 1986 e reeleito em 1990. Mas, na terceira tentativa, João obteve menos de 8 mil votos e pensou que o público brasileiro o havia esquecido. O ex-atleta, então, recolheu-se em Guarulhos, isolado da família e de amigos. Em depressão, João começou a beber e foi constantemente hospitalizado na década de 1990, com broncopneumonia, cirrose e hepatite C. Assim, em 29 de maio de 1999, morreu em decorrência de falência múltipla dos órgãos. Mas, para o técnico Pedrão, apenas a falência de um órgão fez a diferença: sem os gritos da torcida brasileira, foi o coração de João que parou de pular.

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