Aos 62 anos de idade, exatamente três décadas após encerrar a carreira de jogador no Coritiba, José Hidalgo Neto, o Capitão Hidalgo, volta ao clube com uma árdua missão: ajudar o time a retornar à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro.
Novo assessor do presidente Giovani Gionédis, ele estará ao lado de Almir Zanchi e Odivonsir Frega no departamento de futebol que já começou a trabalhar. Sua função no comando da equipe parece ser simples. "O Coritiba errou nos últimos tempos por não ter quem contestasse o treinador. É por isso que o Hidalgo está chegando", avisa.
Após 30 anos atuando como comentarista de rádio, Hidalgo colecionou um currículo de fazer inveja. São 86 viagens para coberturas internacionais, incluindo sete Copas do Mundo. Experiência que considera fundamental para exercer seu novo cargo.
Porém, a identificação com as cores alviverdes vem de outros tempos. Desde que chegou à cidade para defender o Coxa em 1970 vindo de São Paulo, onde jogou no Juventus e no XV de Piracicaba, ele nunca mais saiu do lado do time. Foi pentacampeão estadual como atleta, como técnico (de 1971 a 1975), conquistou o Torneio do Povo (1973) e a Fita Azul (título dado aos clubes que excursionavam pela Europa e voltavam invictos, (1972).
Ao receber a reportagem da Gazeta do Povo em sua residência, no bairro Batel, em Curitiba, o eterno camisa 5 do Alto da Glória contou os projetos e os motivos da nova empreitada da sua vida.
Gazeta do Povo Foi o rebaixamento que te fez voltar ao Coritiba 30 anos depois?
Capitão Hidalgo Sim, me tocou profundamente a manifestação dos torcedores para que eu pudesse apoiar o time nesse instante. Eu vim para Curitiba pelo Coritiba. Por seis anos maravilhosos joguei no time. Depois veio a comunicação e nunca manifestei o interesse de trabalhar no clube. Com muitas partidas e coberturas internacionais me aperfeiçoei e me julguei capaz de atuar no futebol. Na comunicação você aprende tudo. Marketing, parte financeira apesar de não estar tão atualizado nessa questão porque no meu tempo não era assim. O que me fez voltar foi a queda. Se fosse na Primeira Divisão não aceitaria, ficaria na comunicação. Mas na Segunda é a hora de ver quem é vencedor. Posso dar muito apoio tendo a reciprocidade do Frega, do Almir e do Giovani.
Está sendo difícil abandonar o rádio?
O rádio me projetou por perseverança. A pequena cultura esportiva e geográfica que tenho eu devo ao rádio. Nesses anos todos de transmissões internacionais conheci parte do mundo. Tive a oportunidade de lançar muitas pessoas que trabalham hoje em rádio, jornal e outros meios de comunicação. Mas o momento falou mais alto uma coisa que gosto muito: o Coritiba.
O "amor à camisa" dos velhos tempos está ultrapassado?
Foi feita uma apresentação a toda base do Coritiba no CT e falei sobre isso com os meninos. Comparei com meus tempos e disse que a estrutura que se tem hoje não existia naquela época. Falei do Pelé, que nunca parou de trabalhar. Quero que esses meninos saibam ser vencedores, não quero a frase do Barão de Coubertain: "O importante é competir". Quero vencedores que joguem por amor a uma camisa.
Como o senhor se defende das críticas de que estaria ultrapassado?
Minha atividade será o apoio ao Giovani Gionédis e à diretoria. Vou contestar o trabalho da comissão técnica e passar algumas coisas para a diretoria. O técnico vai conversar com uma pessoa que jogou futebol, vê futebol e não ficou em casa. Eu sei o que rende em uma partida de futebol. Não vejo problema nenhum para o que vou exercer agora. Discuto futebol com qualquer pessoa e não me vejo afastado. Não tenho medo do futebol, o rádio me proporcionou isso. Conheço o Milan a Internazionale, estive na Federação Inglesa, acompanho a seleção brasileira desde 1975. Estive nas últimas Copas, sei do trabalho e da desenvoltura. Se eu tivesse saído do futebol e voltado depois de 30 anos, tudo bem. Mas não fiz isso. Não tenho nenhum receio a respeito de futebol.
Você é um ícone do Coritiba. Não teme virar vilão como Mário Sérgio e Hugo De León no Grêmio?
Só digo ao torcedor que estou indo pela torcida. Aquela manifestação de domingo, apesar do rebaixamento, toca a gente. Eu serei um (membro) da torcida na diretoria. Tudo o que eu fizer de errado fará a torcida sofrer. O Mário e o de León devem ter tido problemas na administração e não espero ter isso.
Você tem prestígio com a torcida, não teme ser usado por isso?
Se tivesse receio não saía da comunicação. Vai ter uma Copa do Mundo e eu estou deixando isso de lado. Não tenho nenhum receio do futebol desde que me dêem as condições para trabalhar. Sei que a Segunda Divisão será dura. Mas teremos a característica de jogar em casa e estrutura de jogar fora. Não tomaremos vareio tático e os outros vão correr atrás do nosso futebol. Não vamos apostar em coisas que não saberemos se vai dar certo. Talvez venham jogadores que a torcida mesma já conheça. Não há dinheiro para errar. Estou indo com a convicção de que vai dar certo. Se nos derem a condição que espero, pode até não ser um time brilhante tecnicamente, mas será muito competitivo.
O que foi feito de errado para o Coritiba cair?
O Giovani (Gionédis) fez um trabalho extraordinário. Se você olhar o que era o clube em 2002 e agora verá uma grande diferença. Tudo foi bem feito, mas teve problemas porque não tinham pessoas para contestar o técnico. Por isso o Hidalgo está chegando. Contestar de uma forma elegante, ninguém vai dizer para colocar o jogador de sua preferência. Agora, colocar o Pepo em uma final (decisão contra Atlético no Estadual 2005) depois de três, quatro meses sem jogar, nunca. O Rafinha, maior negociação do futebol do Paraná, que é lateral-direito para jogar de meia-esquerda, também não. Podem ter certeza que isso não vai acontecer novamente.
Com você um inexperiente como Lopes Jr. assumiria o time?
O Gionédis foi sincero e disse que errou. Tudo é questão do momento e não tinha ninguém para contestar. Acho que não deveria ter acontecido e tomará que a gente saiba que esses erros foram uma demonstração de fragilidade. E mesmo com tantos erros quase que se evitou a queda.
E o trabalho do Cuca?
O Cuca foi infeliz no Coritiba. É um técnico que muda muito. Parece o Mário Sérgio, que qualquer dia iria tirar um goleiro para pôr um ponta-esquerda. O Cuca estava fazendo isso. Dormia com um time e acordava com outro. Depois que o Márcio assumiu o time foi perfeito na consciência tática e o Coritiba não decaiu nem perdeu o brilho tático apesar das limitação do grupo.
Qual vai ser exatamente sua função na diretoria?
O presidente ficou exposto todo esse tempo e a idéia dele descentralizar. Foi inteligente de trazer o Almir (Zanchi), que participou da subida da equipe em 95. E o (Odivonsir) Frega, pela experiência e pelo conhecimento que tem do projeto para o Coritiba. Eles vão trabalhar no geral e a avaliação final passa também por mim, principalmente nas contratações. Vou acompanhar os treinamentos e conversar com a comissão técnica. Todos vão saber da sua função e nosso objetivo é fazer o time voltar para a Primeira Divisão.
Você chegou a ser proibido de entrar no Couto Pereira. Como está a relação com Gionédis agora?
Foi tudo pelo clube. Não quero dizer que eu estava certo. Aqueles que entenderam e aceitaram as críticas compreenderam que era sempre mostrando um caminho. Eu estava sentindo que o Lopes já não dava o que tinha que dar e que o Cuca tinha sido um engano. Da forma como o presidente é ele quis mostrar "aqui mando eu" e tomou essa atitude. Mas isso foi sanado quando ele teve humildade de reconhecer o erro e pedir desculpas. E por trás de tudo isso tem uma coisa maior: o Coritiba. Nós passamos, mas o clube fica. Feliz daquele que passa e deixa uma marca. Das temporadas dele a melhor será essa, mesmo na Segunda Divisão, porque o clube está sólido. Quis o destino que por um convite dele eu viesse a estar junto em um momento no qual o clube precisa de todos.
Como deve ser o perfil da equipe na Segundona? Mais raça do que técnica ou um grande time consegue subir?
Devemos ter uma mudança no regulamento com turno e returno, quatro subindo e quatro caindo. A Série B mudou muito, você vê as grandes arrecadações e os grandes públicos dos últimos jogos. O sentimento do torcedor aflora quando o clube está na parte de baixo. Os clubes precisam jogar até o fim do ano, não podem parar em setembro. O jogador que chega pode representar um sacrifício para a direção, mas será para jogar o ano todo. Não querermos atleta saindo no meio do ano. A torcida vai gostar. Será um time de Primeira na Segunda. A partir do momento que se vestir a camisa vão entrar em campo com compromisso com a torcida.
O time deste ano subiria?
Já tem uma boa base de garotos. São bons rapazes. De quatro anos para cá o Coritiba cresceu no setor de base e vai se reforçar ainda mais com esse departamento de futebol. Mas não acredito que esse time subiria.
Os medalhões (Capixaba, Jackson, Flávio, Nascimento, Marquinhos e Renaldo) devem ficar?
Vamos dizer com segurança nesta semana. Primeiro precisamos definir o técnico e sentar com ele para vermos dentro da avaliação financeira. Daí é claro que muitas mudanças vão acontecer. Teremos de proporcionar a vinda de outros porque a torcida quer ver gente diferente. Se ficarem os mesmos nomes, ela não acreditará.
E o Márcio Araújo ficará?
O Avaí estava mal na Série B e ele classificou entre os oito. Aqui ele também foi bem e não mereceu nenhuma crítica nesses jogos finais. Agora, a conversa é a seguinte: "Você quer ficar com a gente? Vamos juntos? Vamos ficar o ano todo?" Se garantir o andamento do trabalho nós bancamos o ano todo, mas não pode ficar com a cabeça ne Santos, Corinthians, que aí não vai me convencer. Precisamos da certeza que ele estará conosco.
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