Parentes e amigos despediram-se ontem do Feiticeiro Hélio Alves: legado de títulos e histórias no futebol paranaense| Foto: Albari Albari/Gazeta do Povo

A comunidade esportiva do estado se despediu ontem de João Hélio Alves. O Feiticeiro, apelido herdado por causa do "poder sobrenatural" que dizia ter para lidar com as coisas do futebol, morreu na tarde de domingo, aos 81 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos. O ex-supervisor de Atlético e Coritiba, entre outros clubes, foi cremado no meio da tarde.

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Debilitado por causa de uma série de doenças, Hélio Alves passou os últimas dias de vida deprimido. Não podia mais caminhar sozinho. Um acidente doméstico (fraturou o fêmur) tirou a mobilidade do velho dirigente. Precisava obrigatoriamente da ajuda de um andador, algo constrangedor para quem costumava desfilar pela Rua XV de Novembro atrás de um bom papo de bola. "Ele ficou chateado", revela Paulinho Alves, herdeiro "sem a magia" do cargo do pai – é supervisor de futebol do Coxa.

Mas não era devido apenas aos problemas médicos que Hélio andava bicudo com a vida. O atual estágio do futebol local o incomodava. Não conseguia entender como a dupla Atletiba permanecia na lanterna da Série A e o Paraná patinava na B. "Ele reclamava da correria que o jogo tinha se transformado. E sempre lembrava que na época dele o pessoal que atuava aqui tinha muita qualidade técnica", conta Paulinho.

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Para fechar o raciocínio, era comum listar a fileira de craques que jogaram sob sua batuta – Krüger, Cláudio, Zé Roberto, Aladim... "O Hélio nos deixou em vida, mas nunca sairá do nosso dia a dia. Do nosso coração", diz Dirceu Krüger, emendando uma história do folclore do ex-dirigente – na qual reforça a alcunha. "Certa vez, no vestiário, antes de um Atletiba, ele começou a acender umas pólvoras para dar sorte. Mas não sei o que aconteceu, ele se queimou. Nós, jogadores, sem saber direito como reagir, rimos. De imediato o Hélio soltou: ‘É sinal de sorte, vamos vencer’. Não deu outra", recordou o Flecha Loira durante o velório, ontem pela manhã.

A passagem contada por Krüger é a senha para que outros ídolos se incorporem à conversa. Todos com uma "magia" do Feiticeiro na ponta língua para contar. "O Hélio plantou um pé de arruda no gramado do vestiário, perto do túnel em que entravam os jogadores. Sempre que passava, pegava um galho e colocava na orelha. Era o amuleto dele", lembra Florival de Matos Mariano, o Marianinho, ex-cartola do Coritiba.

"E o sapo que ele teimou que tinham enterrado no meio de campo do Couto Pereira? Só sossegou quando levou a máquina para cavar um buraco no gramado – isso à meia-noite. Se encontrou o sapo eu não sei, mas que o time voltou a ganhar, voltou", diz Aladim.

"É por essa e por outras que o Hélio estará sempre conosco", repete o Flecha Loira.•••

Batismo no terreiro

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Na década de 70, o Feiticeiro teve muito trabalho tanto no futebol quanto nos terreiros para ajudar o Coritiba na conquista de diversos títulos. Dias antes do jogo decisivo do Torneio do Povo contra o Bahia, em Salvador, levou o time inteiro para uma sessão espiritual. Todos os titulares receberam batismo espiritual e ganharam nomes de entidades para dar mais força espiritual. Hélio Alves apresentou a relação: Jairo, Anjo Negro; Orlando, Mãe do Diabo; Oberdan, Tranca Rua; Cláudio, Ganguei; Nilo, Compare Anacleto; Dreyer, Lúcifer; Negreiros, Elzabete Pomba Gira; Bráulio, Tereza Pomba Gira; Zé Roberto, Veludo; Leocádio, Maragô; Aladim, Zé Pilintra.

Trecho do livro O Feiticeiro do Futebol – a Trajetória de Hélio Alves, do jornalista Carneiro Neto, colunista da Gazeta do Povo.

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