Países com uma média de idade de até 14,7 anos (Uganda) e uma expectativa de vida que dificilmente ultrapassa dos 40. Um continente com mais 25 milhões de pessoas portadoras do vírus HIV e com nações onde a proporção de aidéticos chega a um para cada quatro habitantes (a África do Sul). Isso sem contar o recente história de conflitos que deixou (e ainda deixa) um saldo de milhões de mortos a cada década.
No continente africano, o futebol não é apenas um objeto de lazer e diversão, mas um "remédio" para anestesiar o sofrimento de toda uma população. Algo como uma aspirina, que acaba momentaneamente com a dor de cabeça, mas nem de longe passa perto da causa dela.
Por isso, quando a penúltima rodada das Eliminatórias Africanas para a Copa de de 2006 começar, hoje à tarde, com a partida entre Líbia e Sudão, estarão em jogo muito mais do que apenas cinco vagas para a maior competição do futebol mundial, que será disputada na Alemanha.
"Para os africanos, o futebol tem um impacto muito forte na afirmação da personalidade nacional", explica Alberto da Costa e Silva, diplomata, historiador, poeta e membro da Academia Brasileira de Letras.
Embaixador na Nigéria na virada do anos 70 para os 80, Costa e Silva é considerado um dos maiores especialistas brasileiros da cultura do continente. Ele aprofunda o raciocínio. "A maioria dos países africanos conquistou a independência há pouco tempo, é jovem. São nações formadas por muitos povos, crenças e culturas diferentes que convivem no mesmo espaço e formam um estado. Nesse contexto, o futebol é um dos principais fatores para unificação de uma identidade comum", completa.
O exemplo prático vem da Angola, país que desde 1961 foi palco de cinco guerras consecutivas, com um saldo de mais de 2 milhões de mortos. De acordo com o secretário-geral da Federação Angolana de Futebol, Augusto Silva, mesmo no período de guerra, eram raros os problemas em estádios, principalmente nos jogos da seleção. "No campo de futebol a guerra nunca se fez sentir. Todos se juntavam nas arquibancadas, fossem amigos ou inimigos", conta.
Agora, o dirigente aposta na conquista da vaga à Copa do Mundo para a reconstrução mais rápida do país. "A euforia é grande. O futebol é a paixão do povo angolano. E se obtivermos uma vaga para o Mundial, acredito que teremos uma aceleração no crescimento do país".
Sobre tudo isso, o Brasil tem um pouco de culpa. A seleção brasileira é usada como exemplo em grande parte do continente desde os anos 70. "Quando eu morava na Nigéria, a maior audiência da tevê eram reprises de jogos do Brasil. O nosso futebol é um mito lá. Imagine o que foi na cabeça do povo quando a Nigéria ganhou da gente na Olimpíada de Atlanta (96)", conta Costa e Silva.
"Não somos muito diferentes do Brasil. O nosso estilo de jogo também é de muito toque, dribles e criatividade. E o povo tem a mesma alegria e gosta das mesmas músicas", complementa Silva, citando o samba.
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