Não é de hoje que a bola ganhou importância também nos tribunais. A novidade é o surgimento de um craque de terno e gravata (e barba desenhada, cabelo aparado, anéis e relógios dourados). Ele é o curitibano Domingos Moro, 52 anos, hoje o mais festejado jurista do esporte.
Ex-dirigente do Coritiba e advogado do Sesi por 16 anos, Moro encontrou no Direito Esportivo um campo para unir suas duas maiores paixões. E está aí parte da explicação para ter se tornado um craque de beca cobiçado por diversos clubes do Brasil Palmeiras e Vasco já tentaram contratá-lo , dono de uma carta com mais de 50 clientes.
Moro tem se notabilizado por ser o advogado das causas impossíveis. Só em 2011 obteve dois resultados absolutamente improváveis. Primeiro, livrou o Atlético o único clube para o qual trabalha fixamente da perda de mandos de jogo na reta final do Brasileiro.
A outra vitória foi mais estrondosa, ao defender o Rio Banco (uso de jogador irregular) no caso que envolveu o Paraná na disputa do Paranaense. O retorno do Tricolor para a elite do Estadual depois de ter sido rebaixado em campo era dado como certo, após o parecer favorável no tapetão regional.
Porém, houve o recurso no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Rio de Janeiro, e os auditores da corte apreciaram de forma oposta. Resultado: os parnanguaras permaneceram na Primeira, os paranistas ficaram na Segunda e Moro foi às lágrimas ao término da sessão reação que não é incomum. "Foram 291 dias de processo. Uma situação dificílima", afirma o advogado.
Triunfos sempre com a mesma marca: a entrega e o inusitado além da técnica, é claro. Moro já levou bomba, cadeira, pedra e bola de futebol ao tribunal. Recebeu o apelido de "O Ilusionista" e virou atração para os estudantes de Direito.
"Mas não é por vender ilusões. Trata-se de uma referência ao ilusionista do filme, que usava muito as mãos, recursos cênicos. Sempre gostei muito de oratória, falar em frente do espelho é um bom treinamento", explica.
A proximidade com as artes também estimula o estilo eloquente. Fã de teatro, cinema e novelista inveterado, ele atua como se estivesse naqueles filmes de júris americanos e funciona. "Tentei fazer teatro, mas meu pai proibiu", lembra.
A relação com os pais, aliás, explica muito a personalidade do advogado. Filho único, Moro perdeu o pai (Constante) muito jovem, em 1976, e teve de cuidar da mãe (Maria Augusta, falecida em 1990). Responsabilidade que o tornou perfeccionista e vaidoso. "Cuidei com muito carinho dos meus pais", diz.
Duas características facilmente percebidas. Não apenas na apresentação pessoal, sempre impecável, mas também no loft onde mora, próximo de Santa Felicidade. Lá tudo está meticulosamente no lugar. "Sou um arquiteto frustrado", revela.
Há ainda piscina, um minizoológico (onde, entre outros habitantes, está o passarinho Evangelino, uma homenagem ao eterno presidente do Coxa, falecido em 2008) e espaço de sobra para os oito cães da raça Scottish Terrier, todos devidamente tosados com seus respectivos "cavanhaques". "Os cachorros mudaram a minha vida", afirma.
Os animais são a única companhia do advogado. "Ou eu cuidava dos que me criaram, ou constituía a minha família. Não quis repetir algo que me incomodou muito, ter um pai de 46 anos, confundido como meu avô", conta.
Outra ferida, esta ainda aberta, é a relação recente com o Coritiba. Moro se dispôs a ajudar o clube do coração no episódio do rebaixamento em 2009. Não pôde. Depois ainda viu ser incluído um artigo no estatuto alviverde que impede de exercer função no clube alguém que preste serviço à entidade considerada adversária.
A mágoa maior, no entanto, remonta às denúncias feitas por Giovani Gionédis, ex-presidente do Coxa, na disputa das eleições no Couto Pereira, em 2007. Na oportunidade, Moro foi acusado de assediar sexualmente atletas do clube. "Eram coisas infundadas. O próprio autor as desmentiu", afirma.
E, sobre a suposta opção sexual, ele diz: "Sou muito bem resolvido. Se você tem sucesso na vida, das três uma: ou você é ladrão, ou você é corno, ou tem uma preferência sexual que não é socialmente recomendável. Não sou corno e nunca fui ladrão".
No bate-bola das preferências culturais, o torcedor alviverde se revela fiel ao seu estilo. Filme? "Um dia muito especial, com Marcello Mastroianni e Sophia Loren um surpreendente romance italiano de 1977. Cantores? "Como todo brasileiro, sou fã do Roberto Carlos. Também gosto do Freddie Mercury. Inclusive, fui ao primeiro Rock in Rio, em 1985 só para ver o Queen [banda do cantor inglês]."