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São Paulo (AE) – Não há mais fronteiras para o esporte. Se o Brasil exporta jogadores de futebol, vôlei e basquete, também importa conhecimento em modalidades olímpicas como beisebol, boxe, canoagem, ginástica, saltos ornamentais, levantamento do peso, tênis de mesa, tae kwon do, handebol, adestramento, esgrima e arco e flecha. São 24 os técnicos estrangeiros, apenas na lista do Comitê Olímpico Brasileiro nas seleções brasileiras. O cadastro só relaciona técnicos pagos com recursos do programa Solidariedade Olímpica ou da Lei Piva (2% dos prêmios das loterias). Não inclui as dezenas de estrangeiros atuando em clubes, federações ou academias.

A ginástica artística e sua equipe de seis ucranianos (os da lista do COB, mais Vladimir Cheiko) é o maior batalhão de estrangeiros no País na mesma modalidade. Os cubanos – nove na lista do COB – são os estrangeiros em maior número no Brasil, em vários esportes. "Não quisemos desmerecer os brasileiros, mas precisávamos de técnicos com experiência, do ex-bloco socialista da Europa, uma escola com tradição na ginástica, de planejamento e metodologia que tínhamos de aprender", explicou Eliane Martins, diretora da Confederação Brasileira de Ginástica, para justificar a escolha dos ucranianos para dirigir a equipe de Daiane dos Santos e Laís Souza.

Irina Ilyashenko, 45 anos, que trabalhou na seleção de ginástica da União Soviética, é doutora em treinamento de alto nível, formada em Moscou, foi a pioneira – chegou em 1999, introduziu uma nova metodologia e preparou a chegada de Oleg Ostapenko, expoente entre os técnicos do esporte. "Vim porque fui convidada", explica. Ajudou a desenvolver o planejamento, a criar a seleção permanente, a montar a infra-estrutura e a equipe de técnicos.

"O método é o da escola soviética, usado também na Ucrânia e nas seleções com os melhores resultados", afirma Irina, dizendo-se totalmente adaptada a Curitiba.

A estrutura da seleção permanente é boa, mas Oleg já alertou que o maior desenvolvimento da ginástica dependeria da criação de mais centros de treinamento, como o de Curitiba, em outros locais do país.

Salários maiores

O russo Alkhas Lakerbai, professor da Academia Paulista de Esgrima, no Brasil há dez anos, resume o que leva um técnico estrangeiro a adotar o Brasil. "Os salários pagos na Rússia são baixos, há muitos técnicos de alto nível, falta trabalho. E, no Brasil, há o desafio. O técnico trabalha e coloca seus atletas na Copa do Mundo, Mundiais e Olimpíadas".

Os técnicos do Leste Europeu e cubanos adotam outros países, em grande parte, pelos salários. Oleg tinha convite da Rússia para a temporada, mas o salário que iria ganhar no Brasil – US$ 5 mil, pagos pelo programa de Solidariedade Olímpica – era melhor. E aqui tinha uma equipe só sua. E o desafio de colocar as ginastas no pódio das competições internacionais.

Desafio

Mas o salário não é o principal atrativo para os técnicos espanhóis do handebol. Jordi Ribera, 42 anos, técnico da seleção masculina está há três semanas no Brasil – por enquanto morando num hotel, em São Bernardo do Campo (SP). "A confederação me convidou e achei o objetivo atraente, após 15 anos trabalhando na Espanha. O desafio é obter a classificação para o Mundial da Suíça. Na Europa, o salário poderia ser melhor, mas trabalho com isso há 15 anos e quis adotar um projeto diferente", explicou Jordi.

O presidente da Confederação Brasileira de Handebol, Manoel Luiz Oliveira, observou que embora tenha o domínio continental, tudo "muda de figura" quando o Brasil enfrenta a tradição do handebol europeu. "Os espanhóis têm hoje uma Escola Nacional de Treinadores, referência no mundo. Trabalham com planejamento estratégico". Quando fez o convite sabia que os espanhóis querem dirigir uma seleção e que isso é difícil num mercado com muitos técnicos. "Na Espanha, são muitos os treinadores e um só chega à seleção".

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