Maradona tenta levar Argentina à Copa do Mundo de 2010, mesmo sob a desconfiança da torcida| Foto: Enrique Marcarian / Reuters
Lugano tem a missão de parar o ataque da Argentina, que conta com Messi e Palermo
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É curioso como alguns jogos nem precisam começar para já virar uma página da história do futebol. Na prática, Uruguai e Argentina farão história nesta quarta-feira com qualquer placar. Seja qual for o resultado no estádio Centenário, a partir das 20h (de Brasília), a partida será eternizada. Pode até ser um 0 a 0 sem chances de gol. Pouco importa, porque a presença de dois gigantes em busca de vaga para a Copa do Mundo transcende a frieza do marcador.

Uruguai ou Argentina: um deles vai para o Mundial. O outro estará na repescagem ou, pior ainda, não viajará à África do Sul. Vale muito. Vale quatro anos de esperança de dois povos enlouquecidos pelo futebol.

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Uma enorme dose de dramaticidade envolveu uruguaios e argentinos já na rodada anterior. Ambos venceram por 2 a 1, ambos com um gol no último minuto. No Uruguai, a descrença virou esperança quando a equipe treinada pelo "Maestro" Tabárez conquistou uma inesperada vitória sobre o Equador em Quito. Na Argentina, a desconfiança só aumentou depois de a equipe de Diego Armando Maradona padecer para bater, em casa, o lanterna das eliminatórias. A Argentina tem situação matemática mais confortável. Ela entra na última rodada como dona da quarta vaga. Assim, estará na Copa se vencer o Uruguai. O empate também serve. Com a igualdade, os "hermanos" só não irão diretamente ao Mundial se o Equador fizer seis gols de diferença sobre o Chile no Equador. Quase impossível. Caso acontecesse o milagre, a Argentina, com o empate, iria para a repescagem, diante de Costa Rica ou Honduras. O problema para a turma de Maradona é uma derrota em Montevidéu. Aí restará torcer para que o Equador não vença o Chile e se contentar com a repescagem. Triunfo equatoriano e derrota argentina tiram o país bicampeão mundial da Copa.

O Uruguai, com vitória, vai para a África do Sul. Com empate ou derrota, terá a repescagem, e desde que o Equador não vença o Chile.

Deus contestado

Maradona, uma espécie de deus para os argentinos, é o centro da descrença que tomou conta do país com o péssimo rendimento da seleção. Existe a chance de ele deixar o cargo de treinador depois do jogo desta quarta-feira, com ou sem classificação. As críticas também são fortes a Lionel Messi, craque no Barcelona, mas que com a Argentina não tem o mesmo rendimento.

Desde a vitória sobre o Peru, a Argentina treinou com portões fechados em Ezeiza. A viagem a Montevidéu ficou para a noite de terça-feira, com o objetivo de apenas dormir na capital uruguaia e ir para o jogo. Para garantir classificação na Copa, o craque eterno dos "hermanos" promove mudanças na equipe da última rodada. Entram Otamendi, Demichelis e Verón, saem Insúa, Enzo Pérez e Aimar.

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Messi continua no time. E com moral. "Sempre vou esperar por ele. Ele é o melhor de todos", disse Maradona durante a semana. Palermo, herói da vitória sobre o Peru, fez Maradona chorar feito criança no momento em que marcou o gol da vitória no sábado. Mas não convenceu o chefe a escalá-lo. O maior goleador da história do Boca Juniors deve seguir no banco, com Higuaín ao lado de Messi no ataque.

A expectativa é de que 4 mil argentinos estejam no Centenário. Montevidéu está no aguardo dos visitantes, que devem pintar na cidade de carro, ônibus, avião e buquebus, uma espécie de barco que faz o trajeto entre os dois países vizinhos.

O jogo da década para os uruguaios

Montevidéu viveu uma semana diferente. Em meio ao clima político da disputa pela presidência do país, o futebol ganhou uma força que parecia esquecida depois da vitória sobre o Equador fora de casa. Nas ruas da capital do Uruguai, cresceu uma onda de confiança que fez com que os ingressos fossem consumidos como água pela população, mesmo com preços não muito atrativos. Pelas ruas da cidade, na conversa com taxistas, garçons, atendentes de hotel, um fato palpita: é o jogo da década para a celeste.

Oscar Tabárez, o técnico do Uruguai, chamado de "Maestro" no país, pede que toda a nação se una em favor do time. "Quero que todos os uruguaios joguem contra a Argentina. (...) É um clássico, e estas partidas são especiais, porque envolvem dois países que têm uma cultura futebolística que vem quase desde que nasceu o esporte. É por isso que temos que respeitar a Argentina", disse o treinador.

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Serão 60 mil pessoas nas arquibancadas do Centenário, lendário estádio criado para a Copa do Mundo de 1930. Curiosamente, o Uruguai bateu a Argentina na decisão do primeiro Mundial, naquele ano. O time celeste para o jogo desta quarta-feira deve ser o mesmo que bateu o Equador, com Lugano, ídolo do São Paulo, na zaga e "El Loco" Abreu, ex-Grêmio, no ataque.