Curitibano frio
Entre os brasileiros, os entrevistados de Curitiba e Belo Horizonte foram os que demonstraram maior apatia à associação entre pódios na Olimpíada e orgulho nacional, segundo a Market Analysis, empresa catarinense responsável pela coleta de dados no Brasil. Nas duas capitais, 40% dos entrevistados disseram não se importar nem um pouco com os pódios olímpicos para a construção do orgulho nacional. Curitiba soma um total de 54% de opiniões de que não há relação entre os dois fatores.
Na média nacional, 72% dos entrevistados de classe econômica A têm a mesma opinião dos curitibanos, enquanto as classes B, C e D seguem a média nacional (na casa dos 50%). Em contrapartida, as capitais nordestinas foram que mais relacionaram os dois fatos. Em Recife, por exemplo, 53% dos entrevistados afirmaram que a vitória aumenta muito o amor pelo país (contra 48% da média nacional).
A estridente vinheta "Brasiiiiiiillll" soada sempre que o país vence no esporte parece não ser tão certeira. Apesar da aparente euforia com triunfos de seus atletas, metade dos brasileiros diz que o desempenho olímpico não se reflete no seu orgulho patriótico.
Em uma pesquisa encomendada pela rede de comunicação britânica BBC, o Brasil ficou em segundo lugar entre os que menos se importam com o impacto do brilho das medalhas no amor pela terra natal. O estudo foi feito em 21 países.
Dos 806 brasileiros entrevistados em nove capitais, 50% afirmam que não há conexão entre orgulho da nação e o desempenho olímpico. A indiferença aos pódios só foi maior entre os alemães: 59% dos 1.003 entrevistados ignoram a relação entre medalhas e brio nacionalista.
Nem mesmo o fato de o Rio alojar a Olimpíada de 2016 tirou o Brasil do topo do ranking das nações da América Latina menos animadas com a parceria êxito esportivo e patriotismo. Resultado similar ocorreu no Reino Unido, que recebe a Olimpíada deste ano 50% dos entrevistados diz não relacionar orgulho e eficiência nos Jogos.
"Essa foi a opinião do público brasileiro? Surpreende... E muito. Pela receptividade que temos a cada conquista e cobrança na derrota, diria que o desempenho da nossa seleção teria maior impacto no país", diz Giba, ouro na em Atenas (2004) e prata em Pequim (2008) com o vôlei masculino.
Se por um lado o resultado da pesquisa frustra as expectativas dos atletas, acostumados a levar a bandeira nacional a cada pódio conquistado, por outro mostra um país com um perfil mais plural em relação aos fatores que lhe dão orgulho algo comparável ao pensamento dos países mais desenvolvidos.
"Não é de estranhar que Alemanha, França, EUA e Inglaterra não deem tanto valor às medalhas em sua rotina diária, embora, na hora da competição, queiram sempre o ouro. São países que desenvolveram outras atividades culturais que causam orgulho. No caso do Brasil, há o fator da cultura monoesportiva. Se a pergunta fosse como o desempenho na Copa do Mundo afeta seu orgulho nacional, as respostas afeta muito seriam bem mais [frequentes]", aponta a doutora em Sociologia do Esporte da Unicamp, Heloísa Reis.
Na lista de menos entusiasmados, Brasil, Alemanha e Inglaterra têm em comum o fato de serem potências do futebol. O finalista em cinco Jogos Olímpicos na natação, o paranaense Rogério Romero discorda da aparente apatia brasileira apontada pela pesquisa britânica. "Sinto que há uma comoção das pessoas a cada vitória, como o efeito Guga, que levou muitos a jogar tênis quando o Brasil tinha o número 1 do mundo", diz.
Quem dá mais importância aos êxitos no maior evento esportivo do mundo é o Quênia, onde nove entre dez pessoas afirmaram que o desempenho olímpico afeta o amor pelo país. Afinal, o país é internacionalmente reconhecido como especialista do atletismo, o esporte nacional e modalidade base da Olimpíada.
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