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Homenagem feita nessa sexta-feira aos 10 jovens que faleceram no incêndio. | CARL DE SOUZA/AFP
Homenagem feita nessa sexta-feira aos 10 jovens que faleceram no incêndio.| Foto: CARL DE SOUZA/AFP

Assim que conseguiu sair do centro de treinamento George Helal, do Flamengo, conhecido como Ninho do Urubu, o garoto Felipe Cardoso, 15, ligou chorando para o pai, Alex Cardoso.

Assustado, disse quase sem fôlego que o CT estava em chamas. Incêndio que começou em seu quarto no alojamento do clube carioca.

“Ele me disse que estava na cama e sentiu um cheiro forte de fumaça no quarto dele. Quando viu o fogo, só conseguiu acordar dois amigos que estavam mais próximos e saíram correndo, gritando”, afirma Alex à reportagem.

Contratado pelo Flamengo no mês passado, Felipe Cardoso foi um dos garotos que conseguiram escapar sem ferimentos sérios do incêndio. Segundo Alex, ele sofreu apenas um arranhão no braço.

O garoto disse ao pai que havia outros garotos no mesmo quarto, mas que eles não acordaram. “Ele está muito abalado pela perda dos amigos. Graças a Deus, conseguiu sair”, completa.

Felipe estava na categoria de base do Santos até 2018, quando deixou o sub-15 do clube. Patrocinado pela Nike e já com empresário, foi imediatamente levado ao Flamengo.

Entre os três feridos levados a hospitais da região, quem preocupa os médicos é Jhonata Ventura. Ele está internado no hospital municipal Pedro 2º em estado grave. Teve 30% do corpo queimado.

Kauan Emanuel e Francisco Dyogo, também jogadores da base que se feriram no incêndio, estão em condições estáveis e conscientes.

Não há confirmação de quantos garotos estavam no alojamento no momento do incêndio, além dos dez mortos e três hospitalizados.

“Foi coisa de Deus estar vivo. Acordei por volta das 5h com uma fumaça forte no quarto, saí para saber o que estava acontecendo e vi muita fumaça e fogo”, disse Samuel, que é zagueiro das categorias de base do clube e mora no Rio de Janeiro há seis anos.

De acordo com o jovem jogador, o incêndio atingiu um contêiner com oito quartos e o seu era o segundo.

“O clima é de muita tristeza, ninguém acredita, é um pesadelo”, disse o atleta.

Para acalmar os familiares que moram em Teresina (PI), Samuel gravou um vídeo após o incêndio para dizer a todos que estava bem.

Na gravação, ele relata os momentos de sofrimento.

“A maioria dos atletas está bem. Alguns não conseguiram porque a intensidade de fogo era muita. Aconteceu que o ar-condicionado pegou fogo, daí foi gerando um curto-circuito em todos os ar-condicionados, pegando tudo. Foi muito rápido, muito rápido. Não deu pra conseguir chamar quase ninguém”, disse o zagueiro.

Felipe Cardoso, Samuel e os outros sobreviventes foram levados a um hotel na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), onde à tarde começaram a chegar os familiares das vítimas.

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Os jogadores receberam apoio psicológico e foram acompanhados por assistentes sociais.

“Eu estou aguardando um posicionamento do Flamengo para saber o que fazer. Ele está muito assustado e abalado com o que aconteceu. Todo mundo ali tinha o mesmo objetivo e ele viu a possibilidade de o sonho acabar desse jeito”, conclui Alex Cardoso, o pai de Felipe.

Outros jovens postaram nas redes sociais vídeos para tranquilizar familiares e amigos.

“Só quero avisar que estou bem e vai dar tudo certo. Todo mundo aqui está bem”, disse Kayke, também das categorias de base do Flamengo.

A programação do clube era que os garotos fossem levados ao Maracanã na tarde desta sexta-feira para participar de um teste de árbitro de vídeo antes da semifinal da Taça Guanabara. A partida seria neste sábado (9), contra o Fluminense. Foi adiada para quarta-feira (13).

“Eu saí e começou a pegar fogo. O Felipão começou a gritar ‘está pegando fogo’. Eu levantei porque estava muito forte. Explodiu... Aquela fumaça. Gritei Bolívia, Bolívia [apelido de Rykelmo, uma das vítimas]. Eu corri lá para fora. Eu espero que o Bolívia esteja bem”, gravou um áudio entre lágrimas o jogador Samuel Barbosa, 16. Em alguns momentos, o som era ininteligível por causa do choro descontrolado.

“O menino não tem condições de falar. Só chora. Só chora. Ele acordou, chamou outro amigo e saiu correndo”, afirmou Washington Barbosa, pai de Samuel.

Weverton de Souza Santos, 16, da equipe sub-17 do Flamengo, postou em seu perfil no Twitter um vídeo em que se diverte ao lado de outros jovens do clube em um dos quartos do alojamento.

“Vejam como era nossa alegria no alojamento”, escreveu em sua postagem.

Nas imagens, os meninos pulam, se abraçam e cantam o hino do Flamengo. É possível ver que cada quarto tinha três beliches de dois lugares. Poderiam ficar seis atletas.

Os dirigentes do Flamengo evitaram dar informações. O presidente Rodolfo Landim afirmou ser a maior tragédia da história do clube. Horas depois, ele conversou com Marco Aurélio Vieira, secretário especial de Esporte.

Vieira evitou discutir as causas do incêndio e disse que é preciso fazer investigação.

“Muitas vezes o próprio profissionalismo tem algumas adaptações, algumas improvisações. Então o futebol, o esporte brasileiro tem de deixar de improvisar”, disse.

“Esta é uma tragédia não só para o futebol, mas para o esporte nacional. Mancha nossa imagem”, completou.

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