Histórico
A infiltração feita em Kaká teria sido para tratar sua lesão e não para mascará-la, fazendo o jogador apenas suportar a dor, como ocorreu nos casos abaixo algo bastante comum no futebol.
Ronaldo
O excesso de infiltrações é uma das suspeitas para o problema do atacante Ronaldo (foto 2) antes da final da Copa da França, em 98. Desde o início do torneio ele teria sido submetido a oito intervenções desse tipo no joelho direito.
Garrincha
O joelho do jogador começou a piorar em 1963. Interessado na bilheteria, o Botafogo não o operou e o ponta começou a jogar com infiltrações. A tática lhe trouxe sérias complicações físicas.
Reinaldo
Até 1976, antes de seus 20 anos, o centroavante do Atlético-MG jogava à base de infiltrações. Uma vez disse: "Eu tomava infiltrações no joelho com agulhas que mediam 20 centímetros. Depois que o doutor retirava a agulha do meu joelho eu podia ver pedaços de cartilagem junto a ela".
Luizão
O jogador já havia sido campeão do mundo em 2002 quando teve uma fratura que só foi descoberta meses depois. Ele atuava no Flamengo e, enquanto a lesão não foi descoberta, jogou com infiltração para superar a dor.
A dor é o primeiro sintoma. Mas a lesão e sua gravidade só ficará explícita se o incômodo for relatado. De acordo com médicos e atletas, uma parte dos casos em que os esportistas atuam com problemas físicos se encaixa nesta hipótese de o jogador não revelar, ou não dar importância ao fato.
No entanto, outra situação põe o debate na mesa: o comum acordo. É quando o problema existe, porém o momento é importante, e o atleta, em conjunto com a comissão técnica, assume o risco.
A discussão sobre em que condições um jogador, mesmo machucado, deve atuar voltou à tona há duas semana. Foi logo após Kaká operar o joelho esquerdo por uma contusão que teria se agravado na Copa do Mundo. O assunto ainda ganhou novos contornos na sexta-feira, quando o meia afirmou que também sofreu infiltrações. Foi quando Runco, o médico que o acompanhava no torneio da Fifa, retrucou: esse teria sido o pacote aceito pelo meia para atuar na Copa.
"Se você sentisse uma dorzinha antes de jogar a Copa do Mundo, iria falar?", pergunta o diretor médico do Atlético, Edílson Thiele. Ele acompanhou Kaká em todo o período de preparação do Brasil em Curitiba, e garante nunca ter ouvido o jogador reclamar de dores no joelho o que não significa que elas inexistiam.
Jogar "meia-boca" jargão esportivo é comum a todos os profissionais. Dificilmente um atleta não atua dolorido, seja por fadiga muscular, uma pancada em determinado local, ou um mau jeito nas costas, por exemplo. O caso de Kaká, contudo, parece se enquadrar na segunda parte: ele e a comissão técnica assumiram os riscos. O futebol está cheio de casos assim, com motivações de maior ou menor potencial ético.
Uma história ilustrativa sobre o assunto é a do lateral-esquerdo Adriano, ex-Coritiba, hoje no Barcelona. No Atletiba que definiu o campeão paranaense de 2004, por exemplo, o jogador estava com uma contratura muscular na coxa direita. Foi liberado sabendo que só conseguiria atuar um tempo. Durou menos que isso em campo: 35 minutos. Tempo suficiente para ser o principal jogador da partida, dando passe para dois gols o segundo, em uma arrancada que o tirou definitivamente da decisão. "Não é o fato de o jogador aceitar. Ele queria", conta o médico Willian Youssef.
Foi uma decisão semelhante à do camisa 10 da seleção, com a diferença de que, na teoria, o apoiador não sabia de seu problema no joelho. Ele chegou com uma lesão pubiana, e só no meio da Copa começou a reclamar das dores no local. Novamente, há duas possibilidades. O problema no púbis pode ter ocasionado a lesão no joelho. Ou, simplesmente, Kaká sentia dores, mas as considerou normal.
"É possível a lesão pubiana causar uma lesão no joelho, mas isso nunca foi comprovado", afirma Mohty Domit Filho, diretor médico do Paraná. "Pode acontecer, mas não tão grave como o que foi falado", completa Thiele.
Embora as opiniões sejam muitas sobre oassunto, a principal delas, normalmente, é a do jogador.
"Se eu estivesse na situação do Kaká, jogaria pois é uma Copa do Mundo. Mesmo ele não estando em seu melhor, ajudou bastante o Brasil. Só acho que ele não sabia realmente o que estava acontecendo. Jogar com dor é normal desde que não atrapalhe muito. Às vezes temos dor, e não parece nada", conta o meia Dinélson, hoje no Avaí, se recuperando de uma nova cirurgia no joelho. Ele serve como personagem perfeito para o tema. Já lesionou um joelho depois de operar o outro. Já sofreu infiltrações para o tratamento (o que considera normal). Além disso, por muitas vezes, escolheu jogar a ficar em recuperação.
"Tudo depende de sua confiança. Na Libertadores pelo Paraná [em 2007] eu estava com o tornozelo lesionado e mesmo assim jogava, com uma botinha. Doía, mas eu estava me sentindo bem."
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