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Kaká, logo após a cirurgia no joelho direito, jogou com dores na África do Sul | Eric Vidal/Reuters
Kaká, logo após a cirurgia no joelho direito, jogou com dores na África do Sul| Foto: Eric Vidal/Reuters

Histórico

A infiltração feita em Kaká teria sido para tratar sua lesão e não para mascará-la, fazendo o jogador apenas suportar a dor, como ocorreu nos casos abaixo – algo bastante comum no futebol.

Ronaldo

O excesso de infiltra­­ções é uma das sus­­peitas para o pro­­ble­­ma do ata­­cante Ronaldo (foto 2) antes da final da Copa da Fran­­ça, em 98. Desde o início do tor­­neio ele teria sido subme­­tido a oito in­­tervenções desse tipo no joelho direito.

Garrincha

O joelho do jogador começou a piorar em 1963. Interes­­sado na bilheteria, o Botafogo não o operou e o ponta começou a jogar com infiltrações. A tática lhe trouxe sérias complicações físicas.

Reinaldo

Até 1976, antes de seus 20 anos, o centroa­­van­­te do Atlético-MG jo­­gava à base de infiltra­­ções. Uma vez disse: "Eu tomava infiltra­­ções no joelho com agulhas que mediam 20 centíme­­tros. Depois que o dou­­tor retirava a agulha do meu joelho eu podia ver pedaços de cartilagem junto a ela".

Luizão

O jogador já havia sido campeão do mundo em 2002 quando teve uma fratura que só foi descoberta meses depois. Ele atuava no Fla­­mengo e, enquanto a lesão não foi descoberta, jogou com infiltração para superar a dor.

A dor é o primeiro sintoma. Mas a lesão – e sua gravidade – só ficará explícita se o incômodo for relatado. De acordo com médicos e atletas, uma parte dos casos em que os esportistas atuam com pro­­blemas físicos se encaixa nesta hipótese – de o jogador não revelar, ou não dar importância ao fato.

No entanto, outra situação põe o debate na mesa: o comum acordo. É quando o problema exis­­te, porém o momento é im­­portante, e o atleta, em conjunto com a comissão técnica, assume o risco.

A discussão sobre em que con­­dições um jogador, mesmo machucado, deve atuar voltou à tona há duas semana. Foi logo após Kaká operar o joelho es­­querdo por uma contusão que teria se agravado na Copa do Mundo. O assunto ainda ganhou novos contornos na sexta-feira, quando o meia afirmou que também sofreu infiltrações. Foi quando Runco, o médico que o acompanhava no torneio da Fifa, retrucou: esse teria sido o pacote aceito pelo meia para atuar na Copa.

"Se você sentisse uma dorzinha antes de jogar a Copa do Mundo, iria falar?", pergunta o diretor médico do Atlético, Edíl­­son Thiele. Ele acompanhou Ka­­ká em todo o período de preparação do Brasil em Curitiba, e ga­­rante nunca ter ouvido o jogador reclamar de dores no joelho – o que não significa que elas inexistiam.

Jogar "meia-boca" – jargão esportivo – é comum a todos os profissionais. Dificilmente um atleta não atua dolorido, seja por fadiga muscular, uma pancada em determinado local, ou um mau jeito nas costas, por exemplo. O caso de Kaká, contudo, parece se enquadrar na segunda parte: ele e a comissão técnica assumiram os riscos. O futebol está cheio de casos assim, com motivações de maior ou menor potencial ético.

Uma história ilustrativa sobre o assunto é a do lateral-esquerdo Adriano, ex-Coritiba, hoje no Bar­­celona. No Atletiba que definiu o campeão paranaense de 2004, por exemplo, o jogador es­­tava com uma contratura muscular na coxa direita. Foi liberado sabendo que só conseguiria atuar um tempo. Durou menos que isso em campo: 35 minutos. Tem­­po suficiente para ser o principal jogador da partida, dando passe para dois gols – o segundo, em uma arrancada que o tirou definitivamente da decisão. "Não é o fato de o jogador aceitar. Ele queria", conta o médico Willian Yous­­sef.

Foi uma decisão semelhante à do camisa 10 da seleção, com a diferença de que, na teoria, o apoiador não sabia de seu problema no joelho. Ele chegou com uma lesão pubiana, e só no meio da Copa começou a reclamar das dores no local. Novamente, há duas possibilidades. O problema no púbis pode ter ocasionado a lesão no joelho. Ou, simplesmente, Kaká sentia dores, mas as considerou normal.

"É possível a lesão pubiana causar uma lesão no joelho, mas isso nunca foi comprovado", afirma Mohty Domit Filho, diretor médico do Paraná. "Pode acontecer, mas não tão grave como o que foi falado", completa Thiele.

Embora as opiniões sejam mui­­tas sobre oassunto, a principal delas, normalmente, é a do jogador.

"Se eu estivesse na situação do Kaká, jogaria pois é uma Copa do Mundo. Mesmo ele não estando em seu melhor, ajudou bastante o Brasil. Só acho que ele não sabia realmente o que estava acontecendo. Jogar com dor é normal desde que não atrapalhe muito. Às vezes temos dor, e não parece nada", conta o meia Dinélson, ho­­je no Avaí, se recuperando de uma nova cirurgia no joelho. Ele serve como personagem perfeito para o tema. Já lesionou um joelho depois de operar o outro. Já sofreu infiltrações para o tratamento (o que considera normal). Além disso, por muitas vezes, es­­colheu jogar a ficar em recuperação.

"Tudo depende de sua confiança. Na Libertadores pelo Para­­ná [em 2007] eu estava com o tornozelo lesionado e mesmo assim jogava, com uma botinha. Doía, mas eu estava me sentindo bem."

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