Gravações telefônicas feitas durante uma operação da Polícia Federal para investigar lavagem de dinheiro em clubes de futebol começam a ser divulgadas. Em um dos áudios, o iraniano Kia Joorabchian, representante do fundo de investimentos MSI, chega a falar com o intermediário da parceria com o Corinthians, Renato Duprat, sobre o fim da "situação de lavagem de dinheiro".
A relação entre a MSI e o Corinthians está na mira da polícia, da Justiça, do Ministério Público e do Congresso Nacional. A parceria será discutida nesta quinta-feira (13) na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados. O presidente afastado do clube, Alberto Dualib, foi convocado para depor.
As gravações mostram que em junho deste ano o iraniano já havia falado sobre um possível rompimento oficial da parceria com o time paulista. Do outro lado da linha, estava Renato Duprat:
Kia: Primeiro: termina essa situação de lavagem de dinheiro agora.
Duprat: Ok.
Kia: Segundo: tira Carlos Alberto, Mattos, Ratinho, William, Lulinha, mais um...
Duprat: Dentinho
Kia: Dentinho, Kadu, Zelão, Éverton. Acabou.
Kia: Faz uma parceria muito rápido com Ituano, hein?
Duprat: Perfeito.
Kia: Coloca tudo isso lá e acabou "o" co-administração, né?
A operação que conseguiu as gravações recebeu o nome de Perestroika, em referência à antiga União Soviética. Foi de lá, ou dos cofres do bilionário russo Boris Berezowski, que saiu o dinheiro que financiou o time do Corinthians. As investigações mostram que os valores chegavam por meio da MSI. No ano passado, a relação entre a MSI e o Corinthians estremeceu. Kia foi embora e levou os craques do time.
Nas gravações, Dualib conversa com Duprat sobre a possibilidade de o Corinthians se associar a outro investidor estrangeiro, o israelense Pinny Zahavy:
Dualib: Ele tendo um jogador que ele quer projetar...
Duprat: Tá.
Dualib: A gente, o Corinthians, põe a disposição também porque é muito importante ter um clube no Brasil também.
Duprat: Claro.
Dualib: E pode comprar jogador -- desde que esteja de acordo com o técnico -- e colocar aqui pra trabalhar e a gente, quando você vender, dar uma porcentagem pra gente.
Duprat: Claro. Exatamente isso.
A atual diretoria do Ituano afirmou que assumiu o clube depois de junho, data das gravações exibidas na reportagem, mas que não há registros de visitas de representantes da MSI ao clube. O advogado de Renato Duprat disse que o cliente apenas apresentou Kia ao Corinthians e não sabia como o dinheiro chegava ao clube.
O presidente do Conselho de Orientação do Corinthians, Antônio Roque Citadini, disse que a parceria com a MSI foi a "pior mancha que o clube teve na história". Ele também falou que não conhece período mais difícil na história do Corinthians.
Em entrevista à rádio CBN na manhã desta quarta-feira (12), Alberto Dualib classificou a divulgação das escutas como "muito desagradável". "Neste negócio de grampo, 95% do que se fala não acontece e não serve de prova. Falar no telefone todo mundo fala e diz coisa que não se deve falar."
Investigação
Oito pessoas, entre diretores do Corinthians e representantes da MSI são réus em um processo na Justiça Federal, em São Paulo. Eles são acusados de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Berezowski e Kia estão, inclusive, com a prisão preventiva decretada no exterior.
A direção do Corinthians também é investigada pelo Ministério Público de São Paulo. No último dia 12, policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) apreenderam papéis e computadores com registros contábeis do clube, na investigação de superfaturamento, emissão de notas frias e falsa prestação de serviços envolvendo a gestão do Corinthians entre os anos de 2000 e 2005.
Os promotores calculam que as transações irregulares tenham provocado prejuízo de mais de R$ 500 mil. Os principais suspeitos de desvio de dinheiro são o presidente Alberto Dualib, o vice Nesi Curi - que pediram afastamento do clube -, e Kia Joorabchian, que deixou o país e atualmente reside na Inglaterra. O MP investiga há nove meses a relação entre o Corinthians e uma empresa suspeita de vender notas fiscais frias ao clube.
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